gustavo nader marta bxO desescalonamento da dose total da radioterapia (60Gy ao invés de 70Gy) está associada a resultados de sobrevida favoráveis ​​e menos toxicidades relacionadas ao tratamento para pacientes com carcinoma de nasofaringe estádio III de baixo risco sensíveis à quimioterapia de indução. Os resultados são do estudo selecionado para apresentação em Sessão Oral de Câncer de Cabeça e Pescoço no ASCO 2022. Gustavo Nader Marta (foto), radio-oncologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, comenta os resultados.

“As toxicidades relacionadas à radioterapia do carcinoma de nasofaringe causadas pela dose padrão de 70 Gy ainda permanecem um problema crítico, e é necessário selecionar candidatos ideais para a radioterapia de dose reduzida. O nível de DNA do vírus Epstein-Barr (EBV) pré-tratamento foi universalmente aplicado para selecionar pacientes com carcinoma de nasofaringe de baixo risco e a resposta à quimioterapia de indução pode ser usada para rastrear pacientes sensíveis à radioterapia”, esclarecem os autores.

Neste ensaio clínico de fase II unicêntrico de braço único (Centro de Câncer da Universidade Sun Yat-sen, China), os pesquisadores avaliaram se a dose de 60Gy foi não inferior à dose padrão de 70Gy em pacientes com carcinoma de nasofaringe estádio III de baixo risco com resposta favorável à quimioterapia de indução. Foram incluídos pacientes de 18 a 70 anos com carcinoma de nasofaringe estádio III de baixo risco (nível de DNA do EBV < 4.000 cópias/ml) que receberam dois ciclos de quimioterapia de indução com o regime TPF (paclitaxel lipossomal 135 mg/m² nos dias 1, cisplatina 25 mg/m² nos dias 1 -3, fluorouracil 750 mg/m² em infusão contínua de 120 horas nos dias 1-5) administrado por via intravenosa a cada 3 semanas.

Pacientes com resposta completa/parcial (CR/PR) e nível indetectável de DNA de EBV receberam radioterapia com modulação da intensidade do feixe (IMRT) com dose total de 60Gy, concomitante com 100 mg/m² de cisplatina intravenosa nos dias 1, 22 e 43. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) em 2 anos. Os desfechos secundários incluíram sobrevida global (SG), sobrevida livre de recidiva locorregional (LRRFS) e sobrevida livre de metástase à distância (DMFS).

Resultados

Entre 19 de novembro de 2018 e 13 de março de 2020, um total de 216 pacientes foram incluídos neste estudo. 215 pacientes completaram dois ciclos de quimioterapia de indução, após os quais 116 (54,0%) e 99 (46,0%) pacientes receberam radioterapia de 60Gy e 70Gy, respectivamente. Para pacientes tratados com radioterapia de 60 Gy, a SLP de 2 anos, a SG, LRRFS e DMFS foram 94% (95% CI, 89 a 99), 100%, 95% (95% CI, 91 a 99) e 97% (95% CI, 93 a 100), respectivamente, com seguimento mediano de 25,8 meses (intervalo interquartil 22-28).

Durante a radioterapia, a toxicidade mais comum foi náusea, com proporção de 61% (71/116), 5% (6/116) para grau 1-2 e 3. As principais toxicidades de grau 3-4 foram leucopenia, neutropenia, mucosite e dor, que foram relatadas em 16 (14%), 16 (14%), 13 (11%) e 15 (13%) pacientes, respectivamente. A toxicidade tardia mais comum foi xerostomia de grau 1-2 com incidência de 54% (63/116). Nenhum evento adverso de longo prazo grau 3 ou superior foi observado e nenhum paciente morreu de causas relacionadas ao tratamento. Todos os itens de qualidade de vida, domínios e escores de sintomas retornaram ao baseline em 6 meses, com exceção de boca seca e saliva espessa.

Os autores concluem que a radioterapia com desescalonamemto de dose está associada a resultados de sobrevida favoráveis ​​com baixas taxas de toxicidades relacionadas ao tratamento para pacientes com carcinoma de nasofaringe estádio III de baixo risco sensíveis à quimioterapia de indução.

“É importante ressaltar que apesar de resultados promissores em relação à estratégia de desescalonamento do tratamento em pacientes selecionados com carcinoma de nasofaringe, esse estudo não tem o poder de alterar a prática clínica. Os resultados encontrados devem ser formalmente testados em estudos prospectivos randomizados fase III para, de fato, o protocolo de tratamento experimental ser avaliado adequadamente”, observa Nader Marta.

Referência: Reduced-dose radiotherapy for pretreatment EBV DNA selected low-risk stage III nasopharyngeal carcinoma: A single-arm, phase II trial.
First Author: Hai-Qiang Mai
Meeting: 2022 ASCO Annual Meeting
Session Type: Oral Abstract Session
Session Title: Head and Neck Cancer
Track: Head and Neck Cancer
Subtrack: Local-Regional
Abstract #: 6002
Clinical Trial Registry Number: 03668730
Citation: J Clin Oncol 40, 2022 (suppl 16; abstr 6002)
DOI: 10.1200/JCO.2022.40.16_suppl.6002