Estudo selecionado para apresentação no ESMO GI 2022 avaliou o perfil mutacional BRCAness e sua implicação clínica na predição de resposta à quimioterapia à base de platina em pacientes com colangiocarcinoma intra-hepático.
“Os tumores do trato biliar (CBTs) são neoplasias raras, com prognóstico reservado e estratégias terapêuticas escassas. O fenótipo BRCAness mostrou-se correlacionado com uma boa resposta à quimioterapia à base de platina e inibidores de PARP em vários contextos oncológicos, mas seu significado no câncer do trato biliar ainda é desconhecido”, observam os autores.
Nesse estudo, foram analisadas amostras de tecidos de pacientes com tumores do trato biliar tratados com quimioterapia à base de platina. O grupo BRCAness-mutado foi definido se apresentar pelo menos uma mutação em: ATM, BAP1, BARD1, BLM, BRCA1, BRCA2, BRIP1, CHEK2, FAM175A, FANCA, FANCC, NBN, PALB2, RAD50, RAD51, RAD51C e RTEL1, ARID1A, ATR, ATRX, CHEK1, RAD51L1 ou RAD51L3.
A análise teve como objetivo examinar a associação entre o fenótipo BRCAness e os resultados de sobrevida em pacientes com câncer do trato biliar avançado ou irressecável recebendo quimioterapia à base de platina. A sobrevida global foi estimada pelo método Kaplan-Meier e as curvas foram comparadas pelo teste log-rank. As razões de risco (HRs) não ajustadas e ajustadas por características do baseline foram calculadas usando o modelo de risco proporcional de Cox.
Resultados
A análise incluiu 150 pacientes; destes, 72 (48%) tinham mutação BRCAness e 78 (52%) eram BRCAness selvagem (WT). Os genes mutados mais comuns em toda a população foram CDKN2A (31%), ARID1A (21%), CDKN2B (21%), KRAS/NRAS (19%), BAP1 (17%), PBRM1 (15%) e TP53 (11%).
Os genes mais comumente mutados no grupo com mutação BRCAness foram: ARID1A (N=32, 44%), CDKN2A (N=23, 32%), KRAS/NRAS (N=16, 22%), CDKN2B (N=13, 18%), BRCA2 (N=13, 18%), PBRM1 (N=12, 17%), ATM (N=11, 15%), FGFR2 (N=10, 14%), TP53 (N=8, 11%), IRS2 (N=7, 10%), CREBBP (N=7, 10%).
A análise univariada de sobrevida livre de progressão para BRCAness-mutado foi associada com mediana de sobrevida livre de progressão (mPFS) mais longa (HR 0,68; 95% CI 0,49-0,95; p = 0,0254). A análise univariada de sobrevida global para BRCAness-mutado não foi associada a mediana de sobrevida global mais longa, mas foi encontrada uma tendência para benefício na sobrevida (HR 0,77; 95% CI 0,50-1,19; p = 0,2388). Pacientes com mutação BRCAness apresentaram uma porcentagem maior de taxa de controle da doença (77,8 vs 67,9; p = 0,04) em comparação com pacientes sem mutação BRCAness.
A análise multivariada confirmou a mutação BRCAness (HR 0,66; 95% CI: 0,45-0,98; p = 0,0422) como fator prognóstico favorável independente para SLP e uma tendência positiva foi encontrada para SG (HR 0,84; 95% CI: 0,53-1,33; p = 0. 3652). A mutação ATM foi detectada como estatisticamente significativa associada a uma pior SLP na população BRCAness-mutada (HR 2,83; 95% CI: 1,14-7,05; p = 0,0256).
Em conclusão, pacientes com câncer do trato biliar BRCAness apresentaram melhor sobrevida livre de progressão em comparação com os pacientes BRCAness selvagem após a exposição à quimioterapia à base de platina. “Além disso, a tendência das curvas de sobrevida global mostradas em nossa análise sugere que pacientes com mutação BRCAness poderiam se beneficiar de uma terapia de manutenção com inibidores de PARP após resposta à platina”, observaram os pesquisadores.
Referência: SO-3 Gene mutational profile of BRCAness and clinical implication in predicting response to platinum-based chemotherapy in patients with intrahepatic cholangiocarcinoma - M. Rimini, T. Macarulla, V. Burgio, S. Lonardi, M. Niger, M. Scartozzi, I. Rapposelli, G. Aprile, F. Ratti, F. Pedica, F. Nappo, C. Fabregat, M. Fassan, G. Frassineti, F. Simionato, F. De Cobelli, L. Aldrighetti, L. Fornaro, S. Cascinu, A. Casadei Gardini