Onconews - Desigualdades no uso da telemedicina para o tratamento do câncer

telemedicina 2020 bxA pandemia de COVID-19 foi associada a diminuição no número de visitas clínicas presenciais, e embora as consultas por telemedicina tenham aumentado, desigualdades observadas no tratamento clínico presencial persistem. “Em uma avaliação das desigualdades no atendimento por telemedicina em 21 cânceres comuns, houve níveis claramente mais baixos do uso de ferramentas online por pacientes negros e não segurados, que moravam em áreas suburbanas ou rurais e residiam em regiões com baixo nível socioeconômico”, ressaltam os autores de estudo selecionado para apresentação no Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO 2022), que acontece entre os dias 03 e 07 de junho.

Em julho de 2021, a JCO Oncology Practice publicou os padrões da ASCO e as recomendações práticas específicas para telessaúde em oncologia. Os padrões foram desenvolvidos durante a pandemia do COVID-19, quando novas regras sobre reembolso por telessaúde foram implementadas nos Estados Unidos. Em meio ao cenário de prestação de cuidados de saúde em evolução, a ASCO identificou a necessidade de padrões específicos para oncologia que preencheriam lacunas nas orientações gerais de telessaúde. Os padrões se concentram em quais práticas oncológicas podem ser realizadas por meio de telessaúde, reuniões virtuais de conferências multidisciplinares sobre câncer, ensaios clínicos em oncologia via telessaúde e o papel dos provedores de práticas avançadas e profissionais da equipe multidisciplinar.

Neste estudo retrospectivo, os autores utilizaram os dados de registros eletrônicos da Flatiron Health. Os registros de saúde utilizados no estudo foram de 26.788 pacientes (48,1% mulheres, idade mediana: 69 [intervalo interquartil: 61-77] anos), com 18 anos de idade ou mais e que iniciaram o tratamento de câncer de primeira linha entre março de 2020 e novembro de 2021 (com acompanhamento até março de 2022) em centros comunitários de câncer. Os pesquisadores analisaram as diferenças no número de consultas de telemedicina entre raça/etnia, cobertura de seguro saúde, residência rural versus suburbana versus urbana e status socioeconômico da residência. 15,9% dos pacientes no estudo usaram serviços de telemedicina em 90 dias (cerca de 3 meses) após o início do tratamento sistêmico do câncer.

Resultados

Os resultados mostraram que pacientes negros eram menos propensos a usar serviços de telemedicina em comparação com pacientes brancos ((13,2% vs. 15,6%, respectivamente, odds ratio [OR] 0,69 [95% CI: 0,59-0,79], p <0,01) durante os primeiros dois anos da pandemia de COVID-19.

O uso de telemedicina também foi menor entre pacientes sem seguro documentado do que em pacientes segurados (11,7% vs. 16,4%), OR 0,62 [IC 95%: 0,54-0,72], p<0,01). Aqueles em áreas rurais (9,8%, OR 0,51 [IC 95%: 0,45-0,58], p<0,01) e suburbanas (12,9%, OR 0,71 [95%: 0,64-0,79], p<0,01) eram menos propensos a usar serviços de telemedicina do que pacientes em áreas urbanas (17,7%). Pacientes que vivem nas áreas de nível socioeconômico mais baixo eram menos propensos a usar a telemedicina do que aqueles nas áreas mais altas (10,6% vs. 23,6%, OR 0,35 [IC 95%: 0,31-0,40], p<0,01).

“Nosso estudo fornece a avaliação mais recente e abrangente das tendências e desigualdades no uso da telemedicina em muitas características sociodemográficas. Embora a telemedicina possa expandir o acesso a cuidados especializados, a proliferação desses serviços pode ampliar as disparidades no tratamento do câncer se as populações vulneráveis ​​não tiverem acesso equitativo”, disse Jenny S. Guadamuz, cientista quantitativa da Flatiron Health e principal autora do estudo.

“Os resultados demonstram que durante a pandemia de COVID-19, quase um quinto dos pacientes que iniciaram o tratamento do câncer utilizaram serviços de telemedicina. No entanto, houve disparidades substanciais: pacientes negros, sem seguro, não urbanos e com menos renda são menos propensos a usar serviços de telemedicina. Embora a telemedicina possa expandir o acesso a cuidados especializados, a proliferação desses serviços pode ampliar as disparidades no tratamento do câncer se as populações vulneráveis ​​não tiverem acesso equitativo”, concluíram os autores.

Os pesquisadores ressaltam que será importante avaliar se o uso da telemedicina está associado a um atendimento de qualidade, e esperam que os resultados do estudo sejam transmitidos aos centros de tratamento do câncer para garantir que as políticas que permitiram a proliferação de serviços de telemedicina sejam permanentes e não apenas vinculadas à declaração de emergência de saúde pública COVID-19.

O estudo recebeu financiamento da Flatiron Health.

Referência: Racial and socioeconomic disparities in telemedicine use among US patients initiating cancer treatment during the COVID-19 pandemic.
First Author: Jenny Guadamuz, PhD, MSPH

Meeting: 2022 ASCO Annual Meeting
Session Type: Poster Discussion Session
Session Title: Health Services Research and Quality Improvement
Track: Health Services Research and Quality Improvement
Subtrack: Healthcare Equity/Access to Care
Abstract #: 6511
Citation: DOI:10.1200/JCO.2022.40.16_suppl.6511