Apresentado na Sessão Presidencial do WCLC 2023, o estudo MARS2 (Mesothelioma And Radical Surgery 2), multicêntrico e randomizado, avaliou a efetividade e o custo-efetividade da cirurgia (pleurectomia e decorticação extensa, radical) em pacientes com mesotelioma pleural localizado. O cirurgião torácico Riad Younes (foto) comenta os resultados do trabalho.
Por Riad Younes
Infelizmente, o mesotelioma pleural continua sendo uma doença de alta letalidade. Atualmente, o tratamento padrão inclui a quimioterapia sistêmica com pemetrexede e platina, com ou sem abordagem cirúrgica. O real papel da cirurgia no manejo de paciente com mesotelioma pleural localizado não está claro, apesar de estudos retrospectivos limitados terem identificado alguma vantagem.
Até recentemente, somente dois estudos randomizados foram completados e não encontraram benefício claro de aumento de sobrevida nos pacientes submetidos a pleuro-pneumectomia, com ressecção extrapleural, ou a pleurectomia parcial limitada. Os autores destes estudos descreveram pequena evidência de melhor qualidade de vida no grupo operado.
O estudo MARS2, multicêntrico e randomizado, teve por objetivo comparar a efetividade e o custo-efetividade da cirurgia (Pleurectomia e Decorticação Extensa, Radical), contra um grupo sem tratamento cirúrgico. Ambos grupos receberiam quimioterapia sistêmica baseada em pemetrexede e platina. O estudo tem como desfecho primário a sobrevida global, e como desfechos secundários a qualidade de vida, a segurança (efeitos colaterais e complicações) e a sobrevida livre de progressão, além do uso de recursos nos primeiros dois anos após a inclusão.
Os resultados desta pesquisa foram apresentados por Eric Lim (foto), do Royal Brompton Hospital, no Reino Unido, no Congresso Mundial de Câncer de Pulmão (WCLC 2023), realizado em Singapura pela Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão (IASLC).
Neste estudo, os pesquisadores incluíram 335 participantes com mesotelioma ressecável, todos recebendo quimioterapia baseada em platina e pemetrexede, sendo 169 pacientes randomizados para pleurectomia e decorticação extensa, e 166 para apenas quimioterapia. Os pesquisadores acompanharam os pacientes por uma mediana de 22,4 meses. Todos os pacientes foram incluídos para análise Intention-to-Treat.
Os pacientes randomizados para cirurgia e quimioterapia exibiram uma sobrevida mediana de 19,3 meses, enquanto aqueles randomizados apenas para quimioterapia demonstraram uma sobrevida mediana de 24,8 meses. No entanto, os riscos de morte não foram proporcionais, levando à apresentação dos resultados primários em dois intervalos de tempo: randomização até 42 meses e além de 42 meses. A análise indicou aumento de 28% no risco de morte no grupo de cirurgia nos primeiros 42 meses, enquanto nenhuma diferença significativa na sobrevida surgiu após 42 meses.
Além disso, a pesquisa revelou disparidades significativas na sobrevida livre de progressão e nos eventos adversos entre os dois grupos. O grupo de cirurgia apresentou uma incidência 3,6 vezes maior de eventos adversos graves (CTCAE grau 3 e superior) e relatou pior qualidade de vida em várias escalas de saúde global e de qualidade de vida da EORTC, incluindo análises de funcionamento físico e funcionamento. O grupo de cirurgia também apresentou piores escores de sintomas como dor, dispneia, insônia, perda de apetite e dificuldades financeiras. O custo do grupo operado foi elevado, em mais de 20.000 USD.
Em síntese, Lim e colegas concluíram que pleurectomia e decorticação extensa não deveria mais ser oferecida a pacientes com mesotelioma pleural, indicando que, ao classificar esta doença como “irressecável” desde o início, aumentaria o acesso a tratamentos sistêmicos mais eficazes para melhorar a sobrevida de pacientes, mesmo com doença em estágio inicial.
Tendo em vista os estudos randomizados já publicados, incluindo MARS2, a abordagem cirúrgica no mesotelioma pleural parece não ter papel claro no momento, aguardando melhores tratamentos sistêmicos e melhor seleção de pacientes potencialmente beneficiados por abordagem cirúrgica eventual.
Referência: PL03.10MARS 2: A Multicentre Randomised Trial Comparing (Extended) Pleurectomy Decortication versus No Radical Surgery for Mesothelioma - E. Lim, D. Waller, K. Lau, J. Steele, A. Pope, C. Ali, R. Bilancia, M. Keni, S. Popat, M. O'Brien, N. Tokaca, N. Maskell, L. Stadon, A. Nakas, D. Fennell, J. Edwards, S. Tenconi, L. Socci, R. Rintoul, K. Wood, A. Stone, D. Muthukumar, C. Ingle, P. Taylor, L. Cove-Smith, R. Califano, Y. Summers, Z. Tasigiannopoulos, A. Bille, R. Shah, L. Fuller, J. Shamash, A. Macnair, T. Mansy, R. Milton, P. Koh, A.A. Ionescu, S. Treece, A. Roy, G. Middleton, A. Kirk, R. Harris, K. Ashton, B. Warnes, E. Bridgeman, K. Joyce, N. Mills, D. Elliott, N. Farrar, E. Stokes, V. Hughes, A. Nicholson, C. Rogers on behalf of the MARS 2 Trialists