Uma análise de 1.800 locais de rastreamento de câncer de pulmão nos Estados Unidos mostrou que apenas 1,9% dos mais de 7 milhões de fumantes e ex-fumantes foram examinados para câncer de pulmão em 2016, apesar das recomendações da United States Preventive Services Task Force (USPSTF) e da ASCO. O estudo, a primeira avaliação das taxas de rastreamento do câncer de pulmão desde a publicação das recomendações em 2013, será apresentado dia 1º de junho, sexta-feira, no Congresso Anual da ASCO, em Chicago.
O câncer de pulmão é a principal causa de mortalidade relacionada ao câncer nos Estados Unidos. Desde 2013, a United States Preventive Services Task Force (USPSTF) recomenda a triagem anual para o câncer de pulmão com tomografia computadorizada de baixa dose (LDCT) para fumantes com idade entre 55-80 anos que fumaram pelo menos 30 maços/ano ou cessaram o tabagismo nos últimos 15 anos. Em 2012, a ASCO e o American College of Chest Physicians publicaram uma diretriz conjunta com essas mesmas recomendações.
Segundo o autor do estudo, Danh Pham, médico oncologista do Centro de Câncer James Graham Brown da Universidade de Louisville, em Kentucky, não está claro se o déficit de rastreamento é devido ao baixo encaminhamento do provedor ou às barreiras psicológicas do paciente devido ao medo do diagnóstico. “O câncer de pulmão é único, pois pode haver um estigma associado à triagem, já que alguns fumantes acham que o câncer é a confirmação de uma escolha ruim de estilo de vida”, avaliou.
Sobre o estudo
Os pesquisadores coletaram dados do 2016 American College of Radiology’s Lung Cancer Screening Registry em pessoas que receberam tomografia computadorizada de baixa dose em cerca de 1.800 locais de triagem credenciados. Esses dados foram comparados com as estimativas do National Health Interview Survey de 2015 sobre os fumantes elegíveis que poderiam ser rastreados com base nas recomendações da USPSTF.
A análise dos dados foi baseada em quatro regiões do censo americano no país: nordeste, sul, centro-oeste e oeste. A taxa de rastreio foi calculada dividindo o número de rastreios de LDCT pelo número de fumadores elegíveis para rastreio por recomendações do USPSTF.
Resultados
Em todo o país, um total de 1.796 centros de triagem credenciados poderia ter rastreado 7.612.965 elegíveis fumantes atuais e ex-fumantes pesados, mas apenas 141.260 pessoas receberam triagem LDCT (a taxa de triagem nacional foi de 1,9%). Em comparação, cerca de 65% das mulheres com 40 anos ou mais fizeram uma mamografia em 2015.
Os autores descobriram que a região sul apresenta o maior número de locais de triagem credenciados (663), bem como o maior número de fumantes elegíveis para triagem (3.072.095). No entanto, a taxa de rastreio no sul foi de apenas 1,6%, a segunda mais baixa do país. A região oeste teve a taxa de rastreamento mais baixa (1%) e o menor número de locais de rastreio acreditados (232). A maior taxa de rastreamento foi no nordeste (3,5%), e o centro-oeste teve a segunda maior taxa (1,9%).
Aproximadamente 85% dos fumantes atuais selecionados foram oferecidos recursos de cessação do tabagismo, o que foi documentado pelos prestadores antes do encaminhamento de triagem.
Os autores concluíram que a triagem anual de LDCT permanece inadequada de acordo com as recomendações da USPSTF, apesar do tempo desde a implementação e do potencial para prevenir milhares de mortes por câncer de pulmão a cada ano. “Ainda não está claro por que a taxa de rastreamento do câncer de pulmão é drasticamente menor do que outras modalidades de rastreamento do câncer, como mamografia e colonoscopia”, observaram.
Para o presidente da ASCO, Bruce E. Johnson, o estudo traz um forte argumento sobre a necessidade de uma campanha pública eficaz de incentivo ao rastreamento do câncer de pulmão. “Na década de 1990, diversas campanhas incentivaram as mulheres a fazer mamografias, salvando muitas vidas nos anos subsequentes. Precisamos de algo semelhante para encorajar fumantes atuais e ex-fumantes a serem examinados para câncer de pulmão”, enfatizou.
O estudo recebeu financiamento da Fundação Bristol-Myers Squibb.
Referência: Abstract 6504: Lung Cancer Screening Registry Data Reveals Very Low Screening Rate - Danh Pham et al