Onconews - Caracterização de pacientes com metástases cerebrais de melanoma uveal metastático

thiago munizThiago Pimentel Muniz (foto), oncologista do Princess Margaret Cancer Centre, em Toronto, no Canadá, é primeiro autor de pôster apresentado no ESMO 2022 que buscou descrever as características dos pacientes com melanoma uveal metastático que desenvolveram metástases cerebrais.

“Metástases cerebrais (MB) ocorrem raramente em pacientes com melanoma uveal metastático (MUM). No entanto, com o desenvolvimento de terapias que aumentam a sobrevida de pacientes com melanoma uveal metastático, o desenvolvimento de metástases cerebrais pode se tornar mais frequente. Como não temos dados da atividade intracerebral dessas novas terapias, a vigilância com neuroimagem se torna importante para detecção e tratamento precoce de lesões cerebrais com tratamentos locais, tais como radiocirurgia estereotática”, observa Muniz.

Neste estudo retrospectivo unicêntrico, os autores identificaram pacientes com melanoma uveal metastático que apresentaram mestástases cerebrais em qualquer momento da evolução clínica. Foram coletados dados sobre idade ao diagnóstico das metástases cerebrais, tempo para desenvolvimento de MB, sequenciamento de próxima geração (NGS) e análises de amplificação de sonda dependente de ligação multiplex (MLPA), linhas de terapia antes do diagnóstico de metástases cerebrais e gerenciamento das metástases. A sobrevida livre de progressão intracraniana (IC-PFS) e a sobrevida global (SG) a partir do diagnóstico de metástases cerebrais foram calculadas pelo método Log-Rank.

Resultados

De 2014 a 2021, foram identificados 210 pacientes com melanoma uveal metastático; 22 (10,4%) desenvolveram metástases cerebrais. A idade mediana ao diagnóstico da metástase cerebral foi de 59 anos (49-80); 12 (55%) pacientes eram do sexo masculino. O número médio de tratamentos sistêmicos antes do diagnóstico de MB foi de 2 (0-4) e incluiu anti-PD1 + anti-CTLA4 em 4 pacientes, monoterapia anti-PD1 em 8 pacientes e tebentafusp em 5 pacientes.

Onze (50%) pacientes tinham dados NGS disponíveis e, seguindo as mutações GNAQ/11 (11 pacientes), as alterações BAP1 foram as mais frequentes (4 pacientes: p.Val171Cysfs*12, p.Thr93_Ala95del, p.S58fs*4, ep .Glu653* cada). Três pacientes tiveram análise de MLPA, e todos tinham monossomia do cromossomo 3 e ganho de 8q. O tempo médio desde o diagnóstico de melanoma uveal metastático até a metástase cerebral foi de 16,6 meses (0-147). Quinze (68%) pacientes tiveram diagnóstico incidental e 17 (77%) tinham menos de 3 metástases cerebrais.

O tamanho médio da maior lesão foi de 15,9 mm (SD 2,4). Doze (55%) pacientes foram tratados com radiocirurgia estereotática (SRS) e 6 (27,5%) receberam radioterapia cerebral total. Quatorze (63%) pacientes receberam terapia sistêmica após o diagnóstico de metástase cerebral, que incluiu anti-PD1 + anti-CTLA4 em 2 pacientes, monoterapia anti-PD1 em 4 pacientes e tebentafusp em 1 paciente. A partir do diagnóstico de metástases cerebrais, a mediana de IC-PFS foi de 4,2 meses (95 % CI 3,7-4,8), e a mediana de sobrevida global foi de 7,4 meses (95% CI 3,1-11,7).

“Metástases cerebrais em pacientes com melanoma uveal metastático tendem a ocorrer tardiamente no curso da doença. Características moleculares de alto risco são frequentes nesta população. A vigilância com neuroimagem em pacientes com controle da doença a longo prazo pode ser justificada”, concluíram os autores.

Referência: T. Pimentel Muniz, E.C. Koch, M.F. Silva Almeida Ribeiro, M.T. Silveira, D.P. Arteaga Ceballos, P.A. Jablonska, L. Mantle, I. Hirsch, H. Krema, A. Spreafico, S. Saibil, D. Hogg, D. Shultz, M.O. Butler. Characterization of patients with brain metastases from metastatic uveal melanoma. ESMO Congress 2022, Abstract 856P