Onconews - Radioterapia em câncer de mama e pâncreas

Robson Ferrigno NET OK 2O radio-oncologista Robson Ferrigno (foto), médico responsável pelos Serviços de Radioterapia dos Hospitais BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo - e BP Mirante, analisa estudos apresentados na ASCO 2018 que avaliaram o papel da radioterapia no câncer de mama estádios I a III e no câncer de pâncreas operável ou no limite de possibilidade de ressecção.

 

Na sessão de câncer de mama foi apresentada a atualização dos resultados em 15 anos do estudo EORTC 22922-10925. O trabalho randomizou 4004 mulheres com câncer de mama estádios I a III, cujos critérios de inclusão foram tumores de quadrantes internos com axila negativa ou de quadrantes externos com axila positiva. O grupo controle recebeu radioterapia apenas na mama operada ou plastrão nos casos de mastectomia, e o grupo controle teve a adição de radioterapia nas drenagens da fossa supraclavicular e da mamária interna homolaterais. O objetivo primário foi sobrevida global e os secundários sobrevida livre de doença e sobrevida livre de metástase à distância.

Com seguimento mediano de 15,7 anos, o estudo foi negativo tanto para o objetivo primário quanto para os secundários. Não houve qualquer benefício na sobrevida global (p=0,358), sobrevida livre de doença (p<0,05) e sobrevida livre de metástase à distância (p=0,178) com a adição da radioterapia das drenagens linfáticas. Além disso, a recorrência na região de mamária interna foi 1,8% e 3,1% em 15 anos entre as pacientes que receberam ou não radioterapia nessa região, respectivamente.

A mortalidade câncer específica em 15 anos foi maior no grupo que não recebeu radioterapia das drenagens (19,8% Vs 16%; p=0,024). Os próprios autores reconhecem que ainda não há uma explicação clara para o motivo dessa diferença.

O estudo merece algumas considerações. O recrutamento foi iniciado em 1992, uma era de tratamentos sistêmicos menos efetivos. Ainda não havia incorporação de taxanos (que diminui a recaída loco-regional, segundo o estudo de quimioterapia neoadjuvante NSABP B28), a hormonioterapia ainda não contava com inibidores de aromatase e as pacientes ainda não eram estratificadas pelo perfil molecular, como por exemplo, a análise de HER-2 para terapia alvo. Outro ponto importante é que o estudo não teve um braço com radioterapia da mama + fossa supraclavicular, prática mais usual para pacientes com axila positiva.

Portanto, não se sabe se o pouco benefício que houve na mortalidade câncer específica se deveu ao emprego da radioterapia na região da mamária interna, da fossa supraclavicular ou de ambas.

Após 15 anos de seguimento, pode-se dizer que o estudo é negativo e não representa uma mudança de prática. Ainda não está claro qual grupo de pacientes pode se beneficiar da inclusão da região da mamária interna no volume de radioterapia adjuvante. Essa identificação poderá ser realizada no futuro através de estratificação das pacientes de acordo com o perfil molecular e genético. Até lá, cada paciente deve ser avaliada individualmente quanto à estratégia de se estender o volume de radiação.

Na sessão de tumores gastrointestinais, vale destacar um estudo randomizado e multicêntrico para câncer de pâncreas operável ou no limite de possibilidade de ressecção. Foram randomizados 246 pacientes entre cirurgia e combinação de rádio e quimioterapia pré-operatória. A radioterapia foi realizada com dose de 36 Gy em 15 frações de 2,4 Gy associada à quimioterapia com gencitabina com dose de 1g/m2 nos dias 1,8 e 15.

A sobrevida global mediana foi significativamente maior no grupo de pacientes que recebeu tratamento pré-operatório (17,1 meses Vs 13,5 meses; p=0,047), bem como a probabilidade de ressecção R0 (65% Vs 31%; p<0,001), e a sobrevida livre de doença (11,2 meses Vs 7,9 meses; p=0,010). Não houve diferença de toxicidade entre os dois grupos.

Esse estudo fortalece a ideia de alguns grupos que já adotam o tratamento neoadjuvante para câncer de pâncreas mesmo nos pacientes com tumores ressecáveis. Mesmo assim, os resultados embora melhores com essa estratégia, ainda são muito ruins. Há necessidade de drogas mais efetivas para esse tipo de câncer.