Onconews - Pesquisa brasileira analisa adesão de pacientes em cuidados paliativos a estudos auto-relatados (PROs)

Diante da crescente utilização de resultados relatados eletronicamente pelo paciente (ePROs), estudo brasileiro selecionado em poster no ESMO 2024 avaliou sua integração na prática de cuidados paliativos em uma rede de assistência oncológica. Os resultados foram apresentados por Sarah Ananda Gomes (foto), médica líder nacional de Cuidados Paliativos do Grupo Oncoclínicas, e destacam a necessidade de promover o envolvimento do paciente e melhorar a adesão às avaliações do ePRO no contexto de cuidados paliativos.

A pesquisa teve como objetivo identificar os determinantes vinculados à adesão à utilização do ePRO em uma rede de câncer no Brasil. Foram elegíveis pacientes com câncer sólido metastático com sobrevida esperada de mais de 3 meses. Esses pacientes foram inscritos em avaliações mensais de ePRO usando uma escala validada ( Integrated Palliative Outcome Scale  - IPOS). Pacientes que não conseguiram concluir as avaliações receberam um lembrete. Análises de regressão multivariada foram utilizadas para examinar os fatores que influenciam a adesão. As características do paciente (idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade e tipo de câncer), juntamente com as respostas iniciais no IPOS, foram incluídas como preditores. O tempo de acompanhamento em cuidados paliativos foi controlado na análise.

Os resultados revelam que 494 pacientes foram incluídos na análise, com idade média de 67 anos (variação: 22-94). A maioria era do sexo feminino (56,1%), casada (58,9%) e tinha pelo menos o ensino médio (77,7%). Os diagnósticos mais frequentes foram de câncer gastrointestinal (33,2%), mama (20,2%) e geniturinário (14,8%).

Os pacientes tiveram um seguimento mediano em cuidados paliativos de 10,5 meses (intervalo: 3-63 meses). Os pesquisadores descrevem que a idade mais jovem (β = -0,3, EP = 0,01, p = 0,004), sexo feminino (β = -0,7, EP = 0,36, p = 0,03) e ensino superior (β = 0,1, EP = 0,06, p = 0,009) foram associados a maior adesão ao ePRO. Curiosamente, a menor pontuação na avaliação inicial foi associada ao aumento da adesão ao ePRO (p = 0,002). Pacientes com perda de apetite (β=0,4, EP=0,18, p=0,01), com um familiar ansioso (β=0,3, EP=0,16, p=0,03) e expressando desejo por mais informações (β=0,2, EP=0,11, p=0,04) também demonstraram maior adesão ao ePRO.

“Nossos achados ressaltam a necessidade de abordagens personalizadas para promover o envolvimento do paciente e melhorar a adesão às avaliações de ePRO em ambientes de cuidados paliativos”, concluem os pesquisadores, acrescentando que pesquisas adicionais explorando intervenções direcionadas a esses fatores podem melhorar a integração de ePRO na prática clínica de rotina.

Referência: 

1489P - Factors influencing adherence to electronic patient-reported outcomes in palliative cancer care

Speakers: Sarah A. Gomes (Belo Horizonte, Brazil)