A adição de acetato de abiraterona (Zytiga®) mais prednisona ao tratamento hormonal prolonga a sobrevida e atrasa pela mediana de 18 meses a progressão do câncer de próstata em homens recém-diagnosticados com doença metastática de alto risco. É o que mostram os resultados do estudo LATITUDE, apresentado na ASCO em sessão plenária no domingo, 4 de junho (LBA3)1. Para Karim Fizazi (foto), chefe do Departamento de Oncologia do Gustave Roussy e primeiro autor do estudo, o tratamento do câncer de próstata avançado evoluiu para abordagens mais eficazes, primeiro com quimioterapia e agora com abiraterona.
No estudo LATITUDE, randomizado, de fase III, que avaliou 1199 homens recém-diagnosticados com câncer de próstata metastático de alto risco, o uso de abiraterona diminuiu em 38% o risco de morte e mais do que dobrou o tempo para progressão da doença, de 14,8 meses para 33 meses.
"Há uma grande necessidade não satisfeita de melhorar o tratamento para homens com diagnóstico recente de câncer de próstata metastático, que morrem da doença menos de cinco anos após o diagnóstico", disse Fizazi."O benefício do uso precoce de abiraterona que vimos neste estudo é pelo menos comparável ao benefício da quimioterapia com docetaxel, mas abiraterona é muito mais fácil de tolerar”, comparou.
Sobre o Estudo
LATITUDE é um estudo clínico multicêntrico, internacional, de fase III, que randomizou 1199 pacientes com diagnóstico recente de câncer de próstata de alto risco (≤ 3 meses antes da randomização), sem tratamento prévio, para receber ADT mais abiraterona + prednisona (N= 597) ou ADT mais placebo (N=602). Os pacientes selecionados tinham bom performance status (ECOG PS 0-2) e pelo menos dois de três fatores de risco: escore de Gleason ≥ 8; presença de 3 ou mais metástases ósseas ou 3 ou mais metástases viscerais mensuráveis.
O endpoint primário foi sobrevida global (OS) e sobrevida livre de progressão radiográfica (rPFS).
Principais conclusões
A primeira análise foi realizada após um seguimento médio de 30,4 meses e mostrou que os pacientes que receberam abiraterona apresentaram um risco de morte 38% menor do que aqueles que receberam placebo. A mediana de sobrevida global foi de 34,7 meses no grupo placebo e ainda não havia sido atingida no grupo abiraterona (significando que mais de 50% dos pacientes desse grupo ainda estavam vivos no momento da análise, portanto, não foi possível calcular a mediana da sobrevida). O uso de abiraterona também foi associado com um risco 53% menor de progressão, adiando por uma mediana de 18,2 meses a evolução da doença (veja quadro).
Por decisão unânime, o comitê independente responsável pela monitoração dos dados (Independent Data Monitoring Committee – IDMC) determinou que todos os pacientes do braço controle cruzassem para o braço de intervenção para receber abiraterona.
Em relação ao perfil de segurança, vários efeitos colaterais graves foram mais presentes com acetato de abiraterona e prednisona do que com placebo (20% vs 10%). Os eventos adversos de grau 3-4 mais presentes incluíram hipertensão (20,3 vs 10,0); hipocalemia (10,4% vs 1,3%) e anormalidades de enzimas hepáticas, com elevação de ALT (5,5% vs. 1,3%) ou AST (4,4 vs 1,5).
"Precisamos ser cautelosos ao usar abiraterona em homens que têm risco aumentado de problemas cardíacos, assim como naqueles com diabetes", observou Fizazi.
Em conclusão, todos os endpoints apoiam a intervenção precoce com abiraterona em pacientes com câncer de próstata de alto risco recém-diagnosticados. "Nós estávamos tratando o câncer de próstata metastático da mesma maneira por 70 anos, até que a quimioterapia com docetaxel mostrou ganho de sobrevida em 2015. Agora, em 2017, mostramos que abiraterona também está ajudando os pacientes a viver mais tempo", acrescentou."O próximo passo é ver se a adição de abiraterona a docetaxel oferece mais benefícios", sinalizou Fizazi.
Ouça o comentário de Fernando Maluf sobre os resultados:
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O estudo LATITUDE foi financiado pela Janssen Research and Development.
ADT+ AA+P (n=597) | ADT+ PBOs (n=602 | HR (95% CI) | p value | |
(Median, mos) | ||||
Co-primary end points | ||||
OS | NR | 34.7 | 0.62 (0.51-0.76) | < 0.0001 |
rPFS | 33.0 | 14.8 | 0.47 (0.39-0.55) | |
Scondary end points | ||||
Time to: | ||||
Pain Progression | NR | 16.6 | 0.70 (0.58-0.83) | < 0.0001 |
PSA Progression | 33.2 | 7.4 | 0.30 (0.26-0.35) | |
Symptomatic Skeletal-related event | NR | NR | 0.70 (0.54-0.92) | 0.0086 |
Chemotherapy | NR | 38.9 | 0.44 (0.35-0.56) | < 0.0001 |
Susequent PC Therapy | NR | 21.6 | 0.42 (0.35-0.50) | |
NR, not reached |
Referência: Abstract LBA3: LATITUDE: A phase III, double-blind, randomized trial of androgen deprivation therapy with abiraterone acetate plus prednisone or placebos in newly diagnosed high-risk metastatic hormone-naive prostate cancer. - Karim Fizazi et al - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr LBA3)
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