Auro del Giglio (foto), professor titular de hematologia e oncologia da Faculdade de Medicina do ABC é coautor de estudo selecionado no ESMO Congress 2021, com resultados que se propõem a amparar o tratamento da carcinomatose meníngea no câncer de mama avançado.
O câncer de mama é uma causa comum de carcinomatose meníngea (CM) e diante da falta de estudos clínicos prospectivos randomizados relacionados à terapia o tratamento é escolhido pela opinião de especialistas. Nesta análise, os pesquisadores apresentam resultados de uma coorte de pacientes com CM tratadas de 2013 a 2020.
“Avaliamos as características clínicas das pacientes com câncer de mama metastático, incluindo métodos de diagnóstico, tratamento e resultados de sobrevida”, descrevem.
Resultados
Um total de 109 mulheres com idade média de 55,5 anos (26-79) foram incluídas na análise. Das participantes, 38,5% apresentavam bom status de desempenho (ECOG 0-1), enquanto 61,5% apresentavam ECOG 2-4. As características histopatológicas revelam que 80,73% dos casos eram de carcinoma ductal; 54,13% de grau histológico 2 e 69,72% de receptor de estrogênio + / HER2-.
No momento do diagnóstico de carcinomatose de meninge, 92,66% tinham evidência de doença à distância, 78,90% óssea, 58,72% visceral e 31,19% de metástases cerebrais. Células neoplásicas no líquido cefalorraquidiano estavam presentes em 60,55% dos casos. Os exames radiológicos mostraram realce de contraste leptomeníngeo em 64,22%. A revisão mostra que o tratamento de radioterapia (RT) foi empregado em 36,7% das pacientes com CM, 44,95% receberam quimioterapia intratecal (intra TC) e 24,77% receberam tratamento sistêmico (TS), como quimioterapia ou hormonioterapia. Os melhores cuidados de suporte foram dedicados a 13,76% da população avaliada.
A sobrevida global (SG) foi de 2,1 meses (mín. 0,06 e máx. 33,2 meses) e a sobrevida livre de progressão neurológica foi de 1,73 meses (mín. 0,03 e máx. 33,03 meses).
A SG relacionada à terapia instituída usando análise de regressão COX (sim versus nenhum tratamento) foi de 9,3 vs 1,9 meses no grupo de TS; 1,8 vs 2,4 meses no grupo intra-TC; 3,0 vs 1,0 mês no grupo RT.
A análise comparativa de sobrevida foi realizada por curvas de Kaplan-Meier. A sobrevida mediana no grupo ST foi de 2,53 meses, combinação de ST mais intra-TC foi de 1,44 meses e no grupo tratado com melhores cuidados de suporte foi de 0,96 meses.
A resposta clínica, definida como melhora neurológica e nenhum novo sintoma, foi avaliada pelo teste de Fischer. O grupo que correspondeu à resposta clínica foi o tratado com RT (p <0,05). Fatores de pior prognóstico analisado por regressão de Cox univariada foram ECOG 2-4, presença de metástase hepática e diminuição do nível de consciência (p <0,10).
“A quimioterapia intratecal não melhorou os sintomas e a sobrevida global. Os principais fatores prognósticos observados foram status de desempenho, metástase hepática e diminuição do nível de consciência”, concluem os autores.
O estudo tem participação dos oncologistas Renata Tortato Meneguetti, primeira autora, e de Felipe josé Silva Melo Cruz, autor sênior.
Referências: 320P -Prognostic role of meningeal carcinomatosis in breast cancer - R.T. Meneguetti , A. Del Giglio , F.J.S.M. Cruz