O ensaio IBIS-II Prevention foi projetado para investigar se cinco anos de anastrozol podem prevenir o câncer de mama em mulheres na pós-menopausa com alto risco de desenvolver a doença. Agora, dados apresentados no SABCS 2019 por Jack Cuzick (foto), chefe do Centro de Prevenção do Câncer do Reino Unido, mostram que após acompanhamento pela mediana de 10,9 anos, o uso de anastrozol teve impacto na incidência de câncer de mama, mesmo após a interrupção do tratamento. Os resultados foram publicados simultaneamente no The Lancet.
Este ensaio inscreveu 3.864 mulheres na pós-menopausa com alto risco de desenvolver câncer de mama, randomizadas para anastrozol (N = 1920) ou placebo (N = 1944) por 5 anos. Após mediana de 10,9 anos de acompanhamento, 241 casos de câncer de mama foram relatados (HR = 0,50 (0,38-0,65), P <0,0001). A redução do risco de câncer foi maior nos primeiros 5 anos (HR = 0,39 (0,27-0,58), P <0,0001), mas ainda foi significativa nos 5 anos seguintes (117 (49%) novos casos; HR = 0,63 (0,43-0,91), P = 0,015) (Tabela 1).
O câncer de mama invasivo receptor de estrogênio (ER+) teve redução de risco de 54% (HR = 0,46 (0,33-0,65), P <0,0001), com efeito contínuo no período de acompanhamento pós-tratamento. Também foi observada redução no risco de carcinoma ductal in situ, com efeito mais robusto em mulheres ER-positivo (HR = 0,23 (0,08-0,69), P <0,0001), mas não em mulheres ER-negativo (HR = 0,76 (0,39-1,45), P = 0,4). Um total de 129 mortes foi relatado, sem diferença significativa na mortalidade por todas as causas (63 vs. 66; HR = 0,93 (0,66-1,32), P = 0,7). Foram notificados 321 tipos de câncer além da mama, com diminuição significativa observada com anastrozol (129 vs. 192, OR = 0,66 (0,52-0,83), P = 0,0004). Menos casos de câncer de endométrio (4 vs. 8), câncer de ovário (5 vs. 9), câncer de pulmão (5 vs. 12) e melanomas (9 vs. 18) foram observados com anastrozol.
A adesão ao tratamento em cinco anos foi de 74,6% para anastrozol e de 77,0% no braço placebo.
“Os efeitos de anastrozol na prevenção do câncer de mama persistem por muito tempo após a interrupção do tratamento. É um efeito significativo e maior que o observado para tamoxifeno”, disse Jack Cuzick, principal investigador do ensaio IBIS-II Prevention. “Outra maneira é considerar que esse resultado se traduz em uma estimativa de 29 mulheres que precisam ser tratadas com anastrozol por cinco anos para evitar um câncer de mama durante o tratamento e nos próximos cinco anos”, explicou. “É uma quantidade inferior às 49 mulheres que precisam ser tratadas com tamoxifeno por cinco anos para prevenir um câncer de mama no mesmo período", acrescentou Cuzick, diretor do Instituto Wolfson de Medicina Preventiva em Londres e professor de Epidemiologia da Queen Mary University of London.
Em conclusão, esta análise atualizada do estudo IBIS-II confirma a redução significativa na ocorrência de câncer de mama com anastrozol no período pós-tratamento. Estes resultados indicam o benefício preventivo de anastrozol na redução de risco de câncer de mama ER-positivo em mulheres na pós-menopausa.
Number of events and Hazard Ratios (95% CI) according to follow up period
| Number of events | HR (95% CI) | P-value |
Overall | 241 (81 vs. 160) | 0.50 (0.38-0.65) | <0.0001 |
0 – 5 years | 124 (35 vs. 89) | 0.39 (0.27-0.58) | <0.0001 |
5+ years | 117 (46 vs. 71) | 0.63 (0.43-0.91 | 0.015 |
Invasive ER-positive | 151 (48 vs. 103) | 0.46 (0.33-0.65) | <0.0001 |
0-5 years | 72 (20 vs. 52) | 0.38 (0.23-0.64 | <0.0001 |
5+ years | 79 (28 vs. 51) | 0.53 (0.34-0.84 | 0.007 |
All DCIS | 42 (13 vs. 29) | 0.44 (0.23-0.85 | 0.015 |
0-5 years | 22 (5 vs. 17) | 0.29 (0.11-0.80) | 0.011 |
5+ years | 20 (8 vs. 12) | 0.65 (0.26-1.59) | 0.34 |
Referência: GS4-04 - Ten year results of the international breast cancer intervention study II