Onconews - Oncocentro analisa a qualidade do programa de rastreamento do câncer de mama em SP

mamografia 23O rastreamento do câncer de mama está relacionado à idade, histórico familiar da doença, índice de massa corporal e densidade mamária. Estudo da Fundação Oncocentro apresentado no SABCS 2023 analisou fatores que podem afetar a sensibilidade do rastreio mamográfico, fornecendo informações valiosas que devem ser consideradas ao planejar um programa de rastreamento do câncer de mama.

No Brasil, há dados limitados disponíveis sobre possíveis fatores que podem influenciar a sensibilidade da mamografia e, consequentemente, a qualidade geral do programa de rastreamento do câncer de mama.

Neste estudo, o objetivo dos pesquisadores foi realizar uma análise de sensibilidade, comparando resultados de mamografias de rastreamento com diagnósticos de câncer de mama. Todos os resultados de mamografia e biópsia no estado de São Paulo em 2013 foram obtidos do Sistema Brasileiro de Informações sobre Câncer de Mama (SISMAMA).

A análise considerou informações sobre idade (< 50, 50-59, 60-69 ou 70+ anos), tipo da lesão (sólida, cisto ou calcificações), tamanho da lesão (<10mm, 11-20mm, 21-50mm ou >50mm), limites da lesão (definidos ou indefinidos), características da lesão (regulares ou irregulares) e densidade da mama (gordurosa/predominantemente gordurosa ou densa/predominantemente densa). Além disso, o estudo avaliou o uso de terapia hormonal (sim ou não), tratamento radioterápico (sim ou não), etnia (caucasiana, asiático ou negro), escolaridade (analfabeto, ensino fundamental completo, ensino médio completo ou ensino superior completo), tipo de pele (retraída, espessada ou normal) e tipo de mamografia (simples ou computadorizada).

“Nossa análise focou em mamografias classificadas como BI-RADS 4, BI-RADS 5 e naquelas com resultados inconclusivos, que posteriormente levaram a uma biópsia para diagnóstico”, esclarecem os autores. A concordância entre mamografias e resultados de biópsia (sensibilidade) foi avaliada pelo cálculo da proporção de resultados verdadeiramente positivos. Para comparar a sensibilidade entre diferentes estratos de variáveis, foi utilizado o teste Qui-Quadrado e a medida V-Cramer.

Os resultados revelam que um total de 6.064 mulheres com BI-RADS 4, BI-RADS 5 ou resultados de mamografia inconclusivos foram submetidas a procedimentos de biópsia de mama para diagnóstico de câncer. Nesse universo, os pesquisadores descrevem que 3.414 (56,3%) foram falsos positivos, 1.765 (29,1%) foram verdadeiros positivos e 885 (14,6%) foram resultados inconclusivos.

A sensibilidade do rastreio por mamografia não foi significativamente associada à etnia, escolaridade, tipo de mamografia, tipo de pele ou radioterapia prévia. No entanto, uma proporção maior de resultados falsos positivos foi associada à alta densidade mamária (71,2%), lesões irregulares com limites definidos (87,5%), particularmente calcificações (68,7%) menores que 10 mm (67,5%). Por outro lado, resultados verdadeiramente positivos

estavam associadas a lesões sólidas (87,1%) e irregulares com limites indefinidos (82,1%), frequentemente maiores que 50 mm (57,2%) em mamas gordurosas (82,7%). Uma proporção importante de resultados inconclusivos foi associada à presença de mamas densas/predominantemente densas (88,4%) e lesões irregulares com limites indefinidos (87%), particularmente lesões sólidas (89,8%) variando de 21 a 50 mm de tamanho (60,8%).

A análise mostra que resultados falsos positivos e inconclusivos foram mais prevalentes entre mulheres com menos de 50 anos (79,8%) e em uso de terapia hormonal (54,8%), em comparação com verdadeiros positivos.

“Este estudo tem certas limitações, incluindo a disponibilidade de dados relacionados à densidade e morfologia das lesões, bem como ao índice de massa corporal no banco de dados do SISMAMA, que podem impactar a sensibilidade da mamografia”, observam os pesquisadores. Além disso, destacam limitações quanto ao número substancial de valores faltantes para etnia e educação na base de dados do SISMAMA.

“Identificamos associações entre falso-positivo e resultados inconclusivos em mamografias de rastreamento e fatores como idade, densidade mamária, tamanho da lesão, tipos de lesões e terapia hormonal. Esses resultados fornecem informações valiosas sobre fatores potenciais que podem afetar a precisão das interpretações da mamografia e devem ser considerados ao planejar um programa de rastreamento do câncer de mama”, concluem.

Os pesquisadores Alice Câmara, Lise Cury e Victor Filho são os autores do trabalho.

Referência: PO2-29-03 - Factors Affecting the Mammography Sensitivity and the Quality of the Breast Cancer Screening Program in the State of São Paulo, Brazil