Onconews - INCA estuda epigenética do câncer de mama em mulheres negras

negraPara explorar ainda mais a associação entre raça, ancestralidade e metilação do DNA, estudo brasileiro aceito no programa científico do AACR`2023 avaliou uma coorte de pacientes do Instituto Nacional do Câncer (INCA), compreendendo mulheres autoidentificadas como negras ou pardas. O trabalho tem como primeira autora a pesquisadora Lissette Delgado-Cruzata e amplia a compreensão sobre epigenética do câncer de mama em brasileiras afrodescendentes.

O câncer de mama é o mais frequente e a principal causa de morte relacionada ao câncer em mulheres brasileiras. Estudos têm mostrado que, enquanto a mortalidade por câncer de mama aumentou na última década para todas as mulheres no Brasil, a mortalidade em mulheres afrodescendentes dobrou. Estudo recente mostrou que as mulheres afro-brasileiras sofrem de maior excesso de mortalidade por câncer de mama, mesmo após o ajuste para extensão da doença, ano de diagnóstico, idade e nível socioeconômico, o que sugere que fatores biológicos também contribuem para as diferenças na composição clínico-patológica da doença em mulheres neste grupo.

Os biomarcadores de metilação do DNA, representando uma combinação de fatores genéticos e não genéticos, têm o potencial de prestar uma contribuição valiosa na etiologia do câncer de mama. Vários grupos encontraram diferenças nos níveis de metilação do DNA no câncer de mama associadas à raça e etnia. Além disso, a pesquisa mostrou que mulheres de diferentes raças/etnias com subtipos de tumor de câncer de mama semelhantes têm padrões distintos de metilação do DNA.

Nesta análise, foram consideradas amostras pareadas de tecido tumoral e não tumoral de quarenta e oito mulheres brasileiras que se autoidentificaram como negras ou pardas e foram tratadas no  INCA, Rio de Janeiro. “Realizamos uma análise de perfil de metilação de DNA usando matrizes Illumina EPIC (850k) em DNA convertido em bissulfito originalmente extraído de amostras de tecido congeladas”, descrevem os autores.

Os resultados apresentados no AACR`2023 mostram que um total de 739.883 sondas diferencialmente metiladas (DMP) foram identificadas, das quais uma grande proporção de 6.241 (78,4%) era hipometilada. A menor metilação do DNA foi mais comum em regiões intragênicas e corpos gênicos, enquanto a hipermetilação foi mais comumente encontrada nas regiões promotoras. A metilação do DNA foi frequentemente maior em amostras não tumorais do que em amostras tumorais. “Entre nossos principais resultados, encontramos genes previamente associados a tipos de tumores negativos para receptores de estrogênio, CDH4, CERK, PROX1 e ADHFE1, e com alto risco de mortalidade por câncer de mama (ST6GAL1, LYN, TFF1 e BMP3). Uma análise da via de enriquecimento de DPM previu efeitos em vias de sinalização conhecidas e desregulação transcricional. Atualmente, estamos analisando as associações entre as principais regiões metiladas diferencialmente com marcadores informativos de ancestralidade e as características clínico-patológicas da doença, para obter uma melhor compreensão do papel das marcas de metilação do DNA nessa população”, concluem os autores.

Referência: Abstract 5516: Identificando biomarcadores de metilação do DNA em mulheres brasileiras afrodescendentes

Lissette Delgado-Cruzata; Diego J. Gomes de Paula; Jennifer Vieira Gomes; Tatiana A. Simão; Leonor Gusmão; Luís Felipe Ribeiro Pinto; Sheila C. Soares-Lima

Cancer Res (2023) 83 (7_Supplement): 5516.

https://doi.org/10.1158/1538-7445.AM2023-5516