Os estudos em oncologia gastrointestinal que concentraram as atenções na ASCO 2018 são tema de análise de Heber Salvador de Castro Ribeiro (foto), cirurgião oncológico do A.C.Camargo Cancer Center e secretário geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Entre os destaques, o especialista aponta como practice-changing o estudo PRODIGE-24, que demonstrou que mFOLFIRINOX é mais eficaz que gencitabina como tratamento adjuvante no câncer de pâncreas inicial, com ganho de 20 meses de sobrevida comparado ao padrão de tratamento.
Os estudos de mais destaque na oncologia gastrointestinal apresentados nesta edição da ASCO tiveram relação com o tratamento do adenocarcinoma pancreático e foram apresentados em sessões orais. O primeiro, o PREOPANC-1, é um estudo holandês, randomizado, de tratamento neoadjuvante com quimioterapia e radioterapia com gemcitabina versus cirurgia upfront, ambos os braços recebendo gemcitabina adjuvante.
Foram incluídos pacientes com tumores borderline e ressecáveis, sem, no entanto, esclarecer os resultados para cada um destes subgrupos. Tomados juntos, os pacientes que efetivamente receberam o tratamento cirúrgico tiveram um benefício significativo em termos de sobrevida global (42 x 16 meses), mas esta significância se perde na análise por intenção de tratamento, provavelmente porque os dados não estão maduros para esta análise. Chama a atenção também um significativo aumento da taxa de ressecção R0 (30 versus 60%) e o benefício em termos de sobrevida livre de progressão (9.9 versus 7.9 meses).
O estudo em câncer de pâncreas que se revelou um practice-changing abstract foi o estudo PRODIGE-24. Neste estudo, pacientes com adenocarcinoma de pâncreas operados, com ressecção R0 e R1, eram randomizados em até 12 semanas após a cirurgia para receberem gencitabina em monoterapia versus mFolfirinox por seis meses. A toxicidade, especialmente gastrointestinal, foi maior no grupo que recebeu tratamento combinado, mas foi considerada tolerável.
Os resultados foram animadores frente ao cenário atual de tratamento desta doença: 54 meses de sobrevida global mediana foram atingidos no grupo de estudo, mesmo comparando com 35 meses do grupo que recebeu gemcitabina isolada. Isto torna este esquema de tratamento o novo standard de tratamento adjuvante para pacientes que mantém boa performance após a ressecção de adenocarcinoma de pâncreas.
Câncer colorretal
Em relação ao câncer colorretal, mais especificamente ao emprego da quimioterapia intraperitonial hipertérmica, houve dois estudos que questionaram esta opção terapêutica em pacientes com alto risco de recorrência peritoneal, e mesmo naqueles com carcinomatose já estabelecida.
O primeiro trabalho foi um pôster apresentado no domingo, 03 de junho, chamado Prophylochip, que randomizou pacientes com tumores colorretais tratados e considerados de alto risco de recorrência peritoneal para, após seis meses de tratamento sistêmico, entrarem em seguimento ou serem submetidos à laparotomia exploradora com HIPEC com oxaliplatina, incluindo citorredução nos casos em que fosse detectada a recorrência peritoneal. Os pacientes considerados de alto risco incluíram os que tinham carcinomatose de pequena monta que fora ressecada na cirurgia do primário, tumores perfurados e aqueles com metástases ovarianas.
No grupo de second-look, 52% dos pacientes apresentavam recorrência peritoneal no momento do segundo procedimento, com um PCI médio de 4. Estes pacientes receberam a citorredução planejada, e mesmo os que não tinham carcinomatose macroscópica, receberam HIPEC com oxaliplatina. Quando comparados com os pacientes que foram apenas seguidos, não houve diferenças de resultados de sobrevida livre de recorrência ou sobrevida global em ambos os grupos, embora alguns pacientes do braço de observação também tenham recebido CCR + HIPEC quando tiveram sua recorrência peritoneal detectada.
Apesar de negativo, o estudo traz algumas importantes conclusões para o manejo destes pacientes, especialmente o fato de ser este um grupo de alto risco de recorrência peritoneal, e que o tratamento sistêmico exclusivo também não parece ser suficiente para impedir sua ocorrência.
Finalmente, na sessão oral de tumores gastrointestinais colorretal, o estudo PRODIGE 7, prospectivo e randomizado, investigou o papel da oxaliplatina intraperitonial após cirurgia citorredutora (CCR) em pacientes com carcinomatose por câncer colorretal. O braço controle do estudo também recebeu a cirurgia citorredutora, e ambos receberam quimioterapia sistêmica de primeira linha em regimes perioperatórios ou adjuvantes. Não houve qualquer diferença em termos de sobrevida global e de SLD em ambos os grupos.
Chama a atenção o excelente resultado de 41 meses de sobrevida mediana para ambos os grupos, comparados historicamente com cerca de 16 meses de sobrevida mediana com tratamento sistêmico exclusivo, apontando aí para um provável efeito da cirurgia citorredutora em si. São aguardados dados mais maduros do subgrupo com PCI entre 11-15 e a análise de quais esquemas de tratamento sistêmico cada grupo recebeu, pois isto poderia influenciar no resultado esperado da oxaliplatina intraoperatória.