O inibidor de checkpoint imune nivolumabe (Opdivo®) associado à quimioterapia reduziu significativamente o risco de progressão da doença e morte relacionada à doença em comparação com o tratamento padrão com o anti-CD30 brentuximabe (Adcetris®) mais quimioterapia em pacientes pediátricos e adultos com linfoma de Hodgkin estágio III ou IV sem tratamento prévio. Quem comenta os resultados do estudo SWOG S1826 (LBA4), apresentado na Sessão Plenária do ASCO 2023, é o hematologista Otávio Baiocchi (foto), professor e coordenador dos grupos de linfomas da UNIFESP e diretor da hematologia, onco-hematologia e terapia celular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“O estudo SWOG S1826 apresentado no ASCO 2023 é mais um capítulo na história de sucesso do tratamento para Linfoma de Hodgkin, câncer mais comum em adolescentes e adultos jovens. Nas últimas décadas, estudos clínicos randomizados avaliando o tratamento do linfoma de Hodgkin têm, dentre outros, dois objetivos principais: diminuir a chance de progressão da doença associado a um perfil de segurança melhor em comparação com os tratamentos atuais”, destaca Baiocchi.
A adição de brentuxima vedotina (BV) à quimioterapia inicial melhora a sobrevida global em adultos e a sobrevida livre de progressão em pacientes pediátricos com linfoma de Hodgkin em estágio avançado. No entanto, o tratamento com BV em primeira linha adiciona toxicidade, a maioria dos pacientes pediátricos recebe radioterapia e 7 a 20% dos pacientes ainda desenvolvem linfoma de Hodgkin recidivante/refratário (RR). “A via PD-1-PDL-1, que inibe a resposta imune anti-tumoral, é essencial para o desenvolvimento do linfoma de Hodgkin, e o seu bloqueio é extremamente eficaz no LHc. O bloqueio da proteína PD-1, ativa a resposta imune linfocitária T contra as células neoplásicas (células de Reed-Sternberg) do LHc”, explica o hematologista.
Sobre o estudo
Os grupos cooperativos adultos e pediátricos da National Clinical Trials Network (NCTN) conduziram o estudo randomizado de fase 3 SWOG S1826 para avaliar nivolumabe + quimioterapia AVD (adriamicina, vinblastina e dacarbazina; N-AVD) em comparação com brentuximabe vedotina + AVD (BV-AVD) em pacientes com diagnóstico recente de linfoma de Hodgkin estágio avançado.
Os pacientes elegíveis tinham ≥12 anos com linfoma de Hodgkin estágio 3-4, e foram randomizados 1:1 para 6 ciclos de N-AVD ou BV-AVD. Os pacientes tratados com BV-AVD foram obrigados a receber profilaxia de neutropenia com G-CSF, o que foi opcional naqueles tratados com N-AVD. Pacientes pré-especificados podem receber radioterapia para lesões metabolicamente ativas residuais no final do tratamento. Os pacientes foram estratificados por idade, escore prognóstico internacional (IPS) e intenção de usar radioterapia. A resposta e a progressão da doença foram avaliadas por investigadores usando a Classificação de Lugano de 2014. O endpoint primário foi a sobrevida livre de progressão; endpoints secundários incluíram sobrevida global, sobrevida livre de eventos, resultados relatados pelo paciente (PROs) e segurança.
Resultados
Entre julho de 2019 e outubro de 2022, foram inscritos 994 pacientes; 976 eram elegíveis e foram randomizados para N-AVD (n=489) ou BV-AVD (n=487). A mediana de idade foi de 27 anos (intervalo, 12-83 anos), 56% dos pacientes eram homens, 76% eram brancos, 12% eram negros e 13% eram hispânicos. 24% dos pacientes tinham < 18 anos, 10% tinham > 60 anos e 32% tinham IPS 4-7. Até o momento, < 1% dos pacientes receberam RT.
Na segunda análise interina planejada (50% do total de eventos de SLP), o Comitê de Monitoramento de Segurança e Dados do SWOG recomendou relatar os resultados primários porque o endpoint primário de SLP cruzou o limite estatístico conservador especificado pelo protocolo. 30 eventos de SLP ocorreram após N-AVD versus 58 eventos após BV-AVD.
Com um acompanhamento médio de 12,1 meses, houve uma redução de 52% no risco de morte relacionada à doença com nivolumabe versus brentuximabe (HR 0,48, 99% CI 0,27-0,87, one-sided p = 0,0005). A sobrevida livre de progressão (SLP) em um ano com nivolumabe foi de 94% vs. 86% para brentuximabe. Houve 11 mortes (7 devido a eventos adversos) com brentuximabe versus 4 com nivolumabe (3 devido a eventos adversos).
A taxa de eventos adversos hematológicos de grau ≥ 3 foi de 48,4% (45,1% gr ≥ 3 neutropenia) após N-AVD em comparação com 30,5% (23,9% gr ≥ 3 neutropenia) após BV-AVD. Taxas (qualquer grau) de neutropenia febril (5,6% N vs 6,4% BV), pneumonite (2,0% N vs 3,2% BV), elevação de ALT (30,7% N vs 39,8% BV) e colite (1% N vs 1,3% BV) foram semelhantes. O hipo/hipertireoidismo foi mais frequente após N-AVD (7%/3% N vs <1% BV), enquanto a neuropatia periférica de qualquer grau foi mais comum após BV-AVD (sensorial: 28,1% N vs 54,2% BV; motora: 4% N vs 6,8% BV).
“O SWOG S1826 é o maior estudo de linfoma de Hodgkin na história do NCTN, e representa um passo fundamental para harmonizar o tratamento pediátrico e adulto da doença em estágio avançado. Nossos resultados mostraram que nivolumabe + AVD melhorou a sobrevida livre de progressão nessa população de pacientes, com poucos eventos adversos observados e menos de 1% dos pacientes com necessidade de radioterapia. Um acompanhamento mais longo é necessário para avaliar a sobrevida global e outros desfechos relacionados ao paciente, como a qualidade de vida”, concluíram os autores.
O estudo foi financiado pelo National Cancer Institute/National Institutes of Health.
Referência: SWOG S1826, a randomized study of nivolumab(N)-AVD versus brentuximab vedotin(BV)-AVD in advanced stage (AS) classic Hodgkin lymphoma (HL).
First Author: Alex Francisco Herrera, MD
Meeting: 2023 ASCO Annual Meeting
Session Type: Plenary Session
Session Title: Plenary Session
Track: Hematologic Malignancies—Lymphoma and Chronic Lymphocytic Leukemia
Subtrack: Hodgkin Lymphoma
Abstract #: LBA4