Apesar da oferta crescente de painéis multigênicos e soluções de biópsia líquida, muitas das alterações genômicas detectadas ainda não são usadas na rotina para embasar decisões de tratamento. Para auxiliar a comunidade médica, especialistas europeus desenvolveram a ESMO ESCAT, que classifica as alterações genômicas com base na acionabilidade clínica de alvos moleculares. A apresentação do ESCAT foi um dos destaques do programa científico do ESMO 2020.
“Desde 2018, nosso Molecular Tumor Board (MTB) estratificou as alterações genômicas detectadas na biópsia tecidual ou na biópsia líquida para embasar a ESCAT como ferramenta para orientar a seleção do tratamento”, esclarecem os autores. “Com base na ESCAT, nosso objetivo é avaliar a acionabilidade clínica de alvos por meio de nosso MTB”, acrescentam.
A partir de sequenciamento de última geração (NGS) realizado por biópsia líquida no momento da recaída, pesquisadores do ESCAT obtiveram o perfil molecular de pacientes com tumores sólidos metastáticos inscritos no MOSCATO (NCT01566019) e nos ensaios MATCHR (NCT02517892). Também foram realizados sequenciamento do exoma total e sequenciamento de RNA. A acionabilidade clínica de alterações genômicas foi avaliada prospectivamente pelo MTB de acordo com os níveis da ESCAT. Características clínicas e resultados de pacientes também foram coletados.
Resultados
Entre novembro de 2018 e março de 2020, 387 pacientes foram submetidos a biópsia. Dados moleculares de 366 pacientes foram interpretados pelo MTB. Os pacientes eram majoritariamente homens (60%) com idade média de 61 anos (variação, 24-90); vinte e sete tipos diferentes de tumor foram discutidos. Os mais comuns foram pulmão (32%), gastrointestinal (28%) e tumores urológicos (16%). Pelo menos uma alteração genômica foi detectada em 94% dos casos (366/388; em 5% houve falha na análise).
Com base na ESCAT, as alterações genômicas foram classificados de acordo com o tipo de tumor: 20% foram nível I [N = 72: mutação EGFR 25 (m), rearranjo 6 ALK (r); 6 FGFRr, 4 BRAFV600Em; 9 RETr, 9 RETm; 5 MSI-H; 3 ROS1r; 2 HER2a; 2 BRCAm; 1 METm]; 7% como nível II (n¼25: 19 KRASG12Cm; 3 BRAFV600Em [diferente de pulmão / melanoma]; 2 METa; 2 HERm); 19% como nível III (n = 48) e 16% como nível IV (n = 59). Com base na ESCAT, o perfil genômico gerou resultados clinicamente informativos em 117 pacientes (32%) e orientou a seleção do tratamento em 73 pacientes (20%).
“A classificação ESCAT de alterações genômicas é aplicável na prática clínica através de MTB e ajuda a ajustar o tratamento tanto no ambiente de assistência quanto no cenário da pesquisa“, concluem os autores, que recomendam uma revisão dinâmica dos níveis ESCAT, assim como a contínua atualização de mutações acionáveis para embasar escolhas terapêuticas.
Referência: 1930O - Alterações genômicas em tumores sólidos de acordo com a escala ESMO para acionabilidade clínica de alvos moleculares (ESCAT)