A psico-oncologista Cristiane Bergerot (foto), do City of Hope Cancer Center, é primeira autora de trabalho apresentado no ASCO GU 2020 que procurou descrever a prevalência de medo da recorrência do câncer entre pacientes com carcinoma de células renais.
O medo da recorrência do câncer (FCR, da sigla em inglês) é considerado uma das fontes de sofrimento mais relevantes para o distress dos pacientes. Embora possa ser considerada uma resposta adaptativa a ameaças reais associadas ao diagnóstico, tratamento e doença, vários estudos sugeriram que níveis elevados podem ser disfuncionais. Apesar desse extenso conjunto de pesquisas, pouco se sabe sobre a FCR entre indivíduos diagnosticados com carcinoma de células renais (CCR).
Nesse estudo, pacientes com CCR localizado participaram de uma pesquisa internacional entre 19 de julho e 19 de setembro, por meio de uma plataforma online. Os pacientes foram avaliados quanto ao medo da recorrência usando o FCR-7, uma medida de 7 itens, variando de 0 a 28. Um ponto de corte de 17 indica um nível moderado de medo da recorrência, enquanto um ponto de corte de 27 indica um nível grave. A regressão linear foi usada para determinar a associação entre o medo da recorrência e as características dos pacientes.
Resultados
Um total de 1150 pacientes participou da pesquisa; 412 tinham doença localizada e foram avaliados quanto ao medo da recorrência. A maioria era do sexo feminino (79%), com idade mediana de 54 anos (variação de 30 a 80) e alta escolaridade (58%). Os pacientes eram predominantemente dos EUA (85%), Canadá (4%) e Alemanha (2%) e moravam em áreas suburbanas (48%) ou rurais (32%). Mais da metade dos participantes foi diagnosticada com doença no estágio I (56%) e o restante foi dividido entre estágio II (19%) e III (24%). Mais da metade dos pacientes (55%) relatou um nível moderado ou grave de medo da recorrência. Os pacientes mais jovens (p = 0,001) e as mulheres (p = 0,004) apresentaram maior probabilidade de relatar níveis mais altos de medo da recorrência.
“Este é o primeiro estudo a quantificar o grau de medo da recorrência entre pacientes e sobreviventes diagnosticados com carcinoma de células renais localizado. É importante ressaltar que altas taxas de medo da recorrência foram associadas ao sexo feminino e à idade mais jovem, possivelmente motivadas pelo fato de as mulheres estarem mais abertas a revelar sintomas emocionais e as pacientes mais jovens ainda passarem por muitos marcos da vida e, portanto, o medo ser mais pronunciado. São necessárias avaliações e intervenções direcionadas para lidar com essa forma de sofrimento altamente prevalente entre os pacientes diagnosticados com carcinoma de células renais”, conclui Cristiane.
Referência: Abstract 649 - Fear of cancer recurrence among patients and survivors diagnosed with localized renal cell carcinoma. - Cristiane Decat Bergerot et al - J Clin Oncol 38, 2020 (suppl 6; abstr 649)