Estudo observacional de mundo real com participação de 13 países comprovou a eficácia do afatinibe para o tratamento de câncer de pulmão metastático com mutações de EGFR, e mostrou que reduções de dose garantem menos efeitos colaterais, sem comprometer a eficácia. Os dados são do RealGIDO, aceito em publicação eletrônica na ASCO 2018. “Estes dados consolidam o afatinibe, atualmente incluído no ROL da ANS, como uma das principais opções no tratamento de primeira linha do câncer de pulmão EGFR-mutado, e suportam a prática dos oncologistas que iniciam o tratamento na dose de 30mg/dia para pacientes frágeis”, avalia o oncologista Diogo Bugano, médico do Hospital Israelita Albert Einstein.
Nos estudos pivotais de afatinibe (LuxLung 3, 6 e 7), a droga se mostrou superior à quimioterapia e ao tratamento com inibidores de EGFR de 1a geraçao, mas esteve associada a maior incidência de efeitos adversos ligados ao EGFR, com 50% dos pacientes necessitando de redução de dose de 40mg para 30mg. Para avaliar o impacto da modificação da dose na eficácia e segurança de afatinibe em um contexto do mundo real, o estudo utilizou registros médicos de pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) EGFR mutados (Del19 / L858R) tratados com afatinibe em primeira linha, com foco naqueles que iniciaram o tratamento com a dose reduzida de 30mg/dia. Os endpoints primários foram incidência e gravidade de reações adversas, tempo em tratamento e tempo até progressão (time-to-progression – TTP).
Resultados
228 pacientes de 13 países foram incluídos nesta análise, com características de base compatíveis com a população do estudo Lux Lung3, mas com maior proporção de pacientes com Del19 (78% vs 49%) e com 12% apresentando ECOG 2-3. Cerca de 30% iniciaram o tratamento com dose inferior a 40mg, principalmente devido a baixo performance. Entre os pacientes recebendo 40mg/dia, 67% necessitaram de alguma redução de dose, sendo que 86% destas foram nos primeiros 6 meses. As reduções foram mais frequentes em mulheres, idosos, pacientes do leste asiático e naqueles com baixo peso corporal.
A incidência global de reações adversas foi semelhante entre os que iniciaram tratamento com 30 mg e os que receberam dose inicial de 40 mg, mas com uma redução de importante de eventos graus 3 (17% vs 25%), e nenhum evento grau 4. Estes números são favoráveis quando comparados aos dados originais do LuxLung 3, em que 49% apresentaram eventos grau 3. Os autores reportam que mais de 60% dos pacientes receberam tratamento para diarreia e controle de eventos dermatológicos.
Ao final do seguimento, 51% dos pacientes ainda estavam em tratamento. A principal razão para descontinuação foi progressão de doença, em 33% dos casos. O tempo médio em tratamento foi de 18.7 meses e o tempo até progressão (TTP) de 20.8 meses. Não houve diferença estatística entre pacientes que iniciaram na dose de 30mg (TTP de 17.7 meses) e de 40mg (20 meses).
“Tal como nos ensaios LuxLung, os ajustes posológicos de afatinibe no mundo real reduziram a frequência e a intensidade de reações adversas, sem impacto na eficácia. O tempo de tratamento e o tempo para progressão da doença também foram semelhantes, independentemente do ajuste da dose ou da dose inicial reduzida, confirmando a eficácia deste regime com um perfil de segurança aceitável”, concluem os autores.
Informação de estudo clínico: NCT02751879
Referência: Real-world dose adjustment study of first-line afatinib in pts with EGFR mutationpositive (EGFRm+) advanced NSCLC.