Onconews - Estudo brasileiro analisa acesso a segunda linha na LLC

marcelo lacerdaGrandes avanços no tratamento de pacientes com leucemia linfocítica crônica (LLC) recorrente ou refratária (RR) foram observados na última década com a adoção de novos agentes. Marcelo Pitombeira de Lacerda (foto), da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), é primeiro autor de estudo de mundo real realizado por pesquisadores brasileiros, que buscou avaliar os resultados clínicos do tratamento de segunda linha em pacientes com LLC RR incluídos no Registro Brasileiro de LLC (BRCLL). O trabalho integra o programa da 64ª edição do ASH.

Neste estudo observacional foram considerados pacientes que receberam tratamentos de segunda linha para LLC entre janeiro de 2006 e dezembro de 2021. Todos os centros participantes realizaram o diagnóstico e o estadiamento de acordo com as recomendações do International Workshop on Chronic Lymphocytic Leukemia (IWCLL). 

Resultados

Foram incluídos 444 pacientes com LLC em segunda linha (2L). A idade mediana no início do tratamento de 2L foi de 66 anos (intervalo: 23-93), sendo 264 do sexo masculino (59%). No diagnóstico da LLC, o estadiamento de Binet foi A em 139 pacientes (36%), B em 139 (36%) e C em 107 (28%). Níveis elevados de beta-2-microglobulina no momento do diagnóstico foram encontrados em 58% e IGHV não mutado foi observado em 61% dos pacientes. Ao diagnóstico, a FISH foi realizada em 166 pacientes (37%), dos quais 33 pacientes apresentavam del(17p) (20%).

Os resultados apresentados no ASH`22 revelam que os tratamentos de 2L mais comumente prescritos foram: CF (+/- R) em 160 pacientes (36%); clorambucil (+/- R) em 109 (25%); ibrutinibe em 63 (14%); CHOP/CVP (+/- R) em 62 (14%); anticorpos monoclonais (+/- esteroides) em 33 (7%); transplante alogênico de células-tronco em 9 (2%) e venetoclax em 8 (2%). Quarenta pacientes (9%) foram tratados em ensaios clínicos. O acompanhamento mediano após o tratamento de 2L foi de 34 meses (intervalo: 3-176). A mediana do tempo até o próximo tratamento (TTNT) foi de 28 meses. O TTNT foi estatisticamente mais longo em pacientes que receberam ibrutinibe ou venetoclax de segunda linha em comparação com FC ou clorambucil +/- anti-CD20 (não alcançado versus 29 meses, p<0,0001) ou naqueles que receberam outros esquemas (CHOP ou CVP +/ - anti-CD20, anticorpos monoclonais +/- esteroides – 12 meses, p<0,0001).

Os autores destacam que a maior sobrevida livre de tratamento em 3 anos (TFS) também foi observada com ibrutinibe ou venetoclax (69% versus 41% e 23%, respectivamente, p<0,0001). Entre os pacientes incluídos em ensaios clínicos, TFS de 3 anos também foi maior (70% versus 38%, p<0,0001). TFS para pacientes que receberam transplante alogênico de células-tronco foi de 86% em 3 anos. A probabilidade de sobrevida global (SG) em 3 anos foi de 71%. A SG foi significativamente menor naqueles que receberam outros esquemas (CHOP/CVP ou anticorpos monoclonais +/- esteroides – 53%), em comparação com aqueles que receberam ibrutinibe ou venetoclax (80%, p<0,0001) ou FC/clorambucil baseada em quimioterapia (69%, p=0,01).

“Durante o período relatado, os tratamentos de segunda linha para LLC no Brasil foram em sua maioria baseados em quimioterapia ou quimioimunoterapia, com desfechos desfavoráveis associados a regimes semelhantes a CHOP/CVP ou anticorpos monoclonais +/- esteroides. Embora a adoção de terapias direcionadas tenha sido associada a TTNT e SG mais longos, o acesso a esses agentes ainda é muito limitado no ambiente público brasileiro”, conclui a análise. 

Referência: 3129 Real-World Outcomes of Second-Line Chronic Lymphocytic Leukemia Treatments: Retrospective Analysis of the Brazilian Registry of CLL
Program: Oral and Poster Abstracts
Session: 642. Chronic Lymphocytic Leukemia: Clinical and Epidemiological: Poster II
Sunday, December 11, 2022, 6:00 PM-8:00 PM
Marcelo Pitombeira de Lacerda, MD, PhD et al.