Estudo brasileiro selecionado para o SABCS 2023 buscou avaliar se pacientes com síndrome de Li-Fraumeni com câncer de mama apresentam maior frequência de status HER2-low. Luciana Auresco (na foto, à direita) e Renata Bonadio, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e ICESP/USP, são coprimeiras autoras do trabalho.
O status HER2-low ganhou importância como alvo para conjugados de anticorpo-medicamento (ADCs) direcionados a HER2 no câncer de mama. É observada em aproximadamente 60% dos tumores receptor hormonal positivo (HR+) e 30% dos tumores receptor hormonal negativo (HR-). Alguns estudos sugerem que o status HER2-low, por si só, não influencia a biologia ou o prognóstico do tumor.
O câncer de mama no contexto da síndrome de Li-Fraumeni (LFS) tem sido caracterizado por um enriquecimento na doença HER2-positivo (HER2+, definido como +3 na imunohistoquímica [IHQ] ou +2 no IHQ com hibridização in situ positiva [ISH]).
Este estudo de coorte retrospectivo-prospectivo incluiu pacientes com diagnóstico de câncer de mama que tinham uma variante da linhagem germinativa TP53 patogênica/provavelmente patogênica e foram tratados em duas instituições de câncer entre 1999 e 2023. Os endpoints primários foram determinar a proporção geral do status HER2-low e sua distribuição de acordo com o status do receptor hormonal. HER2-low foi definido como IHQ +1 ou IHQ +2 com ISH negativo.
Resultados
Cinquenta e três pacientes (52 mulheres e 1 homem) foram incluídos no estudo. A variante germinativa TP53 mais comum foi a TP53 R337H (71,7%). A idade mediana ao diagnóstico do câncer de mama foi de 39 anos (variação de 21 a 62). A maioria dos pacientes apresentava câncer de mama sem tipo especial (79%) ou carcinoma lobular (11,3%), grau 2 (54,7%) ou grau 3 (24,5%) e estágio I-II (67,9%).
Os subtipos de câncer de mama seriam classicamente classificados como HER2+ em 34%, HR+HER2- em 58,5% e câncer de mama triplo negativo (TNBC) em 7,5% dos pacientes. Amostras de biópsia foram obtidas do tumor primário em 96,3% dos casos e de linfonodos em 3,7%.
No geral, 15,1% dos casos apresentavam status HER2-low, 34% eram HER2-negativo e 17% eram HER2-negativo sem detalhes de IHQ (Tabela). Num cenário hipotético, assumindo que todos os casos sem detalhes de IHQ eram HER2-low, a frequência máxima estimada de status HER2-low seria de 32,1%.
Entre os pacientes HR+HER2- com IHQ detalhada, 36,4%% tinham status HER2-low. Todos os quatro pacientes com TNBC exibiram status HER2-zero.
Em síntese, a frequência de status HER2-low nesta coorte de pacientes com síndrome de Li-Fraumeni com câncer de mama foi menor do que o previsto. “Estes resultados sugerem que, embora o desenvolvimento do câncer de mama no contexto das variantes germinativas do TP53 pareça estar associado à amplificação do HER2, não tem impacto nas expressões mais baixas de HER2”, afirmaram os autores.
“Esta observação reforça o conceito de que o status HER2-low não parece desempenhar um papel significativo como impulsionador da tumorigênese. Uma maior expansão da coorte do estudo e da análise patológica está planejada para confirmar esses achados”, concluíram.
O estudo teve participação dos oncologistas Renata Colombo Bonadio, Camila Moniz e Jennifer Dos Santos, do IDOR; Vanessa Petry, Laura Testa e Maria Del Pilar Estevez-Diz, do ICESP/USP. O oncologista Rodrigo Santa Cruz Guindalini é o autor sênior do trabalho.
HER2-positive n (%) | HER2-low n (%) | HER2-zero n (%) | HER-negative | |
Overall cohort | 18 (34%) | 8 (15.1%) | 18 (34%) | 9 (17%) |
HR+HER2- BC (n=31) | - | 8 (25.8%) | 14 (45.2°/o) | 9 (29%) |
TNBC | - | 0 (0%) | 4 (100%) | 0 (0%) |
Referência: PO4-15-10 HER2-low Status among Patients with Li-Fraumeni Syndrome and Breast Cancer.