Osimertinibe, um inibidor de tirosina-quinase de EGFR (TKI-EGFR) de terceira geração, é um dos destaques da Sessão Plenária do ASCO 2020, com dados de estudo de Fase III (ADAURA) mostrando redução de 83% no risco de recorrência ou morte em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas EGFR mutados que receberam tratamento adjuvante (HR= 0,17; p <0,0001). Dos pacientes com CPCNP em estágio II-IIIA que receberam osimertinibe, 90% estavam vivos após dois anos sem o câncer recorrente, em comparação com 44% dos que receberam placebo. “É um ensaio que excedeu nossas expectativas”, disse Roy S. Herbst, que descreveu os resultados em apresentação virtual (LBA 5).
ADAURA é um estudo randomizado de Fase III, duplo-cego, que avaliou a eficácia e segurança de osimertinibe versus placebo em pacientes com CPCNP estágio IB-IIIA EGFR mutados (deleções no exon 19 ou no exon 21 L858R), no cenário adjuvante.
Foram elegíveis pacientes ≥18 anos (Japão / Taiwan: ≥20), com bom performance status (OMS PS 0/1), histologia do tipo não escamoso, com mutação EGFR confirmada (ex19del / L858R) e ressecção completa do CPCNP primário; quimioterapia pós-operatória foi permitida.
Os pacientes foram randomizados 1: 1 para osimertinibe 80 mg uma vez ao dia por via oral ou placebo por até 3 anos, estratificados por estágio (IB / II / IIIA), tipo de mutação (ex19del / L858R) e raça (asiática/não asiática). O endpoint primário foi sobrevida livre de doença (SLD) avaliada pelo investigador em pacientes com estágio II-IIIA. Endpoints secundários incluíram sobrevida global (SG) e dados de segurança. O corte de dados foi em 17 de janeiro de 2020.
Resultados
Globalmente, 682 pacientes foram randomizados para osimertinibe (N= 339) ou placebo (N = 343), com características equilibradas entre os braços (osimertinibe / PBO): estágio IB 31/31%, estágio II / IIIA 69/69%, majoritariamente mulheres (68/72%), EGFR mutados (ex19del 55/56%, L858R 45/44%).
Em pacientes com estágio II-IIIA, a sobrevida livre de doença aumentou significativamente com osimertinibe adjuvante (HR= 0,17 (IC 95% 0,12, 0,23); p <0,0001. Na população geral (IB-IIIA) também houve benefício da adjuvância com este TKI-EGFR, com redução de 79% no risco de morte na comparação com placebo (HR= 0,21 (0,16, 0,28); p <0,0001 (196/682 eventos). Em 2 anos, a SLD foi de 89% com osimertinibe versus 53% no braço placebo.
Os dados de sobrevida global ainda estavam imaturos no momento da análise (maturidade de 4%) com 29/682 mortes (osimertinibe n = 9, PBO n = 20).
O perfil de segurança foi consistente com dados já reportados de osimertinibe.
“Osimertinibe adjuvante é o 1º agente-alvo em um estudo global a mostrar benefício clínico e estatisticamente significativo de sobrevida livre de doença em pacientes com CPCNP estágio IB- II - IIIA EGFRm após ressecção completa do tumor e quimioterapia adjuvante, quando indicado. Osimertinibe adjuvante fornece uma nova estratégia de tratamento eficaz para esses pacientes, com resultados que mudam a prática clínica”, destacou Roy S. Herbst, chefe da Oncologia Médica do Yale Cancer Center. "É um avanço importante ver uma terapia-alvo retardar significativamente a recorrência da doença após a cirurgia no câncer de pulmão. Agora podemos tratar esses pacientes mais cedo”, afirmou o especialista, também responsável pelo centro de Pesquisa Translacional do Yale Cancer Center.
O câncer de pulmão representa globalmente a principal causa de morte por câncer, somando mais de 1,7 milhão de mortes anualmente.
Informações sobre este ensaio clínico (ClinicalTrials.gov): NCT02511106.