Onconews - Stent endoscópico no câncer gastroesofágico

bruno henrique paula 2020 bxEstudo selecionado para o ESMO 2021 apresenta resultados do uso de stent endoscópico em pacientes com câncer gastroesofágico avançado, descrevendo o prognóstico e as principais complicações pós-procedimento. O oncologista Bruno de Paula (foto), clinical fellow na Universidade de Cambridge, é coautor do trabalho.

A colocação de stent endoscópico é uma intervenção comum para melhorar a disfagia em pacientes com câncer gastroesofágico avançado, mas o prognóstico e complicações pós-procedimento ainda não foram adequadamente descritos.

Nesta análise, foram revisados dados de prontuário eletrônico de pacientes atendidos no Cambridge University Hospital Foundation Trust com colocação de stent entre 24 de junho de 2015 e 30 de março de 2020.Eventos adversos pós-stent significativos (dor, sangramento, perfuração, arritmia e refluxo / vômito refratário) foram classificados como agudos (<7 dias) ou tardios (8 dias). A sobrevida geral (SG) foi desde a colocação do stent até a morte ou data do último acompanhamento. As curvas de sobrevida para variáveis ​​relevantes foram comparadas usando o teste de log-rank e o método de Kaplan Meier. 

Resultados

Foram identificados 150 pacientes, com idade mediana de 76 anos, 76% homens. Em relação à histologia, os autores descrevem 17% do tipo escamoso, 76% de adenocarcinomas e 7% de outro tipo histológico. Tumores gástricos corresponderam a 10% da população, 21% apresentavam tumor de junção gastroesofágica e 69% câncer esofágico. A carga da doença foi metastática em 44% dos pacientes, enquanto 56% apresentavam doença ​localmente avançada. Da população avaliada, 43% haviam recebido tratamento anticâncer antes e 12% após o stent; 19% ​foram submetidos a um 2º stent e 2% um 3º stent. 7% tiveram ​complicações agudas, 58% tardias. Foram consideradas graves 1,3% (1 perfuração e 1 arritmia).

A mediana de SG nessa população de pacientes foi de 3,4 meses (2,8 e 3,9, IC 95%). O tratamento pós-stent foi associado a maior sobrevida (10,2 meses, variando de 7,1 a 13,3; IC 95%) comparado a nenhum tratamento (3,0 meses, 2,3 e 3,7 CI 95%, p <0,001). A melhora da disfagia também foi associada a melhor sobrevida (3,8 m vs 2,5m, p=0,009). Complicações imediatas foram associadas a baixa sobrevida (1,7m vs 3,6m, p=0,008). Sexo, subtipo do tumor, local anatômico, tratamento pré-stent e complicações tardias não foram associados com sobrevida. Os pacientes que tiveram um segundo e terceiro stent colocados tiveram sobrevida superior do que aqueles que implantaram um stent, respectivamente (10,35m, 9,61 e 11,09 CI 95% vs 2,74m, 2,11 e 3,37 CI 95%, p <0,001) e (17,11m, 6,92 e 27,30 CI 95% vs 3,31m, 2,75 e 3,87 CI 95%, p = 0,04).

"A colocação de stent é um tratamento valioso para pacientes com câncer gastroesofágico avançado com disfagia. Tratamento anticâncer pós-stent, melhora da disfagia e ausência de complicações agudas foram associadas a melhor sobrevida. Pacientes que requerem e estão aptos a receber um segundo stent parecem ter boa sobrevida, favorecendo a consideração de outro stent em casos selecionados", avaliam os autores.

De Paula observa que pacientes que receberam stent por câncer esofagogástrico apresentam pior prognóstico em coortes históricas e limitado benefício em sobrevida com radioterapia isolada pós procedimento. “Com este estudo pudemos demonstrar que o tratamento sistêmico está associado a maior sobrevida pós stent. Por outro lado, fatores associados com longo tempo de sobrevida em pacientes com disfagia severa são aguardados para guiar nossas decisões na prática clnica"´, conclui.

Referência: 1412P Palliative stents in a large cohort of advanced gastroesophageal cancers (GOC): Factors associated with long term survival - C. Hannon, B.H.R.D. Paula, M. Goksu, G. Corbett, N. Carroll, C.A.M.D. Sousa, E. Smyth