Irinotecano lipossomal + 5-fluorouracil/leucovorina (5-FU/LV) é aprovado nos EUA e na Europa para adenocarcinoma ductal pancreático metastático (mPDAC) após progressão com terapia baseada em gencitabina. Estudo de fase 1/2 (NCT02551991) demonstrou atividade antitumoral promissora em pacientes com mPDAC que receberam irinotecano lipossomal de primeira linha 50 mg/m2 + 5-FU 2400 mg/m2 + LV 400 mg/m2 + oxaliplatina 60 mg/m2 (NALIRIFOX). Estudo destacado em sessão oral no ASCO 2023 apresentou os resultados de estudo randomizado de fase 3 que investigou a eficácia e segurança de NALIRIFOX em comparação com nab-paclitaxel 125 mg/m2 + gemcitabina 1000 mg/m2 (Gem+NabP) como terapia de primeira linha em pacientes com mPDAC. O oncologista Rivadávio Antunes de Oliveira (foto), coordenador da residência médica do Hospital do Câncer de Londrina, comenta os resultados.
“mPDAC é um tipo de câncer agressivo e muito frequentemente detectado já em estágios avançados, com opções terapêuticas limitadas e com sobrevida global em 5 anos de apenas 11%. Há uma necessidade crítica não atendida em melhorar a sobrevida e a qualidade de vida destes pacientes”, esclarece Oliveira. “Por muito tempo, tivemos apenas dois regimes no cenário de mPDAC: Gem+NabP e FOLFIRINOX. E não tivemos estudos que pudessem comparar ambos. A progressão em estudos em mPDAC é lenta com opções de tratamento bem limitadas. NAPOLI-3 veio para tentar mudar esse cenário”, acrescenta.
Neste estudo randomizado, aberto, de fase 3 (NAPOLI 3) foram elegíveis pacientes com mPDAC com confirmação histopatológica/citológica e sem tratamento prévio, randomizados (1:1) para receber NALIRIFOX nos dias 1 e 15 de um ciclo de 28 dias ou Gem+NabP nos dias 1, 8 e 15 de um ciclo de 28 dias. Os pacientes foram estratificados pelo status de desempenho (ECOG), região geográfica e presença/ausência de metástases hepáticas. O endpoint primário foi a sobrevida global (SG). Endpoints secundários foram sobrevida livre de progressão (SLP), taxa de resposta global (TRG) e segurança. A SG foi avaliada quando pelo menos 543 eventos foram observados usando teste log-rank estratificado com nível de significância unilateral geral de 0,025.
Resultados
Foram incluídos 770 pacientes (NALIRIFOX, n = 383; Gem+NabP, n = 387), com características basais bem equilibradas entre os braços.
Em um seguimento mediano de 16,1 meses, ocorreram 544 eventos. A SG mediana foi de 11,1 meses no grupo NALIRIFOX versus 9,2 meses no grupo Gem+NabP; a SLP mediana foi de 7,4 meses versus 5,6 meses. A duração mediana (IC 95%) de resposta foi de 7,3 (5,8–7,6) e 5,0 (3,8–5,6) meses em pacientes que receberam NALIRIFOX e Gem+NabP, respectivamente.
Em relação à segurança, eventos adversos emergentes do tratamento de grau 3/4 ocorreram em pelo menos 10% dos pacientes recebendo NALIRIFOX versus Gem+NabP, incluindo diarreia (20,3% versus 4,5%), náusea (11,9% versus 2,6%), hipocalemia (15,1% versus 4,0%) , anemia (10,5% vs 17,4%) e neutropenia (14,1% vs 24,5%).
Em síntese, os autores destacam que NALIRIFOX na primeira linha demonstrou melhora clínica e estatisticamente significativa de SG e SLP em comparação com Gem+NabP em pacientes com mPDAC. O perfil de segurança de NALIRIFOX foi consistente com os perfis dos componentes do regime e manejável.
Rivadávio ressalta que aos 3 meses, as curvas de sobrevida global já começam a se separar e permanecem assim até o final do desfecho. “Além da melhora clara na SG e SLP, a taxa de resposta objetiva também foi maior no grupo NALIRIFOX com 41,8 % x 36.2% no grupo Gem+NabP. Não há dúvidas que a SG e SLP foram mais benéficas no grupo NALIRIFOX, como mencionado anteriormente, com dados consistentes, independente do PS, região, ou presença de metástases hepáticas”, observa.
Segundo o oncologista, em relação aos efeitos adversos, o que chama a atenção no grupo de NALIRIFOX são os eventos gastrointestinais como diarreia e náusea, mas que são manejáveis dentro do contexto proposto. “Neuropatia periférica parece ser um pouco menor no grupo NALIRIFOX. Não esquecendo que a dose da oxaliplatina no grupo NALIRIFOX era de 60 mg/m², diferente do estudo do FOLFIRINOX, que era 85 mg/m², diz.
“NALIRIFOX melhorou a SG em 1,9 meses assim como a SLP em 1,8 meses. O estudo atingiu seus endpoints, respondendo assim uma importante questão na área referida, até então com um regime standard of care (Gem+NabP). O desafio agora é aguardar pela droga em território brasileiro (ainda não temos a aprovação) e saber como ela chegará (em termos de custos)”, conclui Rivadávio.
Informações deste ensaio clínico: NCT04083235.
Referência: Liposomal irinotecan + 5-fluorouracil/leucovorin + oxaliplatin (NALIRIFOX) versus nab-paclitaxel + gemcitabine in treatment-naive patients with metastatic pancreatic ductal adenocarcinoma (mPDAC): 12- and 18-month survival rates from the phase 3 NAPOLI 3 trial.
First Author: Eileen Mary O'Reilly, MD
Meeting: 2023 ASCO Annual Meeting
Session Type: Oral Abstract Session
Session Title: Gastrointestinal Cancer—Gastroesophageal, Pancreatic, and Hepatobiliary
Track: Gastrointestinal Cancer—Gastroesophageal, Pancreatic, and Hepatobiliary
Subtrack: Pancreatic Cancer - Advanced/Metastatic Disease
Abstract #: 4006