Evidências mostram benefícios de prolongar a terapia adjuvante com inibidores de aromatase (IA) após o tratamento inicial com tamoxifeno em pacientes pós-menopáusicas com câncer de mama receptor hormonal positivo. No entanto, a duração ótima da terapia estendida com IA é desconhecida, assim como não está claro se os pacientes tratados com IA nos primeiros 5 anos se beneficiam de terapia adjuvante prolongada, como acontece com pacientes após tamoxifeno. O estudo ABCSG-16, apresentado em San Antonio, buscou respostas a essas questões.
De fevereiro de 2004 a junho de 2010, o estudo inscreveu 3468 mulheres na pós-menopausa com câncer de mama receptor hormonal positivo, randomizadas em 71 centros na Áustria para receber 2 ou 5 anos de anastrozol adicional (1 mg por dia) como terapia adjuvante estendida, após os primeiros 5 anos de terapia endócrina.
Foram consideradas elegíveis pacientes livres de recorrência aos 60 meses da terapia adjuvante inicial com tamoxifeno (Tam) ou inibidor de aromatase (IA), menores de 80 anos de idade. Os fatores de estratificação foram o estadiamento tumoral, status nodal, terapia endócrina inicial, tipo de quimioterapia adjuvante recebida e status de receptores hormonais. O principal endpoint do estudo foi sobrevida livre de doença (SLD). Endpoints secundários incluíram sobrevida global, fraturas, câncer de mama contralateral e toxicidade.
Resultados
Aos 105,9 meses, cerca de 14 anos após o diagnóstico, a idade média das pacientes selecionadas era de 64 anos, 2.507 (72%) tinham tumores menores que 2 cm, 2301 (66%) não apresentavam comprometimento linfonodal e 674 (19%) tinham tumores de alto grau, 2683 (77%) com receptor hormonal positivo, sendo 2764 (80%) tratadas com cirurgia conservadora. Antes da randomização, 1000 (29%) pacientes foram submetidas à quimioterapia (neo) adjuvante, 1774 (51%) receberam 5 anos de tamoxifeno, enquanto 1688 (49%) foram tratadas com outros regimes contendo IA nos primeiros cinco anos.
Em 30 de junho de 2016, 757 eventos de SLD foram registrados, 377 (22%) no grupo de 2 anos e 380 (22%) no grupo de 5 anos. Não houve diferença significativa na sobrevida livre de doença (HR 0,997, IC 95% 0,86-1,15, log rank p = 0,982), sobrevida global, tempo para carcinoma secundário e tempo para câncer de mama contralateral. Com relação à adesão à droga, aos 2 anos 81,2% dos pacientes no braço de 2 anos permaneciam em tratamento e 80,1% dos pacientes no braço de 5 anos. Aos 5 anos, 65,6% dos pacientes no braço de 5 anos ainda estavam no medicamento atribuído.
As fraturas ósseas foram mais freqüentes no braço de 5 anos (ou seja, entre 3 e 5 anos após a randomização: 6% vs 4%, HR = 1,405, 95% CI1,03-1,91, p = 0,029).
O estudo mostra que após 5 anos de terapia endócrina adjuvante (tamoxifeno ou IA ou sequência), 2 anos adicionais de anastrozol são suficientes como terapia adjuvante estendida. Inversamente, prolonger para 5 anos adicionais não produziu benefício clínico, mas adicionou toxicidade.
O estudo foi financiado pela AstraZeneca.
Referência: Title: A prospective randomized multi-center phase-Ill trial of additional 2 versus additional 5 years of anastrozole after initial 5 years of adjuvant endocrine therapy- results from 3,484 postmenopausal women in the ABCSG-16 trial - Gnant M, Steger G, Greil R, Fitzal F, Mlineritsch B, Manfreda D, Tausch C, Balic M, Dubsky P, Moik M, Thaler J, Egle D, Bjelic-Radisic V, Selim U, Exner R, Singer C, Melbinger-Zeinitzer E, Haslbauer F, Steger H, Helfgott R, Sevelda P, Trapl H, Wette V, Solkner Land Jakesz R.