Onconews - Hospital Perola Byington mostra evidência de mundo real

luiz henrique gebrimO mastologista Luiz Henrique Gebrim (foto) é autor sênior de estudo de mundo real que analisou dados de 4.885 pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo Her2 negativo em um hospital público brasileiro. Os resultados indicam que discussões sobre a incorporação de medicamentos consolidados na literatura são importantes para melhorar o tratamento do câncer avançado.

O câncer de mama receptor hormonal positivo Her2 negativo, também descrito como câncer de mama luminal, é o tumor mais frequente, correspondendo a cerca de 60-65% dos casos. Há grande heterogeneidade nesses tumores e diferença substancial entre os tratamentos, principalmente nos países em desenvolvimento, em razão das desigualdades no acesso.

Os ensaios clínicos são importantes para compreender o benefício dos tratamentos, mas apenas 5% dos pacientes com câncer de mama estão inscritos nesses ensaios, daí a importância crescente de dados do mundo real. 

Neste estudo retrospectivo, de coorte única, foram incluídos pacientes do sexo feminino com mais de 18 anos de idade, com diagnóstico de câncer de mama luminal. Para descrever tratamentos e sobrevida global (SG), foram coletados dados clínicos e patológicos (data do diagnóstico, primeiro tratamento, tipo de tratamento, estágio, tipo de cirurgia, sobrevida livre de doença (SLD) e sobrevida global (SG).

Os pesquisadores consideraram dados do Hospital Perola Byington, no período de 2010 a 2021. Após excluir pacientes sem registros mínimos completos, foram analisados 4.885 pacientes. A maioria foi diagnosticada em estádio I (26,9%) e II (38,2%). Houve 23,4% no estágio III, 3,1%

no estágio IV e 5,7% no estágio 0. Em 2,6%, as informações do paciente não estavam completas. A média de idade ao diagnóstico foi de 57,6 anos. A análise identificou 4.761 (86,4% de 5.510) pacientes que foram submetidos a 4.848 procedimentos cirúrgicos. Do total, 47,2% foram mastectomias, 50,9% mastectomias parciais e 1,9% foram mastectomias poupadoras de pele. A reconstrução imediata foi feita em 470 pacientes (69,8% foram submetidos à reconstrução com expansor, 22,3% com rotação de retalho e 7,9% com reconstrução com implantes).

O tempo médio e mediano entre o diagnóstico e o início do tratamento variou, sendo que os pacientes diagnosticados nos estágios I, II e IV tiveram a mesma média de 2,6 meses, mas o estágio IV teve a menor mediana, de 1,9 meses. 474 pacientes foram tratados em primeira linha durante o acompanhamento, 43% receberam terapia hormonal (TH) e 57% receberam quimioterapia (QT) como primeira linha. A duração do tratamento em primeira linha foi de 17,7 meses para terapia hormonal e de 7,7 meses para quimioterapia (p < 0,01). Pacientes diagnosticados nos estágios I e II não atingiram a mediana de sobrevida global no período analisado, enquanto nos pacientes nos estágios III e IV, Gebrim e colegas descrevem uma mediana de 80,4 meses e 41,2 meses de sobrevida global, respectivamente.

“Estes são os primeiros resultados desta grande coorte de pacientes atendidos em um centro de referência público. A maioria dos pacientes é diagnosticada no estágio I ou II e mais da metade é submetida à cirurgia conservadora. A reconstrução imediata não é rotineiramente realizada”, destacam os autores, acrescentando que os inibidores de CDK4/6 não estão disponíveis no ambiente público, o que levou a mais uso de quimioterapia em primeira linha (57%) e pior sobrevida na comparação com dados de ensaios clínicos.

Referência: PO2-17-08 -A retrospective analyzes of 4,885 patients of hormonal receptor Positive, her2 negative breast cancer treated in a reference center, a Real-world data.