Maysa Vilbert (foto) é primeira autora de estudo de mundo real apresentado na ESMO 2019, comparando o impacto da capecitabina adjuvante em mulheres com câncer de mama triplo-negativo de alto risco após quimioterapia neoadjuvante.
A capecitabina adjuvante (adjC) é recomendada para pacientes com câncer de mama triplo-negativo (TNBC) e fraca resposta à quimioterapia neoadjuvante. Apesar das evidências de benefício, essa terapia não está disponível em situações de recursos limitados, como no sistema público de saúde brasileiro.
Um estudo de coorte observacional retrospectivo foi realizado no Princess Margaret Cancer Center, em Toronto, Canadá, e no A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo. Foram avaliados pacientes com TNBC que completaram quimioterapia neoadjuvante (taxano e / ou antraciclina) seguida de cirurgia, com alta carga residual de câncer (RCB-II ou RCB-III) e receberam pelo menos 1 ciclo de capecitabina adjuvante no hospital canadense ou tiveram vigilância ativa no AC Camargo. Os parâmetros de comparação foram sobrevida livre de recorrência (SLR) e sobrevida global (SG), além do perfil de segurança.
Resultados
21 pacientes receberam capecitabina adjuvante no Princess Margaret Cancer Center, enquanto 70 pacientes foram acompanhados por vigilância ativa no AC Camargo Cancer Center. A dose inicial de capecitabina foi de 1000 mg / m² bid. Sete pacientes (43,8%) completaram 8 ciclos, dois (12,5%) receberam 6 ciclos e nos demais a terapia está em andamento. O acompanhamento médio foi de 23 meses (variação de 1,9 a 36 meses).
Os resultados mostram que 76,2% dos pacientes que receberam capecitabina na instituição canadense estavam livres de recorrência ou morte e 81% estavam vivos aos 3 anos. A sobrevida livre de recorrência foi superior no grupo de adjuvância (média 30,8 meses vs 20,0 meses HR: 0,23; p = 0,045), assim como a sobrevida global (média de 29 meses vs 28 meses (HR: 1,48; p = 0,610).
Os eventos adversos mais frequentes foram síndrome mão-pé, fadiga, diarreia, náusea e anemia. Redução da dose, atraso no próximo ciclo quimioterápico ou descontinuação do tratamento foram necessários em 13 (61,9%) pacientes.
Em conclusão, os resultados do mundo real mostram que pacientes que receberam capecitabina tiveram benefício com a quimioterapia adjuvante. “É uma quimioterapia oral barata, amplamente disponível e bem tolerada que deve ser considerada uma opção para melhorar os cuidados, mesmo nos sistemas de saúde pública dos países menos desenvolvidos”, conclui o estudo.