Onconews - Quimiorradioterapia pré-operatória no câncer de pâncreas

Renata DAlpino 2018 NET OKPacientes com câncer de pâncreas inicial tratados com quimiorradioterapia antes da cirurgia tiveram melhor sobrevida livre de doença que pacientes que receberam apenas cirurgia, atual padrão de tratamento, com benefícios também na sobrevida em 2 anos (42% vs 30%). É o que apontam dados preliminares de estudo randomizado de Fase III apresentado na ASCO, dia 4 de junho (LBA 4002). A oncologista Renata D’Alpino (foto), coordenadora de Tumores Gastrointestinais e Neuroendócrinos do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e diretora científica do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), analisa os resultados.

 

O estudo (PREOPANC-1) selecionou pacientes com câncer pancreático ressecável para receber cirurgia imediata (Braço A) ou quimiorradioterapia pré-operatória (Braço B), seguidos de quimioterapia adjuvante. O endpoint primário foi sobrevida global. Endpoints secundários consideraram taxa de ressecção R0, sobrevida livre de doença (SLD), intervalo livre de metástases à distância (ILMD), intervalo livre de recorrência locorregional (ILRL) e toxicidade.

Entre abril de 2013 e julho de 2017, 246 pacientes foram incluídos na análise por intenção de tratar, 127 no Braço A e 119 no Braço B. A mediana de sobrevida global foi de 13,5 meses com cirurgia versus 17,1 meses com quimiorradioterapia pré-operatória (HR 0.71; p = 0.047). A quimiorradioterapia pré-operatória também foi superior nos demais endpoints avaliados, como taxa de ressecção R0 (31% vs 65%; p = < 0.001), SLD (7.9 vs. 11.2 meses; HR 0.67; p = 0.010), ILMD (10.2 vs 17.1 months; HR 0.63; p = 0.012) e ILRL (11.8 vs não alcançado; HR 0.47; p < 0.001).

Em dois anos, o impacto na sobrevida também foi maior com o tratamento pré-operatório do que com a cirurgia (42% vs. 30%). No subgrupo de pacientes com ressecção R0, o benefício de sobrevida foi ainda maior: 42,1 meses com tratamento pré-operatório versus 16,8 meses com cirurgia imediata.

Os autores apontam que não foram observadas diferenças em eventos adversos grau ≥ 3 entre os dois braços de tratamento. “Nossa análise preliminar mostra que a quimiorradioterapia pré-operatória melhorou significativamente os resultados de pacientes com câncer de pâncreas ressecável”, concluem.

Para a oncologista Renata D’Alpino, o estudo é interessante por mostrar que mesmo nos pacientes já ressecáveis ou naqueles com doença borderline, a quimiorradioterapia neoadjuvante é válida, aumentado a SLD, SG e taxas de ressecção R0. “No entanto, a maioria dos serviços que é adepta da neoadjuvância utiliza quimioterapia exclusiva inicialmente com FOLFIRINOX, apesar da ausência de dados randomizados de fase III neste cenário. Portanto, não acredito que o estudo mudará a prática clínica no momento”, avalia.

Informações do estudo clínico (NTR3709).

Referências: J Clin Oncol 36, 2018 (suppl; abstr LBA4002) - Preoperative chemoradiotherapy versus immediate surgery for resectable and borderline resectable pancreatic cancer (PREOPANC-1: A randomized, controlled, multicenter phase III trial.