Estudo do INCA apresentado pela pesquisadora Sheila Coelho Soares-Lima (foto) no encontro anual da Associação Americana de Pesquisa em Câncer (AACR`2023) evidenciou profundas disparidades socioeconômicas e seu impacto no tratamento do câncer de esôfago no Brasil, em um alerta para reduzir as iniquidades que afetam do diagnóstico ao prognóstico dos pacientes.
O câncer de esôfago é o sexto mais incidente e o quinto mais letal entre os homens no Brasil. Estadios avançados ao diagnóstico, resultados terapêuticos insatisfatórios, bem como altas taxas de recorrência e mortalidade refletem o conhecimento limitado da doença e destacam a necessidade de novas estratégias para melhorar o atendimento ao paciente.
Neste estudo, os pesquisadores avaliaram retrospectivamente uma coorte de 850 casos de câncer de esôfago atendidos no Instituto Nacional do Câncer (INCA) de 2012 a 2016. As características sociodemográficas e clínicas dos pacientes foram comparadas entre os tipos histológicos mais frequentes (adenocarcinoma - EAC e carcinoma de células escamosas - ESCC), assim como foram comparados indicadores sobre variáveis associadas à apresentação avançada ao diagnóstico, oferta de tratamentos curativos, resposta à terapia e sobrevida global (SG).
Sheila e colegas descrevem que os pacientes com ESCC eram mais jovens (p=0,007), frequentemente não brancos (p<0,001), na maioria das vezes não tinham companheiro (p<0,001) e apresentavam menor escolaridade (p<0,001), assim como maior predomínio de fumantes e etilistas (p<0,001). A frequência de pacientes que não receberam nenhum tratamento foi maior entre ESCC (40,8%) em relação a EAC (32,6%) (p=0,003).
Os tratamentos potencialmente curativos (cirurgia ou tratamento trimodal) foram mais comumente oferecidos aos pacientes com EAC (p<0,001). Os pacientes com ESCC apresentaram SG mediana de 7,4 meses (6,7 - 8,0 meses) em relação a 10,3 meses (8,4 - 12,1 meses) entre aqueles com EAC (p <0,001).
Quando analisados os tipos histológicos específicos de tumor, os resultados apresentados no AACR`2023 mostram que as variáveis associadas aos estádios I e II do EAC foram sexo feminino (p=0,016), origem não metropolitana e não etilistas (p=0,048). Além disso, entre pacientes com EAC, a maior escolaridade (p<0,001) esteve associada a tratamentos curativos. A SG em pacientes com EAC foi associada de forma significativa e independente ao estágio do tumor no momento do diagnóstico (p=0,001) e a tratamentos curativos (p<0,001).
No EAC, o diagnóstico precoce esteve associado à cor da pele branca (p=0,031) e à ocorrência de segundo tumor primário (p<0,001). Tratamentos curativos foram mais comumente oferecidos a pacientes com ESCC que tinham companheiro (p=0,028), escolaridade superior (p=0,010) e não etilistas (p=0,042). A resistência à quimiorradioterapia foi associada ao tabagismo (p=0,001) e ao baixo índice de massa corporal (p=0,028) entre os casos de ESCC, enquanto a SG foi significativa e independentemente associada ao tabagismo (p=0,002) e ao estadiamento (p<0,001).
“Em resumo, as características sociodemográficas e clínicas afetaram os resultados e atenção especial deve ser dada aos fatores de risco modificáveis, como tabagismo e estado nutricional. Além disso, nosso estudo evidenciou como os aspectos sociais estão indissociavelmente ligados aos desfechos de saúde e esforços devem ser feitos para minimizar essa lacuna”, concluem os autores.
Referência: Esophageal cancer clinical and socioeconomic aspects in Brazil: Inequalities affect patients from diagnosis to prognosis
Sessão: PO.PS01.07 - Cancer Disparities 1
Data: April 17, 2023, 9:00 AM - 12:30 PM
Autores: Rachele Grazziotin Reisner, Flávia Nascimento de Carvalho, Luis Felipe Ribeiro Pinto, Sheila Coelho Soares-Lima - Brazilian National Cancer Institute (INCA), Rio de Janeiro, Brazil