Os dados do ensaio NRG (NSABP B-39 / RTOG 0413) apresentados no San Antonio Breast Cancer Symposium indicam que as taxas de risco de recorrência do câncer de mama ipsilateral 10 anos após o tratamento são discretamente maiores em mulheres submetidas à irradiação parcial acelerada da mama (PBI, da sigla em inglês) após lumpectomia, em comparação com aquelas tratadas com irradiação de toda a mama (WBI, da sigla em inglês). Os resultados foram apresentados por Frank Vicini (foto), diretor do Instituto de Radioterapia em Pontiac, Michigan, e um dos autores do estudo.
O principal endpoint deste estudo foi determinar se o tratamento com PBI acelerado é equivalente ao WBI no controle de recidiva do câncer de mama ipsilateral em mulheres que desejam cirurgia conservadora da mama. Endpoints secundários incluíram intervalo livre de recorrência (ILR), sobrevida livre de doença (SLD), intervalo livre de doença à distância (ILDD) e sobrevida global (SG). O tempo médio de acompanhamento foi de 10,2 anos.
O estudo inscreveu 4.216 pacientes com câncer de mama submetidas à lumpectomia, com zero a 3 linfonodos axilares, para receber WBI ou PBI. Dessa população, 25% tinham carcinoma ductal in situ (CDIS), 65% doença estadio clínico I, 10% estadio II; 81% tinham tumor receptor hormonal e 61% das mulheres estavam na pós-menopausa.
O tratamento com WBI foi definido como irradiação diária com 2 Gy até totalizar 50 Gy, com aumento sequencial do sítio cirúrgico; o tratamento com PBI foi definido como irradiação duas vezes ao dia com doses de 3,4 a 3,85 Gy, totalizando 10 aplicações por feixes de braquiterapia.
Resultados
Dos 4.216 pacientes com câncer de mama, 2.109 receberam WBI e 2.107 foram tratadas com irradiação parcial acelerada (PBI).
A recorrência na mama ipsilateral como primeiro evento foi observada em 161 mulheres. Dessas pacientes, 90 haviam recebido PBI e 71 foram tratadas com WBI. Enquanto o risco de recorrência não foi estatisticamente diferente entre os dois tratamentos, a taxa de risco não atendeu aos critérios estatísticos para determinar a equivalência entre as duas estratégias de radioterapia.
A proporção de doentes sem recorrência do tumor na mama ipsilateral 10 anos após o tratamento foi de 95,2% entre mulheres que receberam PBI e 95,9 % entre aquelas tratadas com WBI. A diferença em 10 anos no intervalo livre de recorrência entre os dois braços de tratamento foi estatisticamente significativa (91,9% para pacientes tratadas com PBI versus 93,4% para pacientes tratadas com WBI).
“Apesar das pequenas diferenças no intervalo livre de recorrência na mama ipsilateral (<1%) e no intervalo livre de recorrência (1,5%) entre os dois braços de tratamento aos 10 anos, não podemos declarar que WBI e PBI são equivalentes no controle local da recorrência do tumor local na mama, porque a taxa de risco entre os braços ficou aquém na equivalência estatística”, explicou Frank Vicini, diretor do Instituto de Radioterapia em Pontiac, Michigan, um dos autores do estudo. “Por outro lado, também não podemos afirmar que PBI é inferior”, acrescentou. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os dois braços de tratamento no ILDD, SLD ou SG.
Análises adicionais estão em andamento para determinar se coortes específicas podem ter vantagens no controle regional entre os dois braços de tratamento, esclareceu o pesquisador.
Em relação ao perfil de segurança, a toxicidade de grau 3 foi discretamente maior em pacientes que receberam PBI em comparação com pacientes que receberam WBI (9,6% e 7,1%, respectivamente). Da mesma forma, a toxicidade de grau 4-5 foi ligeiramente superior em pacientes que receberam PBI em comparação com aqueles que receberam WBI (0,5% e 0,3%, respectivamente).
“É importante que pacientes e sistemas de saúde tenham informações sobre o tratamento de conservação da mama e opções capazes de melhorar o acesso aos cuidados para combater o overtreatment, reduzir os custos com a saúde e melhorar a qualidade de vida", concluiu Vicini.