Onconews - Vulnerabilidade social é fator de risco em pacientes submetidos a tratamento cirúrgico de câncer de pulmão

priscila berenice costa bxMesmo quando diagnosticado precocemente, os aspectos sociais contribuem para a mortalidade em 30 dias de pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico do câncer de pulmão. Os resultados são de estudo brasileiro selecionado para apresentação oral no 2021 World Conference on Lung Cancer (WCLC 2021). O trabalho é fruto da tese de doutorado da enfermeira Priscila Berenice da Costa (foto), assistente de direção no Instituto do Coração - InCor/HCFMUSP. O cirurgião Ricardo Terra é o orientador do trabalho.

A vulnerabilidade social tornou-se objeto de estudo vinculado ao câncer. Países emergentes, como o Brasil, apresentam níveis muito elevados de desigualdade social e o problema da vulnerabilidade torna-se ainda mais relevante. “O câncer de pulmão é uma das neoplasias mais comuns no país e o entendimento do papel da vulnerabilidade social nessa doença é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas específicas”, defendem os autores.

O estudo retrospectivo realizou uma análise do banco de dados do Registro Hospitalar de Câncer (RHC) de pacientes diagnosticados com câncer de pulmão na cidade de São Paulo entre janeiro de 2000 e dezembro de 2013. O RHC é um registro mantido pela Fundação Oncocentro de São Paulo que coleta dados de hospitais oncológicos do Estado de São Paulo.

Foram selecionados pacientes com doença estágio clínico I que receberam cirurgia ou uma combinação de tratamentos envolvendo cirurgia. Para a análise da vulnerabilidade social, foi utilizado o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), classificado de 1 a 6 (1: pouca e 6: muita vulnerabilidade social) de acordo com o endereço do paciente. Os autores utilizaram a tecnologia de georreferenciamento para classificar o IPVS individual de cada paciente.

O desfecho principal foi a mortalidade em 30 dias. Um modelo de regressão logística foi utilizado para calcular o odds ratio (OR) das variáveis ​​relevantes, e a análise de regressão de Cox foi usada para calcular a medida de associação entre as variáveis ​​independentes e a sobrevida. Os pesquisadores consideraram p <0,05 como significativo.

Resultados

Um total de 7.896 prontuários, 11,2% (881) apresentavam diagnóstico de estágio clínico I. Destes, 523 receberam cirurgia, e 48% (251) morreram até 2019. 53,2% eram do sexo masculino (278), e a mediana de idade foi de 64 anos (SD 10.4). Quanto à vulnerabilidade social, 49,6% dos pacientes residiam em áreas de vulnerabilidade muito baixa (IPVS 2).

O câncer mais prevalente foi o adenocarcinoma (54%) e o tempo médio entre o diagnóstico e o tratamento foi de 28,4 dias. Utilizando as variáveis ​​independentes IPVS, idade, tipo histológico e sexo, a regressão logística mostrou que IPVS (OR 1,73; p <0,001) e idade (OR 2,51; p = 0,012) são fatores de risco para mortalidade em 30 dias na população de pacientes com doença estágio clínico I que recebeu tratamento cirúrgico. A mediana de sobrevida global foi de 87 meses (32-0).

Após o ajuste para as variáveis ​​independentes, a regressão de Cox mostrou que o IPVS (HR 1,28; 95% CI 1,12 e 1,45; p = 0,000) e idade (HR 1,03; 95% CI 1,01 e 1,04; p = 0,000) estão associados a maiores risco, enquanto sexo apresentou HR de 0,61 (95% CI 0,47 e 0,8; p = 0,000), indicando menor risco quando associado ao sexo feminino.

“Mesmo quando diagnosticado precocemente, os aspectos sociais contribuem para a mortalidade em 30 dias de pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico do câncer de pulmão. Os resultados confirmam que a vulnerabilidade social, pelo IPVS, é um fator de risco independente na população estudada”, concluíram os autores.

Referência: OA14.02 Social Vulnerability Is an Independent Risk Factor in Patients Undergoing Surgical Treatment of Lung Cancer - P. Costa, R. Terra, P. Pêgo-Fernandes Thoracic Surgery, Instituto Do Coracao, Hospital Das Clinicas Hcfmusp, Faculdade de Medicina, Universidade de Sao Paulo, São Paulo/BR