Onconews - Câncer de mama em jovens, uma coorte brasileira

Lilian ACCamargo bx 1Lilian Fraianella (foto), do AC Camargo Cancer Center, é primeira autora de estudo selecionado para apresentação em poster no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019, com resultados que ampliam a compreensão sobre o cenário do câncer de mama no Brasil em mulheres jovens.

Os tumores de mama em pacientes jovens são frequentemente diagnosticados com doença de alto grau, em estágios mais avançados, com receptor hormonal negativo e superexpressão de Her2. A idade é importante fator de risco para a recidiva local e está associada ao aumento do risco de metástase e morte. Atualmente, a quimioterapia neoadjuvante (NeoCT) é o padrão de tratamento para tumores localmente avançados e de alto risco (triplo negativo TNBC / e HER2+).

Com o objetivo de analisar fatores prognósticos em mulheres submetidas à quimioterapia neoadjuvante (NeoCT), este estudo de coorte comparou dois grupos etários (abaixo de 30 anos e de 31 a 40 anos) atendidos em um centro brasileiro, entre 2000 e 2016. O Residual Cancer Burden (RCB) ou carga de doença residual foi o critério utilizado para analisar a resposta patológica. As análises de sobrevida foram estimadas por Kaplan-Meier e os pacientes foram acompanhados por pelo menos 60 meses.

Resultados

271 mulheres com câncer de mama abaixo de 40 anos foram submetidas a NeoCT. Dessas pacientes, 217 (80,1%) tinham entre 31 e 40 anos, 54 (19,9%) estavam abaixo de 30 anos e 29,2% tinham história familiar de câncer de mama ou câncer de ovário em parentes de primeiro ou segundo grau.

Os dados para estadiamento clínico mostram 2,2% dos pacientes no estádio I, 43,1% no estádio II, 52,4% no estádio III e 2,2% no estádio IV, com um único sítio de metástase.

Nas mulheres com menos de 30 anos, 7,4% (4/54) tinham doença estádio IV, enquanto nas mulheres de 31 a 40 anos o estádio IV representou 2,2% (6/217; p= 0,035). A histologia mais frequente foi o carcinoma ductal invasivo, em 87,5% dos casos, com graus histológicos de 2 (35,8%) e 3 (46,9%). O subtipo histológico revelou 49,1% luminal, 17,7% luminal com 2 superexpressões, 8,1% HER2 e 24,4% TNBC.

“Identificamos uma proporção maior de pacientes luminais na faixa de 31-40 anos (53,9% vs 30,8%) e TNBC e Her2 no grupo com menos de 30 anos (32,7% e 36,5% vs 22,6% e 23,5%, respectivamente; p= 0,006), descrevem os autores.

A quimioterapia à base de antraciclinas e taxanos foi utilizada em 76,3% dos casos, com bloqueio HER2 quando indicado. Foram utilizados esquemas de doses densas em 9,6% dos pacientes. Resposta patológica completa (PCR) ocorreu em 34,7%, resposta parcial em 45,4%, doença estável em 11,1% e progressão durante quimioterapia em 1,5% dos casos (2 TNBC e 2 luminal). Os tumores Her2 apresentaram pCR de 63%, 55% para Her2 luminal e 53,7% para TNBC. Cirurgias conservadoras foram realizadas em 78 pacientes (28,8%) e mastectomias em 193 (71,2%). A biópsia do linfonodo sentinela foi realizada em 20,7% dos casos e a linfadenectomia em 79,3%.

Mesmo com PCR, 94 casos (56,3%) foram mastectomizados. Dos 251 pacientes, 37,6% recidivaram, 21% com recorrência distante, 7% local e 9,1% local e distante, sem variação quanto à faixa etária. Desses, 23,1% foram submetidos à cirurgia conservadora e 37,4% à mastectomia. “A resposta foi inversamente correlacionada, com 15% dos pacientes com PCR, 39,8% com respostas parciais, 63% com doença estável ​​e 75% com progressão da doença durante o tratamento. A sobrevida global foi associada à resposta patológica, tendendo a beneficiar a faixa etária de 31 a 40 anos. Em nossa amostra, pacientes com menos de 30 anos revelaram os subtipos mais avançados e agressivos de câncer de mama quando comparados às mulheres no grupo de 31 a 40 anos”, concluíram os autores. 

Referência: Poster Session 2 - P2-08-28. Breast cancer in young patients undergoing neoadjuvant chemotherapy - A comparison between very young women (less than 30) and young women (31-40 years) - Experience of a cancer center in Brazil