O desenho do estudo clínico e os modernos critérios de inclusão/exclusão acabam por impactar o perfil racial e étnico de pacientes inscritos em ensaios de primeira linha no Linfoma Difuso de Grandes Células B (DLBCL, da sigla em inglês). É o que aponta análise de pesquisadores da Universidade de Iowa/Mayo Clinic apresentada no ASH 2022, demonstrando a necessidade de critérios mais inclusivos no ambiente de pesquisa clínica.
Em análise anterior, o mesmo grupo SPORE Molecular Epidemiology Resource identificou que até 24% dos pacientes tratados com imunoquimioterapia (IC) padrão foram excluídos de ensaios clínicos com base em apenas 5 critérios laboratoriais (Khurana et al. JCO 2021). Os pacientes inelegíveis tiveram resultados clínicos piores, com mais mortes relacionadas à progressão do linfoma, o que segundo a análise sugere que esses pacientes excluídos potencialmente teriam se beneficiado das novas terapias avaliadas nesses estudos de intervenção.
No ASH 2022, a análise apresentada procurou confirmar esses achados em uma coorte maior, além de avaliar o impacto dos critérios de elegibilidade por raça/etnia. De 2015 a 2020, os pesquisadores inscreveram pacientes recém-diagnosticados com DLBCL na coorte LEO (Lymphoma Epidemiology Outcomes), que tem a participação de 8 grandes centros acadêmicos nos EUA. Dados já conhecidos indicam que a Coorte LEO tem dados demográficos semelhantes à população SEER dos EUA (Flowers et al. ASH 2018).
Dados clínicos foram extraídos do prontuário médico, incluindo valores laboratoriais basais. Os pacientes foram acompanhados prospectivamente para os resultados.
Conforme o protocolo, todos os pacientes envolvidos receberam antraciclina mais imunoquimioterapia (IC) padrão baseada em anticorpo CD-20. Critérios de exclusão consideraram parâmetros como hemoglobina, contagem absoluta de neutrófilos, contagem de plaquetas, creatinina e bilirrubina, como relatado em estudos recentes de primeira linha (Tabela 1). A associação entre a elegibilidade do estudo e a sobrevida livre de eventos (SLE) e sobrevida global (SG) utilizou curvas de Kaplan Meier.
Como modelo para apresentar os resultados foi usado o estudo POLARIX, de publicação mais recente, que demostra benefício do agente experimental nos resultados clínicos em relação ao padrão de tratamento R-CHOP.
Resultados
Um total de 2.510 pacientes com DLBCL recebeu IC no frontline. Destes, 2.330 tinham 3 ou mais dos 5 valores baseados em laboratório disponíveis no LEO e compuseram o conjunto de análise. O grupo incluiu 1.972 participantes brancos não hispânicos (NHW, 85%) e 272 participantes hispânicos e/ou não brancos (H/NW, 12%, sendo desconhecidas as demais etnias. Em comparação com NHW, os pacientes H/NWs eram mais jovens no momento do diagnóstico (mediana 54 vs. 64 anos, p <0,001), mas comparáveis em relação ao LDH elevado (56% vs. 63%), sintomas B (32% vs. 36%), envolvimento da medula óssea (16% vs. 18%), doença extranodal (26% vs. 32%) e IPI de alto risco (38% vs. 37%).
A hemoglobina foi significativamente menor (média + DP) em participantes H/NW (11,7±2,3) vs. NHW (12,5±2,2, p<0,001), enquanto outros valores laboratoriais foram semelhantes entre os dois grupos. Os regimes de tratamento variaram entre os 2 grupos com mais NHW recebendo R-CHOP (53% vs.38%, p <0,001) e mais H/NWs recebendo R-EPOCH (38% vs. 25%, p <0,001).
Dentro da coorte LEO, a análise descreve que 9-26% dos pacientes teriam sido excluídos dos recentes ensaios clínicos de primeira linha no DLBCL com base apenas em 5 critérios laboratoriais (Tabela 1). Os resultados apresentados no ASH 2022 mostram que os ensaios ENGINE (26%), POLARIX (17%) e GOYA (17%) foram os mais restritivos.
Critérios como o valor de corte mais alto de hemoglobina (9gm/dL ou mais) tiveram impacto maior na inelegibilidade da população H/NW. A sobrevida global foi significativamente inferior para pacientes inelegíveis para todos os ensaios listados na tabela 1 com base em critérios de laboratório para pacientes H/NW e NHW [POLARIX como exemplo - Figura 1]. A associação entre inelegibilidade e maus resultados foi consistente em todos os critérios do estudo e desfechos avaliados (OS e EFS).
“Este estudo confirma nossa associação previamente relatada entre os critérios de elegibilidade baseados em laboratório e os resultados em DLBCL recém-diagnosticados em uma coorte maior, contemporânea e diversificada e mostrou que alguns critérios de elegibilidade limitam desproporcionalmente pacientes com H/NW”, concluem os autores, que recomendam mais estudos para avaliar o impacto de cada critério baseado em laboratório na elegibilidade, em diferentes populações raciais/étnicas. “Projetos de ensaios futuros precisam adaptar os critérios de elegibilidade para serem mais inclusivos da população H/NW”, propõem.
Referências: 850 Evaluating the Impact of Lab-Based Eligibility Criteria By Race/Ethnicity in Frontline Clinical Trials for Diffuse Large B-Cell Lymphoma (DLBCL): A LEO Cohort Analysis
Program: Oral and Poster Abstracts
Type: Oral Session
Monday, December 12, 2022: 3:30 PM
Matthew J. Maurer, DSc et al