Estudo apresentado no ESMO Breast Cancer Virtual Congress 2021, que acontece entre os dias 05 e 08 de maio, mostrou que as sobreviventes de câncer de mama diferem amplamente em relação à carga de sintomas que experimentam após o tratamento, revelando a necessidade de abordagens personalizadas para cuidados de acompanhamento1. Kelly de Ligt, médica do Instituto de Câncer da Holanda, em Amsterdã, é a primeira autora do trabalho.
Avanços no diagnóstico e tratamento têm aumentado a sobrevida de pacientes com câncer de mama. Na maior parte da Europa, mais de 70% das pacientes sobrevivem pelo menos 10 anos após o diagnóstico, o que evidencia a importância de garantir a qualidade de vida dessa população.2
“Estudos anteriores avaliaram os efeitos colaterais experimentados após o final do tratamento como itens independentes, mas, na realidade, os sobreviventes geralmente experimentam vários sintomas que podem impactar sua rotina. Buscamos avaliar a carga geral sobre a qualidade de vida relacionada à saúde e ver se existem padrões sobre quais indivíduos precisam de gerenciamento ativo de sintomas”, esclarece de Ligt.
No estudo, foram incluídas sobreviventes de câncer de mama em estágios I-III tratadas cirurgicamente entre um e cinco anos após o diagnóstico. As participantes foram selecionadas do Registro de Câncer da Holanda (N = 876). Os pesquisadores avaliaram a carga experimentada de fadiga, náusea, dor, dispneia, insônia, apetite, constipação, diarreia, sobrecarga financeira e sintomas emocionais e cognitivos, e determinaram subgrupos de sobreviventes com base em padrões de carga de sintomas coexistentes.
Resultados
De 404 sobreviventes participantes (46%), 3 subgrupos de sobreviventes foram identificados: carga de sintomas baixa (n = 116, 28,7%) carga de sintomas intermediária (n = 224, 55,4%) e carga de sintomas alta (n = 59, 14,6%). O primeiro subgrupo relatou uma carga de sintomas menor em comparação com a população em geral. “Nesse subgrupo, que compreende quase um terço das pacientes, as mulheres foram menos afetadas em comparação com a média encontrada em uma amostra representativa de 1.300 mulheres da população geral da Holanda, que preencheram o mesmo questionário”, afirmou de Ligt.
O subgrupo intermediário experimentou sobrecarga semelhante à da população em geral, embora os escores de fadiga, insônia e sintomas cognitivos tenham sido um pouco piores.
O subgrupo alto teve pior carga de sintomas em comparação com a população em geral (diferenças clinicamente relevantes de médio a grande). Em comparação com o subgrupo intermediário, uma (razão de risco relativo (RRR): 2,75; CI: 1,22-6,19; p = 0,015) ou mais (RRR: 9,19; CI: 3,70-22,8; p = <0,001) comorbidades foram significativamente associadas com adesão ao subgrupo alto. Não Foram encontradas associações entre as características do paciente ou tratamento e subgrupos.
“Este foi o menor grupo, apenas 15% da nossa população, mas mesmo assim, uma em cada seis mulheres em nosso estudo teve pontuações piores do que a população geral para todos os sintomas - e as diferenças, variando entre 15 e 20 pontos percentuais, eram grandes o suficiente para serem consideradas não apenas estatisticamente significativas, mas também clinicamente relevantes”, observou a pesquisadora. “Esses achados confirmam a necessidade de abordagens personalizadas para o follow up de pacientes com câncer, alguns com necessidades de um acompanhamento mais próximo até cinco anos após o diagnóstico”, acrescentou.
Os resultados do estudo mostraram ainda que os pacientes com comorbidades, como doenças cardíacas e diabetes, eram mais propensos a experimentar uma alta carga de sintomas. “Pesquisas futuras devem tentar medir a qualidade de vida relacionada à saúde dos pacientes por meio do Patient Reported Outcome Measures (PROMs) antes e após o início do tratamento para câncer de mama para nos permitir medir o efeito da terapia”, observou de Ligt.
Referências:
1 - Abstract 134P_PR ‘Towards tailored follow-up care for breast cancer survivors: cluster analyses based on symptom burden’ will be available as e-Poster from Wednesday 5 May at 09:00 CEST. Annals of Oncology, Volume 32, Supplement 2, May 2021
2 - F. Cardoso, S. Kyriakides, S. Ohno, F. Penault-Llorca, P. Poortmans, I. T. Rubio, S. Zackrisson and E. Senkus. Early Breast Cancer: ESMO Clinical Practice Guidelines. https://doi.org/10.1093/annonc/mdz173