Onconews - Talazoparibe e enzalutamida no câncer de próstata metastático resistente a castração

jose mauricio 21 bxA combinação do inibidor de PARP talazoparibe (TALA) e do inibidor do receptor de andrógeno enzalutamida (ENZA) demonstrou melhora clínica e estatisticamente significativa na sobrevida livre de progressão radiográfica (SLPr) como padrão de tratamento de primeira linha (1L) de pacientes com câncer de próstata metastático resistente a castração (mCRPC), independentemente do status do gene de reparo de recombinação homóloga (HRR), prolongando o tempo para deterioração da qualidade de vida. “Os resultados do estudo TALAPRO-2 são promissores e podem representar uma nova opção de tratamento para pacientes com mCRPC em primeira linha, principalmente para aqueles com alterações em genes de reparo de DNA”, avalia o oncologista José Maurício Mota (foto).

Neste estudo randomizado de fase 3, foram incluídos pacientes com mCRPC não selecionados para alterações em genes relacionados ao reparo ao dano de DNA (HRR), para receber TALA + ENZA ou PBO + ENZA como tratamento de primeira linha para mCRPC. Os critérios de inclusão consideraram pacientes com mCRPC assintomático ou com sintomas leves, com progressão da doença no início do estudo, ECOG PS ≤1. O desfecho principal foi SLPr por comitê central de revisão independente (BICR), considerando critérios RECIST 1.1 e PCWG3 (Prostate Cancer Working Group 3).

Os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para TALA 0,5 mg ou PBO + ENZA 160 mg ao dia, estratificados por status de HRR (deficiente vs. não deficiente ou desconhecido) e por tratamento prévio no cenário sensível à castração com abiraterona ou docetaxel (sim vs. não).

Os resultados foram destacados no ASCO GU2023, em análise que incluiu 805 pacientes, randomizados para TALA + ENZA (n= 402) ou PBO + ENZA (n=403). Os autores descrevem que a SLPr foi melhor no braço TALA versus placebo (mediana não alcançada vs. 21,9 meses, respectivamente; HR, 0,63; IC 95%, 0,51–0,78; P<0,001). Quando considerados apenas os pacientes com HRR deficiente, a SLPr também favoreceu o braço TALA (HR, 0,46; 95% CI, 0,30–0,70; P<0,001), assim como demonstrou resultados em pacientes com HRR desconhecido ou não deficiente (HR, 0,70; 95% CI, 0,54–0,89; P=0,004). A análise em pacientes sem deficiência de HRR evidenciou benefício do grupo TALA + ENZA em relação ao grupo controle (HR, 0,66; IC 95%, 0,49–0,91; P=0,009).

Os dados de sobrevida global ainda são imaturos, com mortes em 30,6% (TALA) e 32,0% (PBO), HR (0,89 [95% CI, 0,69–1,14; P=0,35]). Taxas de resposta objetiva, resposta de PSA ≥50% e tempo para progressão do PSA, uso de quimioterapia citotóxica subsequente e terapia antineoplásica favoreceram o braço TALA + ENZA vs PBO + ENZA.

Em relação ao perfil de segurança, 71,9% (TALA + ENZA) e 40,6% (PBO + ENZA) tiveram eventos adversos (AEs) de grau 3-4. Os AEs de grau ≥3 mais comuns foram anemia, baixa contagem de neutrófilos e plaquetas (TALA + ENZA) e hipertensão, anemia e fadiga (PBO + ENZA). Os AEs levaram à descontinuação do TALA em 19,1% dos pacientes (vs. PBO em 12,2%). As taxas de descontinuação de ENZA foram de 10,8% no braço TALA + ENZA versus 11,0% no braço PBO + ENZA. O tempo médio para a deterioração clinicamente significativa definitiva no estado de saúde global/qualidade de vida (GHS/QoL) foi maior com TALA + ENZA vs PBO + ENZA (30,8 vs 25,0 meses, respectivamente; HR, 0,78; 95% CI, 0,62–0,99; P=0,04).

“TALA + ENZA demonstrou melhora clínica e estatisticamente significativa na SLPr em relação ao grupo PBO + ENZA como tratamento de primeira linha em pacientes com mCRPC, independentemente do status de HRR, enquanto atrasa o tempo para piorar a qualidade de vida (GHS/QoL). Não houve novos sinais de segurança, com toxicidade geralmente manejável”, destacam os autores.

José Mauricio Mota, chefe do grupo de tumores geniturinários do ICESP/FMUSP e médico titular da Oncologia D’Or, observa que ainda é necessário compreender melhor os resultados aparentemente controversos dos estudos que utilizaram combinações de inibidores de PARP em primeira linha para pacientes com mCRPC em pacientes sem alterações em genes de reparo de DNA. “Temos atualmente 2 estudos que evidenciaram ganhos de sobrevida livre de progressão radiográfica (TALAPRO-2 e PROPEL), e um estudo que não demonstrou benefício nessa população sem alteração em genes de reparo (MAGNITUDE). Considerando os possíveis eventos adversos e custos relacionados ao tratamento, é necessário cautela com a implementação dessas opções na prática clínica em pacientes não selecionados”, conclui.

Informações sobre este ensaio clínico: NCT03395197.

Referência: TALAPRO-2: Phase 3 study of talazoparib (TALA) + enzalutamide (ENZA) versus placebo (PBO) + ENZA as first-line (1L) treatment in patients (pts) with metastatic castration-resistant prostate cancer (mCRPC)
First Author: Neeraj Agarwal
Meeting: 2023 ASCO GU Cancers Symposium
Session Type: Oral Abstract Session
Session Title: Oral Abstract Session A: Prostate Cancer
Track: Prostate Cancer- Advanced,Prostate Cancer- Localized
Sub Track: Therapeutics
Clinical Trial Registration Number: NCT03395197

Citation: J Clin Oncol 41, 2023 (suppl 6; abstr LBA17)
DOI 10.1200/JCO.2023.41.6_suppl.LBA17
Abstract #: LBA17