Maria de Fátima Dias Gauí (foto), professora de Oncologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e médica do Americas Oncologia, esteve à frente do módulo de oncologia mamária e discutiu evidências e controvérsias no tratamento do câncer de mama com metástase cerebral.
Metástases cerebrais ocorrem em 10 a 30% de neoplasias avançadas, principalmente de pulmão, mama, rim e melanoma. Entre os pacientes com câncer de mama, a maior incidência é nos subtipos HER2+ e Triplo negativo. Cerca de 50% das pacientes HER2+ desenvolverão metástase cerebral no curso da doença.
O tratamento das metástases cerebrais em câncer de mama metastático envolve geralmente cirurgia e radioterapia. O tratamento sistêmico não é usual, diante da dificuldade de ultrapassar a barreira hemato-cefálica. Entretanto, em pacientes com excelente prognóstico (HER2+), recentemente diagnosticadas, assintomáticas e que podem ser acompanhadas de perto, a toxicidade da radioterapia pode ser evitada utilizando quimioterápicos e terapia-alvo molecular. A terapia sistêmica é também empregada em pacientes previamente tratadas com radioterapia ou em pacientes assintomáticas das lesões cerebrais, mas com doença sistêmica grave. Não existe nenhum tratamento sistêmico aprovado por agências reguladoras devido a baixa evidência. As drogas mais comumente utilizadas são cisplatina, capecitabina e inibidores de microtúbulos, porém apresentam baixa taxa de resposta e curta duração. Inibidores da PARP e taxanos “turbinados” têm sido objeto de estudos prospectivos.
Maior evidência de benefício é para pacientes HER2 positivas, utilizando inibidores de TKI. Estudo Fase II com lapatinibe e capacitabina, sem radioterapia mostrou redução de lesões cerebrais. Outros inibidores de TKI tem sido testados, como neratinibe e tucatinibe. O uso de anticorpos monoclonais na população HER2 aumentou a sobrevida global, sendo recomendado mesmo caso não haja progressão de doença sistêmica.
Meningite carcinomatosa (MC) é o envolvimento difuso das leptomeninges por células malignas. Incide em 4 a 15% das pacientes com tumores sólidos, sendo o câncer de mama o principal responsável (12 a 34% dos casos).
Estudos indicam que a RNM cerebral consegue detectar MC em pacientes ainda com citologias do líquor negativo. A sobrevida média em pacientes sem tratamento com diagnóstico de MC é de quatro a seis semanas. A combinação de radioterapia focal e/ou quimioterapia, por via intratecal, constitui a terapia padrão da MC, apesar de não existirem estudos randomizados e prospectivos que comprovem sua eficácia.