Osimertinibe melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão (SLP) de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com mutação de EGFR em estágio III, irressecável, tratados com quimiorradioterapia e pode ser um novo padrão de tratamento para essa população. É o que apontam os resultados do estudo de fase 3 (LAURA) destacado em Sessão Plenária no ASCO 2024, demonstrando mediana de SLP de 39 meses no grupo osimertinibe (osi) em comparação a 6 meses no grupo placebo. Após 12 meses, 74% dos pacientes tratados com osi não apresentavam progressão da doença, contra 22% no grupo controle.

Mutações de EGFR ocorrem em até um terço dos pacientes com CPCNP estágio III irressecável. O tratamento de consolidação com durvalumabe é o padrão de cuidados para pacientes que não apresentam progressão após quimiorradioterapia concomitante (cCRT), mas o benefício da imunoterapia de consolidação permanece incerto para CPCNP com mutação de EGFR (EGFRm), com dados limitados disponíveis.

Neste estudo global de fase 3 (LAURA; NCT03521154) duplo-cego, controlado por placebo (PBO), o objetivo foi avaliar a eficácia e segurança de osimertinibe no CPCNP EGFRm com doença estágio III, irressecável,  sem progressão após QRT definitiva baseada em platina.

Foram inscritos pacientes adultos (≥18 anos); (≥20 no Japão), com bom status de desempenho (PS 0/1 da OMS), com CPCNP EGFRm com doença estágio III (Ex19del/L858R) irressecável, que receberam QRT concomitante/sequencial definitiva baseada em platina, sem progressão.

Os pacientes elegíveis foram estratificados (estágio IIIA vs IIIB/IIIC; chinês vs não chinês) e randomizados 2:1 para receber osimertinibe (osi) 80 mg ou placebo (PBO), até a progressão (por revisão central independente cega – BICR) ou descontinuação. Imagens, incluindo ressonância magnética cerebral, foram obrigatórias no início do estudo, a cada 8 semanas até a semana 48, depois a cada 12 semanas, até a progressão avaliada por BICR. O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão (SLP; RECIST v1.1) avaliada por BICR. Os desfechos secundários incluíram sobrevida global (SG) e segurança. O corte de dados foi em 5 de janeiro de 2024.

Os resultados revelam que 216 pacientes foram randomizados para osi n=143 ou PBO n=73. A idade média dos participantes foi de 62 anos no braço osimertinibe e de 64 anos no braço placebo. As características basais foram equilibradas entre os braços osi/PBO: mulheres 63/58%, estágios IIIA 36/33%, IIIB 47/52%, IIIC 17/15%, Ex19del 52/59%.

O tratamento com osi melhorou significativamente a SLP por BICR (HR 0,16; IC de 95% 0,10, 0,24; p<0,001). A SLP mediana foi de 39,1 meses (IC de 95% 31,5, não calculável) para osi vs 5,6 meses (IC de 95% 3,7, 7,4) para PBO. A taxa de SLP em 12 meses foi de 74% (osi) vs 22% (PBO); a taxa de SLP em 24 meses foi de 65% (osi) vs 13% (PBO). A SLP avaliada pelo investigador (HR 0,19; IC de 95% 0,12, 0,29; p nominal < 0,001) foi consistente com a SLP avaliada por BICR. O benefício de SLP foi consistente em todos os subgrupos predefinidos.

A análise de SG interina (maturidade de 20%) mostrou tendência a favor de osi (HR 0,81; IC de 95% 0,42, 1,56; p = 0,530); 81% dos pacientes (braço PBO) receberam osi após a progressão.

Eventos adversos foram relatados em 98% vs 88% dos pacientes; EAs de grau ≥ 3 em 35% vs 12%; EAs graves em 38% vs 15% para osi vs PBO, respectivamente. EAs de pneumonite por radiação (termo agrupado): 48% (osi) vs 38% (PBO), maioria Grau 1/2. Quaisquer EAs que levaram à descontinuação foram relatados em 13% vs 5% para osi vs PBO, respectivamente.

Em conclusão, osimertinibe após quimiorradioterapia definitiva demonstrou melhora clínica e estatisticamente significativa na SLP em pacientes com CPCNP EGFRm estágio III irressecável, sem sinais de segurança inesperados. Esses resultados estabelecem osi como o novo padrão de cuidados para CPCNP EGFRm neste cenário.

"Atualmente, não há tratamentos direcionados aprovados especificamente para CPCNP com mutação de EGFR em estágio III irressecável. Com os resultados de eficácia superiores, juntamente com a magnitude robusta do benefício no estudo LAURA, osimertinibe fornece solução para uma grande necessidade não atendida dessa população de pacientes", disse o autor principal do estudo, Suresh Ramalingam, do Winship Cancer Institute da Emory University, em Atlanta.

Referência:

Osimertinib (osi) after definitive chemoradiotherapy (CRT) in patients (pts) with unresectable stage (stg) III epidermal growth factor receptor-mutated (EGFRm) NSCLC: Primary results of the phase 3 LAURA study
Abstract #: LBA4
DOI: 10.1200/JCO.2024.42.17_suppl.LBA4