Afonso Celso Pinto Nazário (foto), Simone Elias, Gil Facina e Vanessa Monteiro Sanvido, da Universidade Federal de São Paulo, assinam estudo aceito para apresentação em poster no San Antonio Breast Cancer Symposium 2019. “A sobrevida global e a recorrência locorregional em pacientes com linfonodo sentinela axilar metastático tratados apenas com SLND não diferiram daqueles submetidos à ALND, corroborando os dados do ACOSOG Z0011”, concluíram os autores.
O estudo ACOSOG Z0011, do Grupo de Oncologia do Colégio Americano de Cirurgiões, foi um marco no tratamento cirúrgico da axila, com resultados que contribuíram de forma significativa para reduzir a extensão da cirurgia mamária. No Brasil, essa nova abordagem foi questionada, considerando que a sobrevida da doença permanece menor, reflexo dos entraves que ainda dificultam o diagnóstico precoce.
Com o objetivo de avaliar a sobrevida global e a recorrência locorregional do câncer de mama em pacientes com linfonodo sentinela (SLN) metastático, com ou sem dissecção completa de linfonodo axilar (ALND), este estudo de coorte retrospectivo considerou pacientes com câncer de mama primário invasivo e axila clinicamente negativa submetidos à lumpectomia e dissecção de linfonodo sentinela (SLND) no Hospital São Paulo, de fevereiro de 2008 a dezembro de 2018.
Pacientes com SLN metastático foram tratados com SLND ( grupo 1) ou ALND (grupo 2). O grupo 1 incluiu pacientes que preencheram os mesmos critérios de inclusão do ACOSOG Z0011. O grupo 2 foi composto por pacientes tratados antes da publicação ou definidos nos critérios de exclusão do ACOSOG Z0011.
A sobrevida global foi definida como o tempo desde a data da cirurgia até a morte por qualquer causa. A recorrência locorregional foi determinada pela presença de doença na mama ou nos linfonodos ipsilaterais na axila, supraclavicular, infraclavicular ou na mamária interna.
Resultados
O estudo incluiu 415 pacientes, 23,3% (97) identificados com SLN metastático, 56 tratados apenas com SLND (grupo 1) e 41 com ALND (grupo 2). Os grupos foram homogêneos em relação às seguintes variáveis: faixa etária (50 anos versus 51 anos ou mais; p = 0,279), raça (p = 0,120), escolaridade (p = 0,142), diagnóstico patológico (p = 0,210), grau histológico (p = 0,983), receptor hormonal (p = 0,708), status HER2 (p = 0,695), pT (p = 0,334). A idade média foi de 58,3 anos (grupo 1) e 56,3 anos (grupo 2), p = 0,456; e o tamanho médio do tumor foi de 1,8 cm (grupo 1) e 2,2 cm (grupo 2), p = 0,048.
No grupo 1, o número médio de linfonodos ressecados foi de 2,7 e em 91% dos casos apenas 1 linfonodo foi positivo. No grupo 2, o número médio de linfonodos positivos foi de 3,5 e apenas 17% apresentaram doença axilar. O grupo SLND apresentou 35,7% de micrometástases em comparação com 2,4% no grupo ALND (p <0,001) e menor número de extravasamento capsular (8,9%), em contraste com 41,5% no grupo ALND (p <0,001). Além disso, o grupo ALND também teve maior envolvimento axilar, como evidenciado pelo estadiamento patológico axilar, com N1 (73,2%), N2 (19,5%), N3 (4,9%), enquanto no grupo SLND 62,5% dos pacientes foram N1 e nenhum caso N2 ou N3 (p <0,001) foi registrado.
O tempo médio de sobrevida estimado pelo modelo de Kaplan-Meier foi de 9,18 anos (IC 95%: 8,47-9,90). Não houve diferença na sobrevida global entre os pacientes submetidos a SLND isolada ou ALND. A sobrevida em cinco anos foi de 80,1% no grupo tratado com SLND e de 87,5% no grupo ALND (p = 0,376).
A recorrência locorregional em 5 anos foi de 1,8% no grupo SLND e de 7,7% no grupo ALND (p = 0,196). Apenas quatro recidivas locorregionais foram descritas e todas ocorreram dentro de 18 meses após acompanhamento.
“A sobrevida global e a recorrência locorregional em pacientes com linfonodo sentinela axilar metastático tratados apenas com SLND não diferiram daqueles submetidos à ALND, corroborando os dados do ACOSOG Z0011, com benefício para os pacientes tratados com cirurgias menos agressivas e, potencialmente, com menor morbidade”, concluíram os autores.
O mastologista Afonso Celso Pinto Nazário lembra que a EPM-UNIFESP foi o primeiro Centro de Referência em Mastologia no Brasil a implantar o ensaio clínico ACOSOG Z0011 na sua diretriz de tratamento cirúrgico axilar no câncer de mama inicial.
“Seguimos os mesmos critérios de inclusão do ACOSOG Z0011 trial: T1-2N0, cirurgia conservadora + RT, até 2 LS+, ET e/ ou QT. Os resultados foram concordantes, isto é, a taxa de sobrevida global e recorrência local não apresentou diferença estatisticamente significante ao se realizar ou não a linfonodectomia axilar”, disse Nazário, Professor Livre-Docente de Mastologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP) e coordenador da Comissão de Pós-Graduação do Departamento de Ginecologia da mesma instituição. “No nosso trabalho, a taxa de micrometástase e o comprometimento de linfonodos adicionais foram menores. Assim, do ponto de vista de evidência científica, consideramos não ser necessário o esvaziamento axilar quando o comprometimento axilar é mínimo (até 2 BLS+). Outro aspecto positivo é que avaliamos também a extensão da radioterapia, que foi semelhante nos 2 braços de estudo”, destacou.
Referência: Poster Session 4 - P4-02-14. Impact of ACOSOG Z0011 trial at University Hospital in Brazil