Samir Hanna (foto) e colegas apresentaram no SABCS`22 série brasileira de instituição única, em análise que descreve a experiência do Hospital Sírio-Libanês (HSL), em São Paulo, com a radioterapia ultra-hipofracionada no câncer de mama. O estudo tem como primeira autora Letícia Hernandes de Brito, residente de Rádio-Oncologia do HSL.
“O estudo representa a experiência institucional em tratamentos de radioterapia com hipofracionamento extremo para o câncer de mama. Essa estratégia ganhou corpo a partir de 2020, pela publicação de estudos com seguimento tardio dos pacientes tratados, em meio à pandemia. A proposta de tratamentos rápidos tem o potencial de diminuir a sobrecarga dos serviços de assistência oncológica, sobretudo na saúde pública. Ademais, nossa casuística tem um subgrupo de pacientes com carcinoma in situ, algo que não foi tão bem explorado nos estudos britânicos. Muito nos alegrou o fato de que as toxicidades não foram altas, e os aspectos dosimétricos também tenham sido favoráveis”, destaca Hanna.
O ultra-hipofracionamento em pacientes com câncer de mama inicial foi avaliado em estudos randomizados de não-inferioridade de fase III, mas poucos dados sobre essa abordagem estão disponíveis em pacientes latino-americanos. Nesta análise, os pesquisadores buscaram descrever o perfil das pacientes com diagnóstico de câncer de mama tratadas com radioterapia em regime ultra-hipofracionado (5 frações de 5,2 Gy, em uma semana), bem como os aspectos dosimétricos e a toxicidade aguda relacionados ao tratamento.
Entre maio de 2020 e março de 2022, foram incluídos 67 pacientes, com idade mediana ao diagnóstico de 71 anos (41-93). Em relação ao estadiamento, a análise apresentada em San Antonio revela que 25,8% apresentavam tumores in situ, 60,6% dos pacientes eram IA e apenas 3% eram estádio IIA. Dezenove por cento dos participantes apresentavam grau histológico 3 e 24,6%, tinham grau nuclear 3.
Os autores descrevem que 92,1% dos pacientes tinham tumores receptores hormonais positivos. O Ki67 médio foi de 19% e o HER2 foi negativo em 84,5%. Todos os pacientes foram submetidos à cirurgia conservadora e 5 realizaram reconstrução com retalhos autólogos. Cinquenta e um pacientes foram submetidos à hormonioterapia e apenas dois à quimioterapia adjuvante. Todos, exceto dois pacientes, foram tratados com a técnica conformada (VMAT foi usado devido à anatomia desfavorável). O volume médio da mama irradiada foi de 926 cm3 (variando de 920 a 932 cm3).
Em relação às restrições dos órgãos de risco, o V8Gy médio do pulmão ipsilateral foi de 11,4%, variando de 0 a 24%. No coração, os volumes médios recebendo 1,5Gy e 7Gy foram, respectivamente, 9,2% e 0,7%. Nenhum paciente apresentou toxicidade aguda maior que grau 2. Os efeitos na pele surgiram em média 20 dias após o término do tratamento, com resolução em no máximo 3 meses. O acompanhamento mediano foi de 10 meses (3 - 26). Não observamos nenhum caso de recidiva local, de morte relacionada ao câncer de mama.
“Embora nosso tempo de seguimento seja prematuro, identificamos que a radioterapia ultra-hipofracionada foi viável, tolerável e segura para pacientes com câncer de mama inicial. Além disso, as restrições sobre os órgãos em risco foram respeitadas. Não houve toxicidade aguda de alto grau. Além da conveniência, o ultra-hipofracionamento pode melhorar o acesso à radioterapia “, concluem os autores.
Referência: P1-10-03 - Ultra-hypofractionated radiotherapy for breast cancer: A Brazilian single-institutional series - Hernandes de Brito L, Cicci Farinha Restini F, Mansur Starling MT, Silva Moreira de Siqueira G, Nader Marta G, de Andrade Carvalho H, Abdallah Hanna S. Hospital Sirio-Libanês; Hospital Sirio-Libanes, Sao Paulo, Brazil.