O oncologista Pedro De Marchi (foto) é primeiro autor de estudo selecionado para apresentação em pôster no WCLC 2023, que descreve dados de mundo real da epidemiologia molecular das mutações KRAS em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) atendidos na Oncoclinicas.
O gene KRAS é o proto-oncogene mais frequentemente mutado no CPNPC. Essas mutações estão fortemente relacionadas à exposição ao tabaco e a um pior prognóstico. Na população brasileira, estudos recentes mostram que as mutações em KRAS ocorrem em 20-30% dos casos, enquanto a variante KRAS G12C, que é acionável, é encontrada em 7-10%. Nesta análise, os pesquisadores buscaram mapear dados sobre a epidemiologia molecular do KRAS a partir de sequenciamento de próxima geração (NGS) e associá-los com resultados clínicos.
Foram incluídos todos os pacientes com CPCNP cujo perfil molecular foi testado por NGS tecidual (painel GS180, ArcherDX®) na OC Precision Medicine (São Paulo, Brasil). A coorte prospectiva incluiu pacientes testados de janeiro/2022 a dezembro/2022. Os dados de tratamento e sobrevida foram extraídos da base de dados da Oncoclinicas (Oncoclincas datalake). O desfecho primário foi sobrevida global (SG) na população KRAS G12C tratados com intenção paliativa (doença avançada/metastática). Desfechos secundários incluíram as características demográficas e clínicas e o padrão de comutações KRAS. O método de Kaplan-Meier foi utilizado para análise de sobrevida e estatística descritiva para análise de dados epidemiológicos e clínicos.
Os autores descrevem que 533 pacientes tinham painel GS180 e foram elegíveis para o estudo. Destes, 140 apresentaram mutações em KRAS (26,2%). Variante KRAS G12C foi a mais comum (7,7%), seguida por KRAS G12D (5,8%). A frequência de co-mutações em TP53, STK11 e KEAP1 foi de 30,7%, 24,2% e 12,1%, respectivamente. A expressão de PD-L1 (SP263) foi <1% em 52,4% dos casos. Na população com mutação KRAS, a mediana de idade ao diagnóstico foi de 73 anos, a maioria dos pacientes eram do sexo feminino (56,4%), brancos (78%), majoritariamente com histórico de exposição ao tabaco (83,1%) e com diagnóstico de CPCNP localmente avançado/metastático (74,1%) com histologia de adenocarcinoma (93,6%).
Em relação aos padrões de tratamento, a maioria dos pacientes recebeu combinação de quimioterapia e imunoterapia em primeira linha (56%), seguida de quimioterapia (29%) ou imunoterapia isolada (11%). Até o momento, 38% chegaram à segunda linha. Apenas três pacientes receberam TKI anti-KRAS em linha sequencial.
Com acompanhamento mediano de 7 meses, a mediana de SG desde o início da terapia paliativa de primeira linha foi de 15,0 meses para a população KRAS G12C (IC95% 11-NA), 17,2 meses (10-NA) para mutação KRAS não-G12C e 19,4 meses (12-NA) para KRASwt (p>0,1 todas as comparações).
“Em uma coorte de 533 pacientes com amplo painel NGS, encontramos a mesma incidência de mutações KRAS no CPCNP conforme relatado anteriormente em dados nacionais. A mutação KRAS predominante foi G12C e a co-mutação mais frequente foi no gene TP53. Os pacientes brasileiros com CPCNP KRAS G12C apresentaram tendência de pior sobrevida que a população KRASwt, mas poucos pacientes receberam terapia alvo. É necessário um acompanhamento mais longo para comparar formalmente essas populações”, concluem os autores.
Referência: EP03.06-06 - KRAS-B: Molecular Epidemiology and Clinical Outcomes of KRAS-Mutant Non-small Cell Lung Cancer (NSCLC) in Brazil - P. De Marchi, P. Aguiar Jr, R. Duarte Paes, T. Montella, N. Gimenes Afonso, I. Santos Negreiros, F.L. Vasconcelos Visani, I. Favato Barcellos, G.G. Viana Veloso, M. Xavier Reis, C. Mathias, M. Zalis, R. Dienstmann, C. Gil Ferreira