Novos dados mostraram pela primeira vez que uma terapia-alvo direcionada à mutação do isocitrato desidrogenase 1 (IDH1) pode melhorar os resultados de pacientes com colangiocarcinoma avançado, um subtipo de câncer do ducto biliar com comportamento agressivo e mau prognóstico, que apesar da baixa incidência ainda representa uma necessidade médica não atendida. Os dados apresentados na ESMO 2019 por Ghassan Abou-Alfa (foto), do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, são os primeiros a mostrar benefício clínico de uma terapia-alvo no tratamento do colangiocarcinoma.
Os resultados do estudo Fase III ClarIDHy demonstraram que ivosidenibe melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão, com tendência à benefício de sobrevida global nessa população de pacientes.
O estudo randomizou (1:1) 185 pacientes com colangiocarcinoma avançado e mutações IDH1 para receber ivosidenib ou placebo. Os pacientes do braço controle puderam passar para o braço de intervenção para receber ivosidenib na progressão da doença.
A mediana de sobrevida livre de progressão foi de 2,7 meses para os pacientes tratados com ivosidenibe em comparação com 1,4 meses no braço placebo (taxa de risco [HR] 0,37; intervalo de confiança de 95% [IC]: 0,25, 0,54, p <0,001). A taxa de sobrevida livre de progressão em seis meses foi de 32,0% com ivosidenib, enquanto nenhum paciente do braço placebo estava livre de progressão aos 6 meses.
A terapia-alvo também mostrou uma tendência favorável para sobrevida global. A mediana de sobrevida global com ivosidenib foi de 10,8 meses versus 9,7 meses no braço placebo (HR 0.69, one-sided p=0.06). "É a primeira vez no colangiocarcinoma que um estudo de Fase III testa um medicamento alvo direcionado a uma mutação específica, trazendo a oncologia de precisão para a prática clínica. Cerca de um em cada seis pacientes com colangiocarcinoma tem mutações no IDH1. Os resultados indicam que ivosidenib melhora significativamente a sobrevida livre de progressão e mostra tendência de benefício de sobrevida global em pacientes IDH1 mutados”, disse o autor do estudo, Ghassan Abou-Alfa, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center.
“Diante desses resultados, todos os pacientes com colangiocarcinoma devem ser testados para a mutação IDH-1”, analisa. Agora, novos estudos devem investigar ivosidenib como tratamento de primeira linha para o colangiocarcinoma com IDH1, além do uso em terapia combinada e como terapia adjuvante.
“Um tratamento que aumenta a chance de estar livre de progressão em 30% aos 6 meses e que prolonga a sobrevida de 6 meses com placebo para 10,8 meses com ivosidenib, é definitivamente significativo para nossos pacientes com colangiocarcinoma e suas famílias”, observou Chris Verslype, do Hospital Universitário de Lovaina, Bélgica. “É muito provável que mude a prática clínica. O que vimos neste estudo é realmente sem precedentes e clinicamente relevante para essa população de pacientes”, concluiu.
Referência: LBA10_PR ‘ClarIDHy: a global, phase 3, randomized, double-blind study of ivosidenib (ivo) vs placebo in patients with advanced cholangiocarcinoma (CC) with an isocitrate dehydrogenase 1 (IDH1) mutation’ ; Annals of Oncology 30, Supplement 5, 2019.