Onconews - Expansão da oferta de terapias-alvo para o câncer avançado nos Estados Unidos

alvo 2018Aproximadamente 1 em cada 4 pacientes com câncer avançado tratados nos centros da Comprehensive Cancer Care Network (NCCN) nos Estados Unidos estão recebendo medicamentos direcionados a mutações do DNA tumoral. Os resultados do estudo1 que será apresentado na ESMO 2018, em Munique, mostram que a medicina de precisão, antes restrita a unidades de câncer altamente especializadas, está se expandindo para outras unidades de saúde, permitindo que mais pacientes possam se beneficiar do tratamento personalizado.

 

"Nós mostramos que podemos realizar o perfil tumoral em larga escala e usar os resultados para oferecer aos pacientes aos tratamentos direcionados nos centros onde a maioria dos pacientes é tratada nos Estados Unidos", disse Ricardo H. Alvarez, médico oncologista do Cancer Treatment Centers of America, em Atlanta.

"Em nossos hospitais, podemos identificar pacientes com câncer avançado, refratários ao tratamento anterior, fazer biópsias líquidas ou de tecido e enviar a um laboratório central para análise, com resultados em três semanas. Se as amostras apresentarem alterações no DNA tumoral que podem ser tratadas com uma terapia-alvo específica, iniciamos o tratamento com um medicamento aprovado para uso contra um tipo diferente de tumor, ou por meio de registro em um ensaio clínico", acrescentou.

Métodos e resultados

Os dados do DNA tumoral foram analisados ​​a partir de 6.177 pacientes com câncer avançado tratados por mais de 50 oncologistas em cinco hospitais do Cancer Treatment Centers of America entre 2013 a 2017. A idade mediana foi de 56 anos (variação de 18 a 94), 61% dos pacientes eram do sexo feminino e 68% eram caucasianos. Os tipos de tumores mais comuns foram mama (18%), colorretal (15%), pulmão (14%), ginecológico (11%) e desconhecida (10%). Foram utilizadas três plataformas genômicas, FoundationOne (315 genes, 89% dos testes), FoundationOne-Heme (405 genes, 6%) e FoundationAct (62 genes, 5%).

Alterações do DNA foram identificadas em 94% (5839/6496) das amostras tumorais, das quais 47% foram consideradas clinicamente relevantes. As alterações genômicas clinicamente relevantes mais frequentes foram nos genes KRAS (23%) e PIK3CA (15%), sendo a amplificação gênica a alteração mais comum (32%).

A análise de um grande subconjunto de pacientes mostrou que 23% (1169/4490) receberam tratamento compatível com as alterações do DNA em seus tumores. Isso se compara com 11% dos pacientes que estão sendo incluídos em ensaios clínicos de tratamento direcionado com base em alterações no DNA tumoral em estudos previamente relatados em centros acadêmicos.2,3

Dos pacientes cujas alterações no DNA foram compatíveis com terapias-alvo, 57% (662/1169) receberam terapias já aprovadas pela FDA para um tipo diferente de tumor, e 15% (178/1169) receberam tratamentos em ensaios clínicos.

"Nos próximos anos, esperamos que até 50% dos nossos pacientes recebam tratamento compatível através de ensaios clínicos ou tratamento off-label com medicamentos aprovados", disse Alvarez. "A medicina de precisão está mudando a forma como tratamos nossos pacientes também em centros comunitários, e nosso próximo passo é analisar os efeitos do tratamento-alvo na sobrevida e na qualidade de vida", acrescentou.

“Estudos como este estão construindo a evidência que precisamos para implementar a medicina de precisão dentro da comunidade de oncologia e oferecê-la mais amplamente aos nossos pacientes", disse Joaquin Mateo, principal autor do artigo recentemente publicado sobre a ESMO Scale of Clinical Actionability Target (ESCAT)2, escala que busca simplificar e padronizar as escolhas para terapias-alvo contra o câncer.

Mateo aguarda com expectativa informações mais detalhadas sobre como o perfil do tumor determina as decisões de tratamento, bem como o custo de analisar amostras de DNA de um grande número de pacientes. "A acessibilidade da medicina de precisão é uma questão importante e precisaremos enfrentar o desafio de garantir o uso eficiente dos recursos”, afirmou.

O especialista avalia que alguma variabilidade na correspondência entre o tratamento-alvo e as alterações no DNA tumoral entre diferentes estudos pode ser devido à falta de critérios padronizados para determinar a correspondência (match) e às diferenças na disponibilidade de terapias-alvo. "Precisamos ter certeza de que as correspondências e o relato dos dados genômicos e sua interpretação são robustos em todos os centros de tratamento, sejam eles no hospital ou na comunidade. Isso fará com que as terapias-alvo baseadas nessas alterações de DNA tenham mais chances de beneficiar nossos pacientes".

Ele espera pela implementação completa do ESCAT, escala que classifica as classes de alterações no DNA tumoral de acordo com sua relevância como marcadores para a seleção de pacientes para tratamento direcionado, baseado na força da evidência clínica que os suporta.4 "Esperamos que o ESCAT forneça uma linguagem comum para determinar as mutações relevantes e identificar os pacientes com maior probabilidade de se beneficiarem de tratamento direcionado", concluiu ele.

Referências:

1 Abstract 1891O_PR 'Mutational Landscape of Metastatic Cancers Discovered from Prospective Clinical Sequencing at Community Practice Cancer Program' will be presented by Ricardo Alvarez during Proffered Paper Session on Saturday, 20 October 2018, 11:00 to 12:30 (CEST) in Room 21 - Hall B3. Annals of Oncology, Volume 29 Supplement 8 October 2018

2 Meric-Bernstam F, Brusco L, Shaw K et al. Feasibility of Large-Scale Genomic Testing to Facilitate Enrollment Onto Genomically Matched Clinical Trials. J Clin Oncol. 2015 Sep 1;33(25):2753-62.

3 Zehir A, Benayed R, Shah RH et al. Mutational landscape of metastatic cancer revealed from prospective clinical sequencing of 10,000 patients. Nat Med. 2017 Jun;23(6):703-713. Erratum in: Nat Med. 2017 Aug 4;23 (8):1004.

4 Mateo J, Chakravarty D, Dienstmann R et al. A framework to rank genomic alterations as targets for cancer precision medicine: The ESMO Scale for Clinical Actionability of molecular Targets (ESCAT). Annals of Oncology 2018; https://doi.org/10.1093/annonc/mdy263