Dois importantes centros de câncer brasileiros buscaram caracterizar o uso de medicina complementar e alternativa (CAM) entre os pacientes atendidos nas instituições. Os resultados estão em pôster selecionado no ASCO 2021, na sessão Symptoms and Survivorship, e revelam que embora a maioria dos pacientes não abandone o tratamento convencional, a maioria recorre a métodos complementares e alternativos sem conhecimento de seus oncologistas. O estudo tem como primeira autora a oncologista Eliza Dalsasso Ricardo (foto), do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Foram elegíveis adultos com diagnóstico de qualquer tipo de câncer e que compareceram a consultas em dois centros de câncer no Brasil, de janeiro de 2020 a janeiro de 2021.
No total, 319 pacientes que consentiram na entrevista face a face foram incluídos e todos responderam aos questionários. A maioria dos pacientes (52,4%) tinha entre 51 e 70 anos, 59,6% eram do sexo feminino, 85,2% eram do serviço privado e 67% tinham curso superior / bacharelado. Os autores descrevem que o câncer do trato gastrointestinal (31,4%) foi o mais frequente na população do estudo, seguido do câncer de mama (20,4%), pulmão (12,3%) e geniturinário. Mais de 85% dos participantes estavam em algum tratamento ativo no período da análise.
Os resultados revelam que a prevalência do uso atual de CAM foi de 34,2% e 50,2% dos pacientes não acreditam que a CAM tenha propriedades anticâncer. Dois terços dos participantes nunca discutiram sobre CAM com seus oncologistas. Apenas 4,1% dos entrevistados abandonariam o tratamento convencional do câncer para usar apenas o CAM. Entre os usuários do CAM, 55% referiram o uso de múltiplas terapias, sendo a cirurgia espiritual a mais prevalente. Houve uma proporção significativamente maior de mulheres relatando o uso de CAM (p = 0,008), bem como uma proporção maior de uso de CAM entre os pacientes privados (p = 0,008).
“O uso de CAM foi comum na população do estudo, especialmente cirurgia espiritual. Mulheres e pacientes privados foram mais propensos a usar CAM. Embora a maioria dos pacientes não abandone o tratamento convencional, muitos deles nunca discutiram sobre CAM com seus oncologistas”, destaca o trabalho brasileiro.
“Isto reflete uma lacuna na relação médico-paciente que precisa ser melhorada, já que algumas CAM podem interferir com o tratamento do paciente considerando interações medicamentosas/eventos adversos”, conclui Eliza.
O estudo tem participação de Denise Oishi, Angel Ayumi Tome Uchiyama, Catarina Marchon da Silva, Josué Bravo Espinoza, Frederico Rafael Moreira, Marcelo Oliveira Dos Santos, Rachel Pimenta Riechelmann e Renata D'Alpino.
Referência: Abstract 12060: Complementary and alternative medicine use among cancer patients at two cancer centers in Brazil. - Eliza Dalsasso Ricardo et al. - J Clin Oncol 39, 2021 (supl 15; abstr 12060) - DOI: 10.1200 / JCO.2021.39.15_suppl.12060
Sessão: Poster Session