Onconews - Biomarcadores preditivos no câncer de canal anal: 5 anos de seguimento

camila motta venchiarutti moniz bxA oncologista Camila Motta Venchiarutti Moniz (foto), pesquisadora do ICESP e do IDOR, é primeira autora do estudo de coorte prospectivo que teve como objetivo avaliar biomarcadores preditivos (Ki-67, PD-L1, papilomavírus humano (HPV), status HIV e mutações encontradas no DNA tumoral) no carcinoma de células escamosas do canal anal (SCCAC, da sigla em inglês). O estudo marca a presença brasileira no 2020 ASCO Virtual Scientific Program, com dados de 5 anos de acompanhamento (Abstract #: 4053).

Em dados já apresentados, essa coorte de pacientes com SCCAC mostrou que pacientes que não possuem o vírus HIV foram 5,7 vezes mais propensos a obter resposta completa 6 meses após o tratamento com quimioterapia combinado a radioterapia (OR 5,72, IC 95% 2,5-13,0, P <0,001).

“Neste momento estamos reportando os resultados do acompanhamento de longo prazo, ou seja, o impacto destes biomarcadores em sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG) 5 anos após o término do tratamento com intuito curativo”, descrevem os autores.

Foram elegíveis pacientes com doença T2-4/N0-3/M0 e candidatos a tratamento curativo padrão. As mutações presentes no DNA tumoral e a presença de HPV foram analisadas por sequenciamento genético de nova geração (NGS). Os marcadores Ki-67 e PD-L1 foram avaliados por imuno-histoquímica. 

Resultados

No período de janeiro de 2011 a dezembro de 2015 foram recrutados 75 pacientes, que permanecem em acompanhamento clínico e por imagem.  A idade mediana dos pacientes foi de 57 anos, 65% com estadio clínico III e 12% eram portadores o vírus HIV. O acompanhamento mediano da coorte é de 66 meses.

“O HPV foi avaliado em 67 pacientes e encontrado em 70,1%, sendo o HPV 16 o mais comum”, PD-L1 foi testado em 61 pacientes; 10 (16,4%) apresentaram expressão positiva > 1%. O Ki-67 foi realizado em 65 pacientes, com mediana de 50% (variação de 1-90%). As taxas de SLP e SG em cinco anos foram de 63,3% e 76,4%, respectivamente” descrevem os autores.

“Paciente com RC apresentaram SG em 5 anos de 88,5% contra apenas 56,6% no grupo sem resposta completa. Na análise multivariada, a idade (HR 1,06, P = 0,022, IC 95% 1,01-1,11) e ausência de resposta completa em 6 meses (HR 3,36, P = 0,007, IC 95% 1,39-8,09) foram associadas à SG inferior”, destacaram os autores.

A SG em 5 anos foi de 62,5% no grupo HIV + em comparação com 78% entre os HIV-, embora essa diferença não tenha sido estatisticamente significante (P = 0,400).

Como análise exploratória, foi observada uma tendência, sem significância estatística, a SG inferior entre os pacientes com polimorfismo do códon 72 no gene TP53. Como poucos pacientes puderam ser avaliados para este marcador, novos estudos serão necessários para estabelecer o real impacto prognóstico desta alteração genética. Outras mutações tumorais, presença de HPV, expressão de Ki-67 e expressão de PD-L1 não foram associadas a SLP e SG.

“Os pacientes HIV positivos tiveram 5,7 vezes mais chances de obter resposta completa 6 meses após o tratamento. A ausência de resposta completa em 6 meses foi o principal fator associado a pior SG em 5 anos. Novas estratégias de acompanhamento e tratamento complementar devem ser estudadas em pacientes portadores de HIV e naqueles que não alcançaram RC 6m após o término do tratamento”, concluíram os autores.

Informações sobre este ensaio clínico: NCT 36211.

Referências: Prospective study of biomarkers in squamous cell carcinoma of the anal canal (SCCAC) and their influence on treatment outcomes: Five-year long-term results. - J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr 4053) - DOI: 10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.4053

First Author: Camila Motta Venchiarutti Moniz, MD, PhD
Meeting: 2020 ASCO Virtual Scientific Program
Session Type: Poster Session
Session Title: Gastrointestinal Cancer—Colorectal and Anal
Track: Gastrointestinal Cancer—Colorectal and Anal
Subtrack: Anal Cancer
Abstract #: 4053