A terapia de consolidação com durvalumabe após quimiorradioterapia (CRT) demonstrou melhora na sobrevida global e sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer de pulmão de células pequenas em estágio limitado em comparação com o atual padrão de tratamento com CRT isolada. “Este é o primeiro estudo a mostrar eficácia da imunoterapia nessa população de pacientes”, afirmou David Spigel (foto), diretor científico do Sarah Cannon Research Institute, em Nashville, e principal autor do estudo.

O padrão de tratamento (SoC) para pacientes com câncer de pulmão de células pequenas (CPCP) em estágio limitado é a quimiorradioterapia à base de platina concomitante (cCRT) ± irradiação craniana profilática (ICP).

O estudo multicêntrico de Fase 3 ADRIATIC (NCT03703297), global, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo (PBO), avaliou durvalumabe (D) ± tremelimumabe (T) como tratamento de consolidação para pacientes com CPCP em estágio limitado que não progrediram após cCRT. No ASCO 2024 foram relatados os resultados da primeira análise interina planejada (IA) de durvalumabe versus placebo.

Eram elegíveis pacientes elegíveis como CPCP estágio I-III (estágio I/II inoperável) e perfomance status WHO 0/1, sem progressão após cCRT. A irradiação craniana profilática foi permitida antes da randomização. Os pacientes foram randomizados entre 1 e 42 dias após a quimiorradioterapia para um dos três braços: durvalumabe (D) 1.500 mg + placebo (PBO), D 1.500 mg + tremelimumabe (T) 75 mg ou PBO + PBO a cada 4 semanas (Q4W) por 4 ciclos, seguido por durvalumabe (braços D±T) ou placebo Q4W até progressão determinada pelo investigador, toxicidade inaceitável ou por um máximo de 24 meses.

Os primeiros 600 pacientes foram randomizados na proporção 1:1:1; os pacientes subsequentes foram randomizados 1:1 para durvalumabe ou placebo. A randomização foi estratificada por estágio (I/II vs III) e recebimento de irradiação craniana profilática (sim versus não). Os endpoints primários duplos foram sobrevida global (SG) e sobrevida livre de progressão (SLP; por revisão central independente e cega de acordo com RECIST v1.1) para durvalumabe versus placebo. SG e SLP para durvalumabe + tremelimumabe versus placebo foram desfechos secundários.

Resultados

Foram randomizados 730 pacientes, incluindo 264 para durvalumabe e 266 para placebo. As características basais e o tratamento prévio foram bem equilibrados entre os braços. O esquema de radiação nos braços durvalumabe versus plaebo foi uma vez ao dia em 73,9% versus 70,3% dos pacientes e duas vezes ao dia em 26,1% vs 29,7%; 53,8% dos pacientes em cada braço receberam irradiação craniana profilática.

Nesta análise interina (cutoff de dados em 15 de janeiro de 2024), a duração mediana (intervalo) do acompanhamento para SG e SLP em pacientes censurados foi de 37,2 (0,1–60,9) e 27,6 (0,0–55,8) meses, respectivamente.

A sobrevida global foi significativamente melhorada com durvalumabe em comparação com placebo; mediana de SG 55,9  versus 33,4 [25,5–39,9] meses; taxa de SG de 24 meses 68,0% vs 58,5%; taxa de SG de 36 meses 56,5% vs 47,6%).

A mediana de sobrevida global foi de 55,9 meses (95% CI 37,3 – não estimável) nos pacientes que receberam durvalumabe e 33,4 meses (25,5–39,9) nos pacientes que receberam placebo (HR 0,73 [95% CI 0,57–0,93]; p = 0,0104). A taxa de SG em 36 meses foi de aproximadamente 57% no grupo durvalumabe e 48% no grupo placebo.

A SLP também foi significativamente melhorada com durvalumabe versus placebo (HR 0,76 [95% CI 0,61–0,95]; p = 0,0161). A mediana de SLP foi de 16,6 [95% CI 10,2–28,2] com durvalumabe versus 9,2 [7,4–12,9] meses para os pacientes que receberam placebo. A taxa de SLP em 24 meses foi de cerca de 46,2% no grupo durvalumabe e 34,2% no grupo placebo. O benefício do tratamento foi geralmente consistente em subgrupos de pacientes pré-definidos para SG e SLP.

A taxa de efeitos colaterais graves foi praticamente a mesma em ambos os grupos (24,3% para durvalumabe versus 24,2% para placebo. Cerca de 16% dos participantes do grupo durvalumabe interromperam o tratamento devido a efeitos colaterais, em comparação com 11% no grupo placebo. Cerca de 38% dos participantes do grupo durvalumabe desenvolveram pneumonite em comparação com 30,2% no grupo placebo. A taxa de pneumonite grave, considerada grau 3 ou 4, foi semelhante entre os dois grupos (3,0% no grupo durvalumabe e 2,6% no grupo placebo).

O braço durvalumabe + tremelimumabe permanece cego até a próxima análise planejada.

Em síntese, durvalumabe como tratamento de consolidação após cCRT demonstrou uma melhora estatisticamente significativa e clinicamente significativa na sobrevida global e sobrevida livre de progressão em comparação com placebo em pacientes com câncer de pulmão de células pequenas estágio limitado.

“Durvalumabe foi bem tolerado e os eventos adversos foram consistentes com o perfil de segurança conhecido, sem novos sinais observados. Estes dados apoiam a consolidação com durvalumabe como novo padrão de tratamento para pacientes com CPCP estágio limitado que não progrediram após cCRT”, concluíram os autores.

O estudo foi financiado pela AstraZeneca.

Referência:

Abstract #LBA5 - ADRIATIC: durvalumab (D) as consolidation treatment (tx) for patients (pts) with limited-stage small-cell lung cancer (LS-SCLC).

First Author: David Spigel

DOI: 10.1200/JCO.2024.42.17_suppl.LBA5