Onconews - Capecitabina em pacientes com metástases de câncer de mama no sistema nervoso central

mariana gouveiaA oncologista Mariana Gouveia (foto), do ICESP, é primeira autora de estudo selecionado para Spotlight Discussion no San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS 2022) que buscou avaliar a eficácia da capecitabina para metástases do sistema nervoso central em pacientes com câncer de mama tratadas na instituição entre 2010 e 2021.

O sistema nervoso central (SNC) é um local comum de metástases de câncer de mama, mas a eficácia da terapia sistêmica para metástases do SNC no câncer de mama HER2-negativo é limitada. Embora novas terapias anti-HER2 pareçam ser mais eficazes nesse cenário, essas drogas ainda não estão amplamente disponíveis. A quimioterapia com capecitabina é frequentemente usada em pacientes com metástases no SNC, mas os dados que suportam sua atividade são escassos.

Este estudo retrospectivo incluiu pacientes com câncer de mama e metástases no sistema nervoso central confirmadas tratadas com capecitabina em um centro oncológico terciário entre 2010 e 2021. Os endpoints do estudo incluíram taxa de resposta objetiva intracraniana (CNS-ORR) e taxa de controle de doença intracraniana (CNS-DCR), sobrevida livre de progressão intracraniana (CNS-SLP) e sobrevida global (SG). As análises de sobrevida foram estimadas pelo método de Kaplan-Meier e comparadas pelo teste de log-rank.

Resultados

Entre 209 pacientes incluídas, 41,6% eram receptor hormonal positivo (HR+) HER2-negativo, 33,9% HER2-positivo e 24,4% triplo-negativos (TNBC). A maioria dos pacientes apresentou ECOG 0-1 (56,9%) e recebeu < 2 linhas de quimioterapia (77,9%) antes da capecitabina. Metástases do parênquima cerebral estiveram presentes em 85,5%; 37,8% tinham ≥ 5 lesões cerebrais.

A radioterapia foi realizada em 90,4% dos casos e cirurgia do SNC em 27,5%. Entre 124 pacientes acessíveis para resposta intracraniana, CNS-ORR e CNS-DCR foram 31,4% e 79% em 3 meses. A mediana do CNS-SLP foi de 5,6 meses e a mediana de sobrevida global foi de 7,9 meses.

A Tabela 1 mostra CNS-ORR e CNS-DCR em 3 meses de acordo com o subtipo imuno-histoquímico. Embora o TNBC tivesse maior CNS-ORR em 3 meses (48%), esse subgrupo teve pior prognóstico em comparação com pacientes HR+ (SG: HR = 1,87, 95% CI = 1,28 – 2,73, p = 0,001). A mediana de sobrevida global foi de 8,7 meses e 9,1 meses para os subtipos HR+ e HER2+, respectivamente, e 4,5 meses para TNBC. A sobrevida global foi pior em pacientes com ECOG-PS ≥ 2 (p = 0,017) e não foi influenciada pelo número ou tamanho das metástases cerebrais, número de linhas de quimioterapia anteriores e cirurgia ou radioterapia prévias no SNC.

Em síntese, os resultados mostraram que pacientes com metástases de câncer de mama no sistema nervoso central ainda têm um prognóstico ruim. “Subtipo triplo-negativo e ECOG-PS ≥ 2 foram fatores prognósticos negativos. No entanto, entre os pacientes acessíveis para resposta intracraniana, CNS-ORR e CNS-DCR satisfatórios foram observados com capecitabina, sugerindo atividade dessa droga para pacientes selecionados”, concluíram os autores.

O estudo também contou com a participação dos médicos Cássio Murilo Hidalgo Filho, Renata Colombo Bonadio e Laura Testa.

Referência: PD7-04 Capecitabine treatment for patients with central nervous system metástases from breast cancer - Presenting Author(s) and Co-Author(s): Mariana Gouveia, MD, Medical Oncology resident - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil; Cássio Murilo Hidalgo Filho, MD, Medical Oncology resident - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil; Renata Colombo Bonadio, MD, Medical Oncologist - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil; Laura Testa, MD, Medical Oncologist - Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil