Erick Saldanha (foto), fellow do A.C Camargo Cancer Center, é primeiro autor de estudo que buscou avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 na prestação de cuidados em pacientes com carcinoma de células escamosas do ânus em dois centros de tratamento de câncer: o A.C.Camargo Cancer Center, São Paulo, Brasil, e o Princess Margaret Cancer Centre, em Toronto, Canadá. Os resultados foram selecionados para apresentação em pôster no ESMO World Congress on Gastrointestinal Cancer, em Barcelona, Espanha.
“A pandemia de COVID-19 interrompeu a prestação de cuidados de câncer em todo o mundo, levando a um declínio na triagem de câncer, atrasos em testes diagnósticos e modificações no tratamento. Pouco foi relatado sobre o impacto da prestação de cuidados durante a COVID-19 em pacientes com tumores raros, como carcinoma de células escamosas do ânus (SCCA)”, observa Saldanha, fellow do último ano do programa de oncologia clínica do A.C Camargo Cancer Center.
Nesse estudo retrospectivo de duas coortes consecutivas, os pesquisadores compararam prontuários eletrônicos com dados demográficos e padrões de atendimento de pacientes adultos diagnosticados com SCCA no A.C.Camargo Cancer Center e no Princess Margaret Cancer Centre no período peri-COVID-19 (1° de fevereiro de 2020 a 31 de janeiro de 2021) com o mesmo período do ano anterior (1° de fevereiro de 2019 a 31 de janeiro de 2020), nos seis meses seguintes à primeira consulta.
Resultados
No total, foram incluídos 73 pacientes: 35 pacientes no período peri-COVID-19 e 38 pacientes no período pré-COVID-19. As duas coortes tiveram composições demográficas semelhantes em termos de idade e sexo [controle: mediana de 61,4 anos de idade (IQR: 41,8 e 92,1), 55% do sexo feminino; peri-COVID-19: mediana de 66,9 anos de idade (IQR: 41-91,1), 63% do sexo feminino].
Os pacientes das duas instituições apresentaram características semelhantes nos períodos peri e pré-COVID-19. No A.C.Camargo, o número de pacientes diagnosticados com carcinoma de células escamosas do ânus durante a pandemia de COVID-19 foi metade do observado no ano anterior à pandemia. Durante a COVID-19, a proporção de pacientes que recebeu radioterapia diminuiu em ambas as instituições quando comparado com o período pré-pandemia; essa diminuição, no entanto, não foi significativa: 100% vs 83% no A.C.Camargo ( p=0,32) e 84% vs 76% no Princess Margaret (p=0,52).
Uma proporção semelhante de pacientes recebeu quimioterapia nos períodos peri e pré-COVID-19, respectivamente: 80% vs 82%. A doença estágio III ao diagnóstico foi o mais comum (pré-COVID: 46%, peri-COVID: 46%). A proporção de pacientes operados foi semelhante entre as duas coortes (peri-COVID-19: 23%; controle: 21%).
“Nosso estudo multicêntrico mostra que durante a pandemia de COVID-19, o número de pacientes que receberam radioterapia para tratar carcinoma de células escamosas do ânus foi numericamente inferior, embora não estatisticamente significativo. Em um dos centros de câncer, o número de novos casos da doença diminuiu 50%.
É necessário um acompanhamento mais longo para entender o impacto das modificações do tratamento nos resultados clínicos de pacientes com carcinoma de células escamosas do ânus”, concluíram os autores.
Referência: P-109 Care delivery impact of the COVID-19 pandemic on anal cancer care - E. Saldanha1, M. Powis2, F. Cavalher1, S. Hack2, M. Simoes1, M. Costa1, A. Baiad2, Z. Mohmand2, K. Chen2, P. Nakhla2, O. Espin-Garcia2, L. Huaqi2, R. Riechelmann1, M. Krzyzanowska2 - 1 A.C.Camargo Cancer Center, São Paulo, Brazil; 2 Cancer Quality Lab (CQuaL), Princess Margaret Cancer Center, Toronto, Canada