Onconews - LuPSMA +ENZA no câncer de próstata metastático resistente à castração

Flavio CarcanoEstudo destacado no ESMO 2023 avaliou a atividade e segurança da combinação de enzalutamida (ENZA) com dosagem adaptativa de LuPSMA versus (vs) ENZA isoladamente como tratamento de primeira linha para pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração (mCRPC). Os resultados mostram que o braço combinado atingiu seu principal endpoint de sobrevida livre de progressão do PSA e apoiam o uso de LuPSMA em dose adaptativa junto com ENZA como primeira linha de tratamento no mCPRC. “É um estudo importante, que prova um conceito do sinergismo da combinação de Lutécio PSMA associado a enzalutamida, e traz também um conceito adaptativo do uso do PSMA”, explica o oncologista Flávio Carcano (foto), médico do Oncocentro e do Cancer Center Oncoclínicas, em Belo Horizonte e Nova Lima, MG.

Nesta análise, foram inscritos pacientes com mCRPC sem tratamento prévio e que receberam quimioterapia ou abiraterona e/ou docetaxel no cenário hormônio sensível, com doença positiva para 68Ga-PSMA na tomografia por emissão de pósitrons (PET) e com pelo menos 2 fatores de risco associados à progressão precoce a ENZA.

Os pacientes elegíveis foram randomizados (1:1) para ENZA 160 mg por dia (somente ENZA) ou ENZA 160 mg/dia mais dose adaptativa de LuPSMA 7,5 GBq nos dias 15 e 57, com mais 2 doses de LuPSMA se doença persistente positiva para PSMA no PET 68Ga-PSMA provisório (dia 92) (ENZA + LuPSMA). O endpoint primário foi a sobrevida livre de progressão do PSA (SLP-PSA). Endpoints secundários incluíram sobrevida livre de progressão radiológica (rSLPS), taxas de resposta PSA50% e PSA90% (PSA50RR, PSA90RR), eventos adversos (EA) e sobrevida global (SG).

Resultados

De agosto de 2020 a julho de 2022, foram randomizados 162 pacientes, com idade média de 71 anos (faixa 45-96), 54% receberam docetaxel prévio e 13% abiraterona prévia.

A taxa de falha de imagem foi de 18% (40/220). Ao todo, 16% (13) dos pacientes receberam entre 2-3 doses de LuPSMA e 81% (67) receberam 4 doses. A mediana de acompanhamento foi de 20 meses (IQR 18-21).

Os resultados apresentados no ESMO 2023 mostram que a SLP-PSA foi superior com ENZA + LuPSMA vs ENZA isoladamente (mediana 13 vs 7,8 meses; HR 0,43 [IC 95% 0,29-0,63], p<0,001). PSA 50RR e PSA90RR foram maiores com ENZA + LuPSMA vs. ENZA isoladamente: 93% (77/83) vs 68% (54/79) (p<0,001) e 78% (65/83) vs 37% (29/79) (p<0,001) respectivamente.

“É um resultado importante, considerando que o endpoint de queda de 50% do PSA ocorreu em mais de 90% dos casos, e isso é bastante significativo, trazendo também o LuPSMA, cuja atividade já conhecíamos em linhas posteriores no câncer de próstata resistente à castração, agora para primeira linha em combinação com o novo agente hormonal enzalutamida, que já é largamente conhecido pelos oncologistas, seja no manejo, seja pelos resultados, tanto no cenário sensível, quanto no resistente à castração”, analisa Carcano.

Eventos adversos foram relatados em 33% (27/81) dos pacientes que receberam ENZA + LuPSMA versus 35% (28/79) daqueles tratados apenas com ENZA.

“A adição de dosagem adaptativa de LuPSMA (2-4 doses) a ENZA melhorou a SLP-PSA, PSA50RR e PSA90RR aprimorados. Nossos dados apoiam o uso de LuPSMA em dose adaptativa junto com ENZA como primeira linha de tratamento no mCPRC”, concluem os autores.

Este estudo está registrado na plataforma Clinical Trials: NCT04419402.

Referência: LBA84 - Enzalutamide and 177Lu-PSMA-617 in poor-risk, metastatic, castration-resistant prostate cancer (mCRPC): A randomised, phase II trial: ENZA-p (ANZUP 1901)