O oncologista Tiago Biachi de Castria (foto), médico do ICESP e do Hospital Sírio-Libanês, é primeiro autor de estudo aceito para publicação eletrônica na ASCO 2019, que avaliou o impacto da quimioterapia adjuvante/perioperatória e da quimiorradioterapia adjuvante nos resultados clínicos, de acordo com o perfil dos subtipos moleculares.
Os quatro subtipos de adenocarcinoma gástrico identificados pelo projeto Atlas do Genoma do Câncer (TCGA) têm diferentes prognósticos e assinaturas moleculares. Vários centros tentaram classificar o câncer gástrico usando imunohistoquímica (IHC) e hibridização in situ (ISH), examinando os tumores de acordo com o status do vírus Epstein-Barr (EBV), instabilidade de microssatélites (MSI), expressão aberrante de E-caderina e TP53. Neste estudo brasileiro apresentado na 55ª ASCO, o objetivo foi avaliar o impacto da quimioterapia adjuvante / perioperatória ou da quimiorradioterapia adjuvante nos desfechos clínicos, de acordo com o perfil dos subtipos moleculares.
Foram revisados retrospectivamente todos os pacientes com câncer gástrico que se submeteram à gastrectomia e linfadenectomia D2 no ICESP, a partir de um banco de dados prospectivo. A deficiência de reparo de DNA (dMMR), E-caderina e p53 foram avaliados por IHC, para identificar os subtipos MSI, genomicamente estável (GS) e instabilidade cromossômica, respectivamente. A positividade do EBV foi detectada por ISH.
Resultados
Entre os 178 pacientes incluídos com estágio II/III, 67 foram tratados com cirurgia exclusiva, 47 receberam quimioterapia adjuvante/perioperatória e 64 foram tratados com quimiorradioterapia adjuvante. Dessa população, 16 tinham E-caderina aberrante (GS, 9%), 33 dMMR (MSI, 18,5%), 74 expressão de p53 aberrante (CIN p53 aberrante, 41,6%), 104 expressão de p53 normal (CIN p53-normal, 58,4%) e 18 positividade para EBV (EBV, 10,1%). Duas ou mais alterações simultâneas foram encontradas em 16 pacientes.
Os subtipos EBV, dMMR, CIN p53-normal e GS não obtiveram nenhum benefício de tratamentos adjuvantes na sobrevida livre de doença (SLD) (p = 0,71; p = 0,33; p = 0,41, p = 0,21, respectivamente). No entanto, esses tratamentos mostraram impacto positivo na SLD em pacientes com MMR proficiente e status negativo de EBV (p = 0,007; p = 0,01; p = 0,01). O subtipo CIN com p53 aberrante obteve maior benefício com quimioterapia (neo)adjuvante ou quimiorradioterapia adjuvante (p <0,001).
Em conclusão, pacientes com câncer gástrico com subtipos de EBV, dMMR e GS não obtiveram benefício em termos de SLD com a quimiorradioterapia adjuvante ou quimioterapia (neo)adjuvante; pacientes com expressão aberrante de p53 tiveram maior benefício, mostrando que esse método simples de classificação pode ajudar a selecionar o tratamento adjuvante no câncer gástrico.
Referências: Abstract e15513: Impact of adjuvant treatment according to gastric cancer molecular subtypes. - Tiago Biachi De Castria et al - Citation: J Clin Oncol 37, 2019 (suppl; abstr e15513)