A COVID-19 está desafiando os cuidados e serviços oncológicos em todo o mundo. Um survey realizado por 20 oncologistas dos dez países mais afetados pela pandemia buscou avaliar seu impacto na organização da assistência oncológica. Os resultados do trabalho foram selecionados para o ESMO Virtual Congress 2020 (LBA76), em apresentação de Guy Jerusalem (foto), chefe do departamento de oncologia clínica no Hospital Universitário de Liege, na Bélgica.
Entre 17 de junho e 14 de julho, 109 representantes de centros de oncologia em 18 países (62,4% hospitais acadêmicos) preencheram o survey de 95 itens. As respostas mostram que o teste de swab é realizado sistematicamente antes da admissão em unidades de cuidados diários ou pernoites em 27,5% e 58,7% dos centros, respectivamente.
Um registro local (64,2%) e o rastreamento sistemático (77,1%) dos pacientes infectados foi organizado em muitos centros. As modalidades de tratamento mais afetadas pela pandemia (cancelamento/atraso) foram cirurgia (44,1%) e quimioterapia (25,7%). A interrupção precoce do tratamento paliativo foi observada em 32,1% dos centros e 64,2% dos participantes concordam que o subtratamento é uma grande preocupação.
No pico da pandemia, foram realizadas teleconsultas para acompanhamento (94,5%), terapia oral (92,7%), para pacientes em uso de imunoterapia (57,8%) ou quimioterapia (55%). Aproximadamente 82% dos participantes estimam que vão continuar a utilizar a telemedicina. A maioria dos participantes relatou uso mais frequente de tumor boards virtuais (82%) e reuniões da equipe oncológica (92%), mas 45% discordam que os eventos virtuais são uma alternativa aceitável para congressos internacionais ao vivo.
Apenas 18% dos participantes estimam que seu bem-estar não retornará aos níveis anteriores até o final do ano; 63% indicam apoio psicológico de fácil acesso para cuidadores, mas apenas 10% usavam ou planejavam usá-lo.
Embora 60,9% dos respondentes tenham relatado redução da atividade clínica durante o pico da pandemia, apenas 28,4% apresentaram aumento da atividade científica. Todas as atividades de ensaios clínicos foram ou serão reativadas em 72,5% dos centros. Os principais desvios do protocolo dos estudos foram observados em 27,5% dos centros, e 37% deles esperam reduções significativas das atividades de ensaios clínicos este ano.
“A COVID-19 tem um grande impacto na organização do atendimento ao paciente, bem-estar dos cuidadores, continuação das atividades de educação médica e de ensaios clínicos em oncologia”, concluíram os autores.
O estudo foi financiado pela Fondation Léon Fredericq.
Referência: LBA76 - Expected medium and long term impact of the COVID-19 outbreak in oncology - G. Jerusalem et al