Estudo de pesquisadores belgas buscou caracterizar a assinatura bacteriana intra-tumoral do câncer colorretal metastático (mCRC) através de amostras obtidas em larga escala de diferentes biobancos na Bélgica.
Evidências iniciais sugeriram papel do microbioma intestinal e tecidual no desenvolvimento do câncer colorretal (CCR). No entanto, a parte desse microbioma intratumoral que promove ou auxilia a metástase para órgãos distantes permanece inexplorada. Os pesquisadores lembram que cepas bacterianas semelhantes de tumores primários de CCR foram identificadas em metástases hepáticas, mas observam que poucas hipóteses mecanicistas foram propostas para explicar como ocorre essa translocação bacteriana para locais distantes, ou, ainda, se o microbioma do tumor pode influenciar a disseminação ou o comportamento das metástases e sua resposta imune local.
Nesta análise, foram coletadas 378 amostras de 99 pacientes, a partir de 104 tumores colorretais primários (TP) e 99 metástases hepáticas pareadas (LMT), ambas as amostras associadas a tecido adjacente normal (NAT) como controle (n = 83 e 58, respectivamente). “Adicionamos tumores hepáticos primários (carcinoma hepatocelular (HCC, n = 28) e colangiocarcinoma (CGC, n = 6) de 27 pacientes como coorte comparativa para LMT. A região V4 do gene 16S rRNA bacteriano foi sequenciada. O pipeline computacional DADA2 foi usado para processar os dados de sequenciamento e determinar a abundância de variantes de sequência de amplicon (ASV)”, descrevem os autores.
Os resultados apresentados na ESMO GI 2022 mostram que sequências bacterianas foram identificadas em todos os tipos de tecidos. Com base nos resultados preliminares, a análise baseada na composição bacteriana das amostras revelou significativo agrupamento amostral (PERMANOVA) e por tipo de tecido (TP, LMT e HCC-CGC). O número lido e a composição bacteriana do NAT foram semelhantes ao tecido tumoral associado. Os autores descrevem que o tecido de tumor primário, como esperado por sua origem colônica, apresentou maior biomassa bacteriana do que LMT, mas a composição do microbioma específico de LMT foi parcialmente sobreposta a do TP, consistindo em táxons prevalentes relatados anteriormente. “O número de ASVs compartilhados entre TP e LMT foi significativamente maior do que entre pacientes (modelo de regressão linear com valor de p= 4,22 e -10), sugerindo uma transferência bacteriana individual. Esta transferência foi entendida como um evento probabilístico, pois se correlacionou com a abundância de táxons, e foi mais provável para as bactérias mais abundantes no TP.
“Nossos resultados preliminares sugerem a presença de uma baixa biomassa bacteriana no LMT com características mais próximas do TP em comparação com os tumores primários do fígado, sugerindo um “tipo por tumor” em vez de assinatura e abundância bacteriana “por órgão”. Uma transferência bacteriana dentro do paciente com TP para LMT parece ser observada para os táxons mais abundantes”, concluem os autores, observando que esses resultados preliminares estão atualmente em processo de validação. “Se nossos resultados forem confirmados, este estudo multicêntrico de grande escala nos permitiria caracterizar e classificar a assinatura bacteriana do tecido tumoral no mCRC para compará-la com características genômicas e imunes do tumor”, destacam.
Referência: SO-26 - Identification and quantification of the microbiome in colorectal cancer metastases - P. Stevens et al.